Como foi ficar um ano offline

por Lia Hama
Tpm #171

Fotógrafa gaúcha conta a experiência de ficar um ano sem internet. Sim, ela curtiu!

Numa festa em Madri, Ana Oliveira Rovati é abordada por um homem que, num misto de favor com paquera, pede uma fotografia dele com os amigos (favor). Ela faz o retrato com o smartphone dele, ele agradece e diz: “Oye, voy a subir las fotos. Si me pasas tu Facebook te tageo” (paquera). “Lo siento, es que no tengo Facebook”, responde a fotógrafa gaúcha de 31 anos, acrescentando que só se comunica por telefone ou carta. “Bien que vi que eras vieja!”, responde o moço que nem pensa em aproveitar o momento ao vivo para dar continuidade ao approach (questionável) e se afasta indignado.

O episódio foi uma das muitas situações inusitadas enfrentadas por Ana desde que decidiu viver um ano sem internet, parte de um projeto artístico do curso que fez na Blank Paper, na Espanha. Este mês, quando termina a empreitada, Ana pretende voltar a usar o e-mail, mas vai se manter fora das redes sociais. “Me tornei uma pessoa mais segura sem Facebook e Instagram. Faço as coisas porque tenho vontade e não pra me exibir. Comecei a prestar mais atenção no mundo e as relações se tornaram mais verdadeiras”, conta a fotógrafa, que escreveu um diário, cartas e textos nesse período. Seu plano é contar a experiência em um livro e em uma exposição. Ana convida as leitoras de Tpm para trocar ideias sobre o tema. Por carta (endereço na foto acima). A seguir, trechos do diário:

“Sou brasileira e moro em Madri há alguns meses. Quando saí do meu país, minha mãe não chorou. Quando contei a ela que ia sair da internet, ela chorou.”

“Taí uma verdade da qual me dei conta hoje ao acordar: amanhã é o meu aniversário e eu não tenho Facebook. Se você é usuário desta ferramenta dos diabos, sabe sobre o que eu estou falando. Amanhã eu não receberei parabéns das pessoas. Eu não me sentirei especial.”

“Ganhei um pacote de Mijo (parecido com o couscous marroquino). Mas como se prepara algo desconhecido sem olhar no Google? Vou ler as instruções no pacote. Droga, estão em alemão. Vou ligar para as gurias para perguntar! Opa, não tenho WhatsApp e é caro ligar para a Alemanha.”

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