O fiscal do metrô

por Ana Manfrinatto

Em Paris, não basta pagar a passagem: tem que saber acondicionar o ticket em perfeito estado!

Não pulo a catraca nem passo por debaixo dela. Tampouco uso a corriqueira técnica de encoxar o transeunte pagante para aproveitar o vácuo na roleta. Quando compro passagem na máquina seleciono a tarifa que me cabe nesse latifúndio, a cheia, em vez de dar o migué de clicar em “estudante” e pagar meia.

Também não sigo as diversas contas de Twitter que avisam onde estão os fiscais do metrô (aqui chamados de controleurs) porque viajo sempre com a consciência tranquila. Até que um dia, numa dessas insalubres escadarias subterrâneas, dou de cara com uma barricada deles.

Fiscal: “Madame, posso ver o seu ticket?”
Ana: “Claro!”, digo, colocando a mão no bolso e encontrando três deles, todos dobradinhos.
Fiscal: “Ahgrvcbwte vcyiuh” diz, baixinho e em tom de irritação.
Ana: “Desculpe, não ouvi o que o senhor disse”...
Fiscal: “Inglês, espanhol...?” diz, bem irritado.
Ana: “Não, não, falo francês”, digo, pra que ele se irrite menos comigo.
Fiscal: “Por quê a senhora diz que fala francês se não entende o que eu digo”.
Ana: “Desculpa, senhor, é que eu não escutei”, digo, enquanto começo a desdobrar os papeizinhos no afã de descobrir qual era o último a ser utilizado.
Fiscal: “Olha, é probido dobrar o ticket” diz, furioso, tentando argumentar o inargumentável.
Ana: “Desculpa, senhor, eu não quis...”
Fiscal: “Você é espanhola?”, ele me interrompe.
Ana: “Não!”
Fiscal: “Latino-americana?”
Ana: “Sim”
Fiscal: “É, tem cara. Na próxima, não brinque com o ticket ou eu te multo”.

~Tá sertinho~

Talvez ele tenha brigado com a mulher. Talvez o faz-me-rir não tivesse caído na conta. Talvez algum ente querido estivesse doente ou talvez ele tenha acordado com o pé esquerdo. Normal, coisas que acontecem com todo mundo... mas, pô, me dar o maior esporro porque o meu erro foi ter dobrado a passagem é demais, né?

Por isso, ficam as dicas:

- Pagar a passagem.
- Sempre guardar o ticket: você nunca sabe quando vai dar de cara com um fiscal. Caso contrário, a multa custa ao redor de 50 euros e eles não tão nem aí se você é turista e não sabia. Leia relato aqui.
- Nunca, mas nunca, dobre a passagem.

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