Patrícia Abravanel: ''Não tenho a menor pretensão de ser como meu pai''

por Malu Vergueiro
Tpm #153

Ela foi expulsa da escola, começou e largou três faculdades, morou fora, já foi casada com filho de pastor, e - como esquecer - sequestrada. Neste perfil você vai conhecer a mulher além da filha de Silvio Santos.

Não faz muito tempo, durante um voo rumo às férias em um desses resorts do tipo all inclusive na Ilha de Comandatuba, na Bahia, Patrícia Abravanel se deu conta de que havia esquecido de colocar o tênis na bagagem. O que fazer sem o item fundamental para as corridinhas pela manhã? Ela não teve dúvidas. Chamou a aeromoça, perguntou quanto ela calçava e se por um acaso teria um par a bordo. Por sorte, o número do pé bateu e não é que a comissária tinha um tênis na mala? Oferta de R$ 500 reais por um modelo já bem rodado, negócio fechado e problema resolvido. É mais ou menos dessa forma que, aos 37 anos, a filha número quatro (são seis) de Silvio Santos costuma levar a vida. Ela não tem muito filtro, não se preocupa com julgamentos, tem grana e uma espontaneidade que muito faz lembrar a do pai – não é a toa que a neoapresentadora tem caído 
nas graças da audiência, conquistado o público fiel do SBT e sido vista como a promessa da emissora. "Se a aeromoça não tivesse um tênis, eu sairia pelo avião perguntando para os passageiros. Não estou nem aí para a opinião dos outros. Não sei se isso é bom ou ruim, mas essa sou eu."

Patrícia nos recebeu no SBT, em uma quarta-feira, dia de gravação do programa que comanda atualmente, o Máquina da fama, que vai ao ar todas as segundas-feiras, às 11 da noite, e que mantém o segundo lugar na audiência do horário há 41 edições (de um total de 47), desde que foi lançado, no fim de 2013. Ela também tem cadeira cativa no "Jogo dos pontinhos", um dos quadros de maior sucesso no Programa Silvio Santos, em que pai e filha interagem se avacalhando e arrancando gargalhadas da plateia. E mais: vira e mexe a herdeira substitui Silvio Santos no Roda a roda Jequiti – e sem baixar a audiência. Antes disso, conta no currículo com a apresentação do Festival SBT 30 anos, Cante se puder e alguns merchandisings do Grupo Silvio Santos.

"Não estou nem aí para a opinião dos outros. Não sei se isso é bom, mas essa sou eu"

A estreia diante das câmeras aconteceu em 2011. Até então ela havia trabalhado em áreas administrativas de algumas empresas do Grupo. Patrícia passou pela Jequiti Cosméticos, participou do projeto de implantação do hotel Jequitimar, no Guarujá, litoral de São Paulo, e também bateu ponto no banco PanAmericano, vendido para o BTG Pactual em 2011, depois que veio à tona uma fraude bilionária que fez com que Silvio Santos colocasse todos os seus bens como garantia para cobrir o rombo. Sobre o escândalo, Patrícia diz sem se estender: "O que aconteceu foi um susto, uma grande decepção". A virada que a colocou de frente para as câmeras, ela garante, veio depois de um papo informal em família. "Sempre existiu uma vontadezinha de ser apresentadora, mas nunca tive coragem de assumir. Até o dia em que falei e meu pai perguntou por que não fazer um teste. Fiz e me achei simpática no vídeo. Eu tinha medo da reação dele. Não achei que iria me encorajar tanto."

A visita às dependências de Seu Silvio mexe com o coração de qualquer brasileiro pré-TV a cabo, ainda mais quando se dá de cara com o Roque (lenda viva da televisão, assistente de palco que trabalha ao lado do dono do baú há 60 anos) logo na entrada. São quase 2 horas da tarde e a plateia já começa a se posicionar: meninas, em sua maioria com saias curtíssimas, saltos nas alturas e chapinha. Entre diretores, assistentes, produtores, câmeras, balé, iluminadores, seguranças, a turma do cenário e as chefes das caravanas, o staff é gigante, cerca de 150 pessoas. 
Assistindo ao programa na TV – uma competição musical entre sete cantores amadores que se transformam em covers de seus ídolos – não se faz ideia da grandiosidade da produção que está por trás. Enquanto nossa entrevistada não aparece, aproveitamos para perguntar para o rapaz do cenário como é a Patrícia. "Você não conhece ela, não? Pensa numa pessoa humilde. Igualzinha ao pai. Cumprimenta todo mundo, que nem o Silvio. Tem uns apresentadores aí que nem olham na cara, mas ela não", revela o rapaz, que trabalha na casa há quase dez anos.

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1, 2, 3: gravando!

Por volta das 15h30 surge a dona da festa. Bem magra e mais baixa do que aparenta na TV – ela tem 1,60 metro de altura. A bordo de um vestido de onça, antes mesmo de subir no palco ela vai conversar com a plateia. Quer saber de onde são, faz umas gracinhas, olha para a cara de uma garota e diz que se lembra dela na plateia de um programa passado. "É sempre assim. Ela ama brincar com o público. Se deixar fica horas com a plateia", conta Lucas Gentil, diretor artístico do Máquina da fama. Responsável pelos shows do programa, é Lucas também quem dirige Patrícia quando ela se transforma em artistas famosas, entre elas Shakira, Carmem Miranda e Whoopi Goldberg. Não é toda semana que ela se fantasia, mas a prática faz parte da receita da atração. "O legal é que a Patrícia quer sair da zona de conforto. Ela sempre topa os desafios", conta ele.

E a gravação começa. A essa altura, a pedido do diretor, a onça já era. Não ficou legal no vídeo. O vestido agora é preto com muito brilho, para alegria do patrão. "Meu pai adora brilho e detesta salto muito alto", revela Patricia, durante o papo que vai rolando nos intervalos. Segundo ela, é somente esse tipo de crítica que Silvio Santos costuma fazer. "Ele dá palpite na roupa, principalmente no sapato. O que ele sempre diz é que vou aprender mesmo é com a experiência." E quem tem ajudado muito neste processo é Michael Ukstin, diretor--geral do Máquina da fama, escolhido a dedo por Silvio Santos. "Ele me ligou e pediu para dirigi-la. Imagina a responsabilidade. Então, decidi tratá-la como a minha quarta filha. Prometi cuidar, conversar e dar broncas, assim como faço com as três que tenho em casa." Segundo Micha, como Patrícia costuma chamá-lo, a relação entre eles é de muita cumplicidade e jogo aberto. "Ela estava bem crua no começo e sabe que ninguém vira apresentador do dia para a noite. Mas acho que a evolução é nítida. Eu vejo muita coisa do Silvio nela", completa.

E de fato tem. Mas ninguém arrisca dizer que Patrícia é a versão feminina do patrão. Nem de longe. Mas não há como negar seu carisma, a semelhança do sorriso, a empatia com o público e a falta de papas na língua quando está no ar. "A Patrícia é a sucessora artística nata do Silvio Santos", diz José Armando Vannucci, crítico de TV. "Os telespectadores gostam dela justamente porque conseguiu captar do Silvio aquela linguagem mais próxima das pessoas. Ela tem um futuro promissor na televisão e acredito que será uma grande apresentadora", conclui. Sobre substituir o pai a resposta sai rápido: "Não tenho a menor pretensão de ser como ele. Até porque seria impossível. Não existe receita para ser Silvio Santos. Ele tem um brilho especial. Quanto a mim, sou só um pouquinho dele na televisão", diz Patrícia. O pai é só elogios – e sarro, claro: "Patrícia na televisão é muito mais do que eu esperava. Ela vai fazer nome. Tem um bom futuro na TV e também vai ser política, porque gosta e agora tem até um marido político. Quando tiver uns 50 anos, vai ser pastora, porque está na alma dela", profetiza Sílvio Santos. Nessa altura, já são quase 10 horas da noite e a agravação ainda não terminou.

"Acho a igreja evangélica aqui no Brasil muito cheia de regras. Não frequento mais"

Da infância, ela só tem boas lembranças. Já depois... "Fui muito rebelde. Acho que eu tinha muita energia para gastar e aprontava todas na escola. Quando repeti a quarta série, me lembro que era a época da febre do minibuggy. Todas as minhas irmãs ganharam, menos eu. Meu pai fez questão de não me dar. A gente não precisava ser a primeira aluna da classe, mas tinha que ter disciplina." Desde pequena, Patrícia estudou na tradicional escola americana Graded, no Morumbi, em São Paulo, até ser expulsa, no segundo colegial. "Eu queria chamar a atenção, era superbagunceira, da turma do fundão que agitava a classe inteira. Como o comportamento não estava bom e nem as notas, chamaram meus pais e não teve jeito, fui expulsa. Foi um trauma."

Aos 16 anos, foi para a Suíça para um intercâmbio de quatro meses. De volta ao Brasil, terminou o colegial e então resolveu fazer faculdade de administração em Londres. Não gostou do clima da cidade e deu meia-volta. Por aqui, entrou em publicidade na Faap. Não curtiu. Mudou então para o curso de administração. Também não rolou. "Aí me casei e fui morar nos Estados Unidos, em Virgínia. Lá concluí os cursos de administração e comunicação."

Com direito a vestido de noiva e cerimônia, Patrícia se casou aos 25 anos com Phillipe Carrasco, filho dos pastores e fundadores da Vida Nova, igreja evangélica que ela frequentava na época e que conheceu alguns anos antes por meio de sua mãe, Iris Abravanel. O casamento durou sete anos. Da igreja, também virou ex. "Foi um tempo muito bom. Uma oportunidade de sair da bolha e enxergar as necessidades do outro. Mas, acho a igreja evangélica aqui no Brasil muito cheia de regras. Não frequento mais."

Há pouco mais de um ano, a apresentadora vive com o deputado federal do Rio Grande do Norte Fabio Faria, ex de Adriane Galisteu, Sabrina Sato e Priscila Fantin. A história começou via Facebook, depois que ele mandou uma mensagem demonstrando certo interesse. Com o pé atrás por conta da fama de mulherengo do político, Patrícia não caiu na lábia de cara. Até as flores que ele mandou – cujo cartão dizia "Você já tem a minha audiência, agora eu quero conquistar o seu voto" – tiveram efeito contrário. "Achei péssimo! Como assim mandar flores? Ele nem me conhecia..." Mas aí começou um comentário no Instagram aqui, uma curtida ali, e o flerte rolou solto. Foi quando Patricia ouviu o sotaque nordestino que acabou se rendendo. O resultado? O pequeno Pedro, hoje com quase 8 meses. "O Fábio se mostrou um cara muito parecido comigo, com os mesmos valores. E foi aprovadíssimo pelo meu pai."

Sete dias no cativeiro

Autêntica, Patrícia faz questão de não se esquivar de nenhum assunto. O episódio do sequestro que ela sofreu em 2001, por exemplo, é um deles. Na ocasião, ela foi raptada em sua casa por bandidos disfarçados de carteiros e ficou sete dias em cativeiro. Ela fala com naturalidade sobre o episódio. "No sequestro eu tive uma experiência de fé muito forte. Fiquei firme e em paz porque tinha certeza de que iria sair bem. E não teve nada de síndrome de Estocolmo, como foi falado na época. As pessoas acharam isso só porque declarei que havia perdoado os sequestradores. E perdoei mesmo. Perdoar faz bem para quem perdoa. Óbvio que fiquei com medo, mas imagina ficar amarga por causa disso? 
Deus me livre." E nessa toada nem trauma restou. "Dois meses depois fui para um spa em busca de sossego. Fiz questão de andar sozinha na praia para não ter medo, para não ficar traumatizada. De verdade? O sequestro não é uma coisa que eu lembre muito."

E é com essa mesma determinação que ela encara a vida profissional. Até porque Silvio Santos criou suas filhas, todas com cargos no Grupo, para pegar firme no batente. "A gente não foi educada para ser dondoca. Nunca tivemos dinheiro fácil, sempre tivemos que trabalhar. Não tinha essa de ganhar carro zero quando fizesse 
18 anos. Quando casei pela primeira vez, fui morar em um apartamentico de 90 metros quadrados. Meu quarto na casa dos meus pais era maior. Mas era o que o meu marido podia bancar. E eu vivia com o meu salário, que na época era de R$ 2 mil", conta. "E quer saber? Foi a melhor coisa que ele fez. Na época eu não entendia. Hoje, acho o máximo", avalia. O que não quer dizer que ela não tenha uma bolsa de grife ou um relógio bacanudo. "Eu tenho. Gosto, compro e uso. Só não acho que precise de um monte de bolsas nem de um monte de relógios para ser feliz. Não sou mão de vaca, só consciente em relação ao dinheiro."

"A gente não foi educada para ser dondoca. Nunca tivemos dinheiro fácil, sempre tivemos que trabalhar"

E, por falar em consciência, tá aí uma coisa bem clara quando o assunto é o futuro dos negócios. "Eu e minhas cinco irmãs não somos herdeiras, mas sucessoras. Cada uma tem a sua função e estamos aprendendo, para na hora que ele tiver que passar o bastão – e eu espero que demore – seja um processo suave." Mesmo com toda a paixão que Patrícia demonstra pelo cargo atual, não esconde que o seu interesse maior é o sucesso das empresas como um todo. "A prioridade é o Grupo Silvio Santos. Estou feliz, gostando demais de ser apresentadora, amo o público. Mas se não der certo, se a minha atuação não estiver dando resultado, eu paro. Isso é apenas a minha profissão, não é a minha vida. O que eu quero é levar o legado do meu pai adiante. E se isso vai acontecer na frente ou por trás das câmeras, só o tempo dirá."

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