Raiva, apego, ignorância, inveja, orgulho

por Lama Tsering
Tpm #142

Um texto sobre o que são os venenos da mente, segundo o budismo tibetano

Os venenos da mente implicam algo que não é realmente bom para nós e nos levam a ter um comportamento não saudável. São tóxicos e perigosos e causam um declínio do bem-estar físico e mental. Sabemos que muitos venenos, quando usados em medidas exatas e em situações controladas, são a base de medicamentos que curam. O mesmo acontece com os venenos da mente, se soubermos lidar com eles.

De acordo com os ensinamentos budistas, existem 84 mil venenos da mente, sendo cinco os venenos principais: raiva, apego, ignorância, inveja/ciúme e orgulho. O veneno fundamental é a ignorância, que leva ao egoísmo (ou apego), que por sua vez leva à raiva. Esses são os três venenos principais, que juntos produzem o orgulho e o ciúme.

Também são três os métodos espirituais para lidar com os venenos da mente. Dependendo da pessoa, um deles é o mais apropriado.

O primeiro deles é evitar os venenos.

A pessoa se abstém e evita qualquer situação que a leve a sentir ódio, inveja, orgulho etc. Pode parecer fácil, mas nem sempre é.

Outra maneira é transformar os venenos em estados mentais positivos.

Egoísmo e avareza, por exemplo, podem ser transformados em generosidade e compartilhamento – que, por sua vez, amplificam outras qualidades positivas.

O terceiro método é usar o próprio veneno como caminho.

O próprio veneno – por exemplo, a raiva – tem uma essência perfeita, que é um estado de bem-estar. É como o veneno usado para fazer o remédio.

Algumas pessoas se dão melhor evitando o veneno – é o que conseguem fazer. Mas nem sempre esse é o método mais eficiente. Um exemplo: se nosso chefe nos irrita, podemos evitar encontrá-lo ou sorrir para ele, mas, ao voltar para casa, acabamos chutando o cachorro. Evitar e reprimir, neste caso, não funciona muito bem. Seria melhor usar um sistema de conversão ou de liberação – convertendo o veneno em uma qualidade, ou liberando 
o veneno em sua própria essência.

A utilização desses métodos requer educação e compreensão. É preciso entender o que nos faz mal e o que nos faz bem. Hoje em dia, a grande maioria não acredita nisso e pensa: “Se acharem que sou mau e poderoso, vão ficar com medo e não me prejudicarão”. Mas não importa o quanto você possa aterrorizar as pessoas: no fim das contas, você se tornará vítima da própria energia, que será uma toxina dentro de seu sistema. Você pode achar que está afugentando inimigos, mas na realidade está se tornando mais vulnerável.

Um treinamento eficaz é o de reconhecer que tudo tem uma essência perfeita. Logo, a única maneira de combater os venenos da mente é usando sua própria essência pura. É como ter medo de uma sombra. Se começarmos a usá-la como um escudo e proteção ou brincar de fazer outras formas com ela, sem perceber já a transformamos. Percebemos que aquela sombra que gerava medo é apenas uma ausência de luz.

Como tudo, apesar de se manifestarem externamente de forma bruta, os venenos da mente têm uma essência perfeita. Mesmo que não consigamos enxergar, a perfeição permeia tudo – essa é a base do caminho espiritual.

*Norte-americana de 59 anos que vive no Brasil desde 1995, Lama Tsering é da escola Vajrayana do Budismo Tibetano e coordena o centro Odsal Ling, em São Paulo: www.odsalling.org

Créditos

Foto: Pedro Pacheco

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