Lavagem da Madeleine

por Ana Manfrinatto

Fui conhecer a versão parisiense da lavagem do Nosso Senhor do Bonfim!


Ontem fui conhecer a Lavage de la Madeleine, evento que arrastou milhares (acho que não é exagero) de brasileiros radicados em Paris e franceses saudosos em um cortejo que começou às onze da manhã com direito a tambores, pais e mães de santo AND trio elétrico com Margareth Menezes. Tudo isso culminou com a lavagem das escadarias da igreja de la Madeleine às três da tarde.

Os amigos não quiseram ir porque já foram, já cobriram, já se cansaram ou não gostam. Mas eu tou aqui no meu primeiro ano em uma cidade nova e não queria perder a oportunidade de comer um pastelzinho de queijo (mimolette em vez de mussarela) a cinco euros. “É o preço da saudade”, tive que explicar pra minha mãe.

Friturinha de imersão à parte, queria mesmo era ver qualé. E é demais... bem organizado, os blocos suenan de puta madre e, sobretudo, é de arrepiar. São dessas cenas tão bonitas quanto improváveis: o pai de santo brasileiro ao lado do padre gringo e, como pano de fundo, uma igreja construída em 1764 com forma de templo clássico grego.

Nas escadarias, baianas, flores e guias. No alto falante, a oração do pai nosso em francês, português e iorubá. Ao redor, fiéis e não fiéis. No ar, essa vibe de respeito, devoção e alegria que dá vontade de pegar o primeiro voo pra Bahia. Margareth Menezes não poderia ter escolhido música melhor pra começar o ritual da lavagem.

Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar

Milagres do povo, do Caetano, caiu como uma luva pra ocasião. Seja o mais ateu dos ateus ou mais insensível dos insensíveis, #todosemociona. E nem te falo quando eu olhei pro lado e vi o muso do C.S.I., Gary Dourdan, amarradão tirando foto do bloco. Mas isso é outra história ;-)
 

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