Mulheres superpoderosas

por Aline Lara Rezende

Projetos femininos se destacam na What Design Can Do de Amsterdã. A conferência sobre o impacto social do design mostrou trabalhos pela paz em Ruanda e pela revolução digital na África

Queen Bey (Beyonce) já dizia, quem manda no mundo são as mulheres. Pelo menos foi isso que tivemos o prazer de ver mês passado, em Amsterdã, no What Design Can Do, uma conferência anual sobre o impacto social do design.

Foram elas que dominaram o evento com projetos ambiciosos, tanto no quesito extensão geográfica, quanto no conceitual. Ideias que vão desde uma proposta para mudar o sistema psiquiátrico da Holanda, até criar uma novela de rádio para promover a paz em Ruanda, ou provocar uma revolução digital na África. 

Uma edição do What Design Can Do está prevista para acontecer em São Paulo no final do ano. São as irmãs Manaíra e Bebel Abreu, da produtora Mandacaru, que estão por trás da edição brasileira.

A seguir, algumas histórias apresentadas em Amsterdã.

Nynke Tromp
Designer Social e Professora

“Todo design é social”, afirma com convicção do alto do palco para um auditório repleto. Nynke Tromp, designer social holandesa, explica que, querendo ou não, o design promove mudanças de comportamento de forma sistêmica na nossa sociedade. Para convencer a plateia, ela cita a crise de obesidade mundial, e relaciona isso com diversos produtos criados para facilitar nossa mobilidade—como o carro, o elevador e a escada rolante. O impacto do design pode tanto gerar problemas como solucionar alguns já existentes. Nynke quer que o design seja usado para combater os grandes problemas sociopolíticos e econômicos. E já provou que pode dar certo. 

Dentre os trabalhos que a designer apresentou, havia um projeto para melhorar o sistema eleitoral: a proposta é que cada eleitor votasse no dia do seu aniversário, evitando assim grandes gastos com campanhas políticas, já que não existiria um período especifico para promover o candidato. Por consequência, sem as campanhas, as promessas vazias de também desapareceriam. Outro projeto, buscava uma alternativa para contribuir na recuperação de pacientes com psicose: O temstem, um aplicativo para smatphone auxilia pessoas que ouvem vozes a lidar com esta condição. Este projeto foi o vencedor do Rotterdam Design Prize de 2013.

Nynke, que hoje é professora de Design Social e Mudança de Comportamento no departamento de Desenho Industrial da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, está trabalhando no re-design completo do sistema de saúde mental do país e pretende também oferecer um novo desenho para sistema penitenciário holandês.

Juliana Rotich
Tech Expert e Empreendedora

Juliana Rotich é uma força da natureza. Sua presença de palco e paixão pelo que faz são gigantescas, contrapondo sua voz suave e estatura mignon. O trabalho de Rotich envolve tecnologia, manipulação de dados, desenvolvimento de plataformas e conexões entre os diversos países da África. Mesmo com todas as dificuldades encontradas, ela segue firme rumo a seu objetivo: conectar digitalmente o continente Africano.

Juliana passou alguns anos trabalhando com análise de dados em Chicago. Quando retornou a seu país de origem logo criou o Ushahidi: uma plataforma originalmente desenvolvida para mapear o cenário violento pós-eleições de 2008 no Quênia. O projeto, que permite pessoas reportarem incidentes violentos usando SMS, acabou se tornando uma plataforma open source, gratuita, com acesso livre e traduzida em mais de 30 línguas, que opera hoje em 150 países. Para Juliana o único jeito de mudar o mundo é criando comunidades.

Ela apresentou ainda vários outros projetos de inovações técnicas relativamente simples, que tornam a vida mais fácil num continente onde 70% da população não está conectada à internet e 600 milhões não têm acesso a eletricidade. M-Pesa é praticamente uma carteira digital para pagamento de contas no Quênia. Hoje 40% do PIB passa por este aplicativo.

Ela é também uma das fundadoras do BRCK, um ponto de Internet que leva rede, tabletes e bateria para carregá-los até a pontos remotos do país. Sua missão é desenvolver projetos, resolver problemas e ajudar seus conterrâneos usando a tecnologia.

Eefje Blankevoort
Jornalista

A jornalista holandesa Eefje Blankevoort, co-fundadora da produtora de jornalismo Prospektor, é uma rebelde com causa. O primeiro projeto que ela traz ao palco questiona os fundamentos do jornalismo objetivo, baseado na simples reportagem dos fatos. Primeiro ela pergunta: “Podemos misturar jornalismo com ativismo?” e logo responde que "o importante não é apenas que história você conta, mas também como você conta." O projeto a que se refere é a “Rádio do Amor” que ela criou, juntamente com o fotógrafo Anoek Steketee. O projeto multimídia documentou em filme, texto, áudio, fotografia e internet (on-line) a famosa novela de rádio Musekewaya (Novo Amanhecer) e o dia-a-dia de seus ouvintes no processo de reconciliação pós-guerra em Ruanda. 

Seu projeto mais recente, Asielzoekmachine (A máquina da procura por asilo), tem como objetivo desvendar a complexidade do procedimento de asilo a refugiados na Holanda. O documentário multimídia e interativo convidou a população para participar enviando ideias para a melhoria da política de asilo a refugiados e resultou em dezenas de propostas. Sempre refletindo em como contar histórias para obter o maior impacto no público-alvo, Eefjet chama seus projetos de “jornalismo construtivo."

Selly Raby Kane
Fashion Designer

Selly Raby Kane é uma designer de moda do Senegal. Suas roupas e desfiles estão sacudindo o cenário fashion de Dakar, e colocando Senegal no mapa da moda. Foi ativista pelos direitos das crianças quando adolescente. Mais tarde, estudou administração de empresas e direito. Ela começou a desenhar roupas quando estava prestes a se tornar uma advogada, e a moda acabou virando o seu destino. Kane usa as ruas de Dakar e lugares antes abandonados para mostrar o seu trabalho expressivo, muitas vezes inspirado no afrofuturismo e ficção científica. Sempre em colaboração com músicos, DJs e artistas locais, Kane cria mundos imaginários para apresentar suas roupas, e, sem dúvida, compõe a cena de hip-hop e arte de rua da cidade. Alien Cartoon seu desfile mais famoso, foi montado numa estação de trem antiga, sob o tema “a invasão dos aliens.” Suas roupas e desfiles cinematográficos já foram elogiados pelas revista de moda e Beyonce foi flagrada em Nova Iorque vestindo suas roupas.

Vai lá:
Veja vídeos do What Design Can Do 2016

 

Créditos

Imagem principal: Leo Veger

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