Tpm

por Redação
Tpm #77

Parar o carro no meio da avenida e ir embora é tão absurdo quanto não respeitar vagas de deficientes. Elas não são capricho, mas necessidade

 
Será que um dia conseguiremos viver nas cidades brasileiras com urbanidade, respeitando qualquer pessoa? Nos Estados Unidos, um cidadão que pára seu carro na vaga de pessoa com deficiência e sai andando normalmente é xingado – e quase linchado –, sem contar que o carro pode ser multado e guinchado. Lá, mesmo que a pessoa saia do carro sem a cabeça, se não tiver a permissão de uso da vaga expedida pelo órgão competente, não adianta tentar convencer o guarda. Isso já aconteceu comigo.

No Japão, parar numa vaga indevida é o mesmo que estacionar seu carro no meio da avenida Paulista, bater a porta e ir embora. Isso é inconcebível como ferir a regra da lógica.

Quando chegamos a terras brasileiras, um número expressivo de pessoas acredita que respeitar essas vagas é tangenciar o absurdo.

Quando vários cadeirantes se encontram, mais forte que contar piada de loira ou de português é comentar a chacota humana baseada em fatos verídicos. Tipo shoppings e supermercados milagrosos, em que a pessoa chega mancando e, ao dispersar na multidão, fica curada.

O Zé Alberto, amigo cadeirante carioca, advertiu uma mulher que parava na vaga reservada. Ela deu as costas dizendo: “Ha, ha, ha, eu cheguei primeiro!”.

A Silvana, aqui de São Paulo, que há tempos convive com essas situações, lembra que sua mãe é sempre calma, mas ficou nervosa e constrangida certa vez ao avisar um homem que aquela vaga era reservada. Ele pôs as mãos na cintura e gritou bem pausadamente de forma enraivecida: “A senhora por um acaso é a dona do shopping?”. Minha outra amiga, Carla Sibelly, de Minas Gerais, pára o carro dela em local proibido e negocia com o segurança que só tira quando a vaga de deficiente estiver liberada. Acontece muitas vezes de termos que parar no meio de duas vagas comuns. Necessitamos dessas vagas não porque somos folgados, mas porque o espaço maior é indispensável para abrirmos a porta e fazermos a transferência do carro para a cadeira de rodas.

Reservado para grosserias
Já aconteceu de pararem na vaga com o estacionamento vazio. Depois que adverti o motorista, ele mudou para a vaga comum ao lado e saiu reclamando, indignado.

Esse tipo de comportamento não acontece só com vagas demarcadas. Outro dia, num banheiro de faculdade, tinha um box que cabia cadeiras de rodas e mais uns 30 comuns desocupados. Fiquei esperando aflita com o meu próximo compromisso e morrendo de vontade de fazer xixi. Saiu de lá uma moça toda maquiada com cara de razão. Por que as pessoas acham que para elas tudo é permitido? Ou então, como aconteceu num show, onde tive que cruzar uma multidão dançante para chegar à minha mesa. Com o som alto e sentada na cadeira seria difícil de ser notada, portanto, levaria inúmeras cotoveladas e safanões, além de trombar a cadeira na canela das pessoas. O bombeiro veio me ajudar abrindo alas, mas tive que ouvir uma mulher dizer: “Só porque é vereadora!”.

Essa falta de cortesia que reduz a pessoa ao folgado-mal-educado é a mesma que faz estacionar o carro na frente de guia rebaixada, jogar lixo na rua, não cuidar da própria calçada... Como não se pode multar dentro de estabelecimento privado, propus uma lei que permite multar os estabelecimentos que não cuidarem de suas vagas. Já foi aprovada na Câmara Municipal. É um incentivo às formalidades entre cidadãos de respeito e um convite à civilidade!
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