por Renata Simões

Renata Simões declara seu amor pelo Japão e dá dicas imperdíveis pra quem sonha em visitar o país

Até hoje emociono ao entrar num restaurante japonês e ouvir Irashaimase. Aliás, quando entro num onde não berram isso já sei que é japa-de-butique, que uma carnavalização da culinária deve acontecer por ali. O “seja bem vindo” é dito alto não só para o cliente que entra, mas para todos os outros no salão saibam que aquela casa é respeitosa com quem lá vai.

O Japão (ou Nihon) é um país de inúmeros rituais cotidianos, um país que sempre me atraiu. Adoro a maneira que lidam com o tempo, o imaginário infantil de que eles estão de ponta-cabeça em relação à gente. Morar um mês em Tokyo para gravar o programa Urbano foi realização de vida, e desde que fui embora tenho pequenos surtos de saudade além da certeza que um dia volto para visitar não só Tokyo, mas Osaka, Kyoto... Um mês morando num apê de 32m2 e a admiração cresceu assim como a certeza de uma certa loucura nipônica.

A vida para quem é japonês é forte, cheia de regras a serem cumpridas sem questionamento que muitas vezes esmagam o indivíduo. O Japão é um país que ritualiza desde o happy hour da firma até a forma com que se troca cartões de negócios – descrevo o cerimonial abaixo para quando você for não dar gafe.

Uma coisa é certa: vá, divirta-se, aprenda, abra os olhos e o coração para um povo cordial e surpreendente, tradicional, novidadeiro e apaixonante. Watashi wa Nippon ga daisuki, ou Eu amo o Japão.

1. Shinjuku e Shibuya
Shibuya é mais conhecido, mas Shinjuku me atrai mais. Estou falando de dois bairros de Tokyo: Shibuya ficou famoso principalmente pelo filme da Sofia Coppola “Encontros e Desencontros”. É no bairro que se localiza o karaokê e o famoso cruzamento, o Shibuya Crossing, gente atravessando de todos os cantos – até na diagonal. Tem que fazer o cruzamento e tomar um café do outro lado em relação a estação de metrô vendo as pessoas passarem. Uma loucura.

Shinjuku é ainda mais comercial que Shibuya mas também mais underground. Em meio aos cafés e esquinas há os puteiros, e logo atrás Golden Gai, três ou quatro ruas com bares minúsculos. Shinjuku Ni Cho Me é onde fica a área gay.

2. Harajuko e Yoyogi
As meninas de Harajuko ganharam o mundo fantasiadas na revista Fruits. Embora seja um pouco adolescente, vale andar pela rua Tekishita Dori (dori = rua) onde ficam todas as lojas que vendem cabelos, fantasias e umas coisas boas perdidas. Se for domingo vá ao Yoyogi, parque ao lado, onde todas as tribos se reúnem e fazem picnic. Os rockabillys que ficam na entrada já até estrelaram clip de Peter, Bjorn and John.

3. Naka Meguro e Shimokitazawa
Bairros fofos e mais de locais. Naka Meguro tem as lojas de roupas e design que os japoneses consomem. O bairro é super tranquilo e vale a parada na Potager uma pâtisserie de doces de vegetais. Comi uma torta doce de beterraba com limão e era bom (juro!) e era lindo, claro! Shimokitazawa é o bairro das lojas de arte, pequenos restaurantes e brechós. Aliás, falando em brechó, se você ver uma loja da Rag Tag, entre. Não se arrependerá jamais.

Vai lá: "PATISSERIE POTAGER" / TOKYO- TO MEGURO- KU NAKAMI MEGURO 2-44-9  / TEL: 03-6279-7754  / www.potager.co.jp

4. Cat Café, Maid Café...
Uma loucura local é a quantidade de opções para se tomar café. Funciona como um lugar de refúgio na cultura local e por isso há vários temáticos. Por toda a cidade você encontra os cat-cafés – locais com diversos gatos incríveis onde as pessoas ficam lá por horas brincando e tomando café. É demi-freak mas vale a pena ir. Gente que sempre quis ter gato, executivos com lolitas, alguns solitários. A maioria fica dentro dos prédios, você tem que olhar as placas na entrada. Em Akihabara, bairro das lojas de mangás e de produtos eletrônicos, você esbarra em meninas vestidas como empregadas nas esquinas. Nos Maid Cafés só os homens podem entrar e vão lá para serem bem tratados. Sério, não há contato sexual mas elas os tratam como seus “senhores/maridos”. Alguns vão para a temática histórica – eu fui num mais “light” ambientado na era medieval. Na placa havia bem claro que os clientes não deveriam procurar as meninas fora dali e não tocar nelas em momento algum. How weird is that?

 

5. Abra os olhos
A dica mais importante do Japão é manter-se curioso e atento porque nada lá é o que parece. Os números das casas nas ruas, por exemplo, seguem a ordem da qual elas foram construídas, então muitas vezes a casa 1 está ao lado da 23. Vending machines trazem bebiba mas também camisetas e até guarda-chuvas. Um sobá de legumes pode usar porco para fazer o caldo  - minha diretora, vegetariana, que o diga, sofreu a moça. Sushi junto com sashimi é invenção ocidental, lá sashimi é em restaurante de peixe e sushi no restaurante de sushi – o do mercado de Guinza era o meu favorito. Há uma rua que atravessa pelo meio de um quarteirão, mantida porque ela foi construída na era Edo. O museu Ghibli traz um pouco da estória da animação japonesa e fica dentro de uma área da cidade que parece esquecida no tempo. O Gonpachi é o restaurante que o Tarantino copiou em Kill Bill e, embora um pouco turístico, vale a visita.

Museu Ghibli
1-1-83 Simorenjaku, Mitaka-shi,
Tokyo 181-0013
www.ghibli-museum.jp

Gonpachi
1-13-11 Nishi Azabu
www.gonpachi.jp

Ah, sim, sobre a troca de cartões. Japoneses trocam cartões o tempo todo, use as duas mãos para pegar o cartão e coloque-o dentro da bolsa, nunca no bolso, JAMAIS no bolso de trás da calça (gafe gravíssima). E quem é mais importante hierarquicamente passa o cartão por cima já que a troca é feita simultaneamente. Fácil né?

 

Renata Simões trabalha como jornalista, apresentadora e locutora.

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