Precisamos falar (muito) sobre ageísmo

por Nina Lemos

”Na véspera de fazer 46 anos, aviso: vai ter luta contra o preconceito com a idade, sim. Estamos juntas, Madonna! E não vamos parar de causar”

Tem coisas que são tão horríveis que a gente prefere não tocar nelas para não angustiar. Mas chegou a hora. Precisamos falar (e muito) de ageísmo.

Ageísmo é preconceito contra a idade, julgar alguém porque ela é velha (alguns teóricos englobam como vítimas do preconceito os mais jovens. Mas os mais atacados são os mais velhos mesmo, vamos deixar claro).

Escrevo isso na véspera de fazer 46 anos. E espero não receber comentários do estilo: “nossa, mas você é tão corajosa por assumir a idade”. Se você falar isso, vou achar que você pressupõem que a minha idade é alguma coisa ruim. E esperem! Eu só tenho 46, gente. Eu não sou (ainda) velha. Pretendo um dia ser, porque não quero morrer jovem. Mas, por que eu falo disso?

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Porque falei outro dia sobre ser over qualified. Meu aniversário chegando. Acendeu a luz.

O ageísmo começa a te pegar depois que você tem 40 (ou até antes) por mil e uma uma razões. E se você é mulher em um país tipo o Brasil, desculpem, mas é pior.

Eu tenho umas 100 amigas de mais de 40 que são lindas, legais, inteligentes, que estão solteiras e muitas vezes sem sexo há anos. Pesquisas mostram que casar depois dos 40 para uma mulher é tão difícil, que é mais fácil você ser atingida por um raio (vem meteoro!). E olho meus amigos de mais de 40... a maioria está cheia de gatinhas.

Então, basicamente, se você tem mais de 40, que não banque a louca de querer trabalhar com algo novo, nem pense em ter namorado (pode ser que role, mas vai ser difícil, raro, um case).

Eu devia ter uns 38 quando uma cabeleireira do Rio me disse algo do tipo: “ah, é bom você ficar com cabelo comprido mesmo agora, porque depois você não vai poder”. Murmurei alguma coisa e demorei para entender o que ela falava. Mas, sim. Eu devia aproveitar a chance de ter cabelo longo enquanto podia, porque velha não pode ter cabelão. Não sei explicar o que senti. Talvez pena da cabeleireira, mas ali nunca mais voltei.

Deve ser por isso que me comovo com as senhoras de cabelo verde em Berlim e garanto, juro mesmo, que vou ser uma delas.

Você pode ver no comentário de qualquer portal: quando uma atriz supergata de mais de 40 aparece, está escrito junto que ela exibe corpo incrível aos 45 anos, como se isso fosse uma espécie de milagre, loucura. A verdade é que eles gostariam de escrever: exibe corpão (apesar de) ter 45 anos.

A modelo e celebridade Alemã Heidi Klum, 43, deu uma declaração que poderia ser boba essa semana, mas não é. “Vou mostrar a barriga até depois de ter 60 anos.” Aplausos.

Viva ela e viva Madonna, a musa mor na causa contra o ageísmo (sim, é uma causa). Aos 58 anos, esse ano ela foi de bunda de fora ao baile de gala do Met, em um protesto contra o preconceito de idade, e lascou: “eu fui provocativa a minha vida inteira, vocês acham mesmo que vou deixar de ser agora?”

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