Taís Araújo: “Eu sou negra, tinha consciência do país em que nasci”

por Antonio Trigo
Tpm #156

Aos 36 anos e após o nascimento do segundo filho, a atriz prepara sua volta à TV e ao teatro em dois projetos ao lado do marido. Mais segura, ela fala sobre maternidade, sexo, casamento e racismo.

Há bem pouco tempo, Taís Araújo esquivava-se de parecer sensual. Mas isso foi mudando, e mudou. A atriz, que superou preconceitos desde que foi catapultada à fama, aos 17 anos, na extinta TV Manchete, encarnando Xica da Silva (1996), se tornou uma mulher forte, segura. E topou fazer o primeiro ensaio sensual de sua carreira. “Foco na sexualidade pode ser cruel. Adoro parecer mulherão, mas ser apenas isso é injusto”, fala.

Quando foi para a Globo, encarnou papéis menores até surgir como estrela em Da cor do pecado (2004) e, mais tarde, viver uma vilã em Cobras e lagartos (2006). Apesar do sucesso e burburinho ao seu redor, não costumava estampar capas de revistas. “Fui conquistando meu espaço com diplomacia. E sem essa de coitadinha. Eu sou negra, tinha consciência do país em que nasci”, afirma.

Foi só quando fez A favorita (2008) que passou a ter lugar cativo em capas de revistas, vencendo o mito de que artistas de pele escura derrubam números de circulação. Mesmo assim, por muito tempo, para estar em uma capa não bastava ser Taís, era preciso ter ao lado frases ligadas a inclusão social, superação. Teve uma revista que até afinou seu nariz – “patético”, ela lembra.

Quando, em 2009, foi chamada para viver uma das Helenas do autor Manoel Carlos, em Viver a vida, ganhou a mídia mais uma vez. Era um acontecimento: faria a primeira personagem de sua vida que poderia ser encenada também por uma atriz branca. Mas as críticas negativas que encarou na estreia jogaram sua autoestima no chão.

Taís sofreu, chorou, cancelou entrevistas, mas hoje vai assimilando que Helena não foi um fiasco – e ainda é uma de suas personagens mais lembradas. “Eu tinha uma limitação crítica na época. Estava frágil como atriz, nunca havia sido metralhada. Achava que minha carreira iria acabar.” Com o episódio, aprendeu que nem toda protagonista é uma boa escolha. Decidiu reconstruir quem gostaria de ser – e começou, entre outras coisas, a produzir teatro.

Em setembro, ela volta à TV na série cômica Mr. Brau, em que atua ao lado do marido, Lázaro Ramos. Ele faz um cantor popular; ela, um misto de esposa, dançarina e empresária. Em outubro, os dois estreiam em São Paulo a peça O topo da montanha, que recria o último dia da vida de Martin Luther King. No cinema, ela acaba de finalizar Ladrões de caneco, de Caíto Ortiz, sobre o roubo da taça Jules Rimet, e se prepara para filmar Empreguetes, consequência do sucesso da novela Cheias de charme (2012).

Embora agora o casal vá contracenar junto na televisão e no palco, eles evitam participar de muitos projetos em comum, uma forma de preservar a individualidade. “Encontrar outras pessoas e ter funções distintas areja a mente”, diz. Os dois se complementam na vida. “Acho que dei leveza a ele e ele me trouxe densidade.” De origens bem diferentes, venceram juntos seus próprios obstáculos: Lázaro perdeu o receio da televisão e ela imergiu cada vez mais no mundo dele.

Intimidade

O casamento já soma 11 anos. Taís conta que tremeu no dia em que Lázaro lhe enviou flores, enquanto ainda era noiva de outro homem. “Retribuí as flores e terminei meu noivado. Fiz tudo direitinho para a gente começar. E o Lázaro acreditou que eu era uma mulher direita”, gargalha. Os dois viveram uma separação de oito meses em 2008, mas o hiato foi importante para que reconhecessem o amor que sentiam um pelo outro. Eles voltaram e desde então têm o que ela define como um casamento normal, desses em que “ninguém é feliz o tempo inteiro”. Taís conta que aprender a conviver fez dela uma pessoa melhor. “Casamento é um ato de civilidade. É preciso reafirmar diariamente o respeito à individualidade.”

Por mais que consigam preservar seus espaços, quando quer dar um respiro na rotina, Taís viaja sozinha – por poucos dias. Esses momentos, ela diz, são raros. Mas necessários. Afinal, uma relação longa transforma até o sexo. “Nada supera a intimidade, ela possibilita estímulos que você não tem com a novidade. Ela é o ganho mais importante do meu casamento”, diz.

Mãe de João Vicente, 4 anos, e Maria Antônia, 6 meses, Taís afirma que a maternidade derrubou muitos de seus clichês. Inclusive aquele de que se é 100% alegre com os filhos. “Você se sente impotente com medo de não conseguir protegê-los. Acho que essa é a única prisão da maternidade, o medo. E é um sentimento super-humano”, diz.

No mais, sente-se uma mãe privilegiada, embora tenha sido impedida de amamentar a filha recém-nascida, por causa de antibióticos que teve que tomar após o parto para sanar uma infecção – o primeiro filho ela amamentou por mais de um ano. Quando se recuperou, tentou oferecer o peito, mas Maria Antônia preferiu a mamadeira. Taís quase entrou em depressão. “Mas fiz do limão uma limonada. Me recuperei, fui malhar, fazer dieta”, conta Taís. “A idade me fez gostar de ter bunda e detestar ser magrela. Mas acho que o que deve ser ótimo mesmo é ser gostosa aos 40”, ri.

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