Quem não faria?

por Pedro Só
Tpm #171

Bem-nascido, bem relacionado, bem-sucedido, bem-casado e em dia com o corpo sarado. Basicamente, Marcelo Faria não tem por que ficar vestido

Acostumado a atuar sem camisa em novelas desde o fim dos anos 80, Marcelo Faria tira de letra a nudez. “Fiquei cinco anos em cena pelado”, diz fazendo referência ao personagem Vadinho, na adaptação teatral de Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. “No próximo filme também fico nu em 70% das cenas”, adianta sobre o remake que produziu, com Juliana Paes no papel principal, e que tem estreia prevista para o primeiro semestre de 2017. “Andei pelado pelo set o tempo todo. Pra mim, não muda porra nenhuma ficar sem roupa”, resume o ator de 45 anos, com o jeitão jovial de surfista carioca inalterado.

A atriz Camila Lucciola, com quem é casado desde 2010, atesta essa naturalidade. “Quando minha irmã conheceu o Marcelo, a gente não tinha nem um mês de namoro. Fomos a Salvador e, quando ela entrou na sala da casa da minha mãe, ficou indignada: ‘Quem esse cara pensa que é? Tá de cueca vendo TV no sofá, com o controle remoto na mão!’. Ela achou um abuso”, lembra a atriz, rindo.

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Filho do ator Reginaldo Faria e da psicanalista Katia Achcar, Marcelo cresceu em um dos clãs com maior tradição no cinema brasileiro. O tio, Roberto Farias, começou ainda na Atlântida e foi o primeiro cineasta a presidir a Embrafilme. Marcelo faz jus à família, soube driblar os percalços da carreira na TV desenvolvendo uma trajetória vitoriosa de 23 anos como produtor de cinema e teatro. “Quando a gente [ele e o sócio Pedro Vasconcellos] começou, o cinema tinha quase zerado no país, era o cenário pós-Plano Collor. Não tinha Lei Rouanet. Eu, com 22 anos, saí batendo na porta das empresas e pedindo patrocínio”, lembra.

O teatro surgiu como caminho possível, e mudou sua vida também fora do âmbito profissional. Foi como produtor da peça A marca do Zorro que ele conheceu a mulher. Camila foi fazer um teste e o deixou “amarradão” logo de cara. “Lembro nitidamente. Ela estava com a calça rasgada aqui (aponta com a mão) na bunda. Era um teste muito físico, e ela, pô... arrasou. Fiquei encantado.”

Começaram a namorar em outubro de 2009 e decidiram se casar seis meses depois. Antes disso, Marcelo já havia convencido Camila, que é 13 anos mais jovem, a engravidar. “Ele queria muito ter filho. Então me convenceu... [risos] Olha que perigo”, brinca a atriz. Até pra isso os dois foram acelerados: “Eu estava filmando no Rio Grande do Sul, no inverno, ela nos dias férteis. Um frio do caralho, aquela pousada no Vale Vêneto, direto debaixo do cobertor... a gente tinha que transar, né?”, lembra Marcelo.

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Camila pisou na igreja de São Conrado em julho de 2010, já com sete semanas de gestação. E a vida a dois logo virou a três, com a chegada de Felipa, em 2011. Mas, no ano seguinte, o conto de fadas tomou um choque de realidade, e o casal ficou separado por oito meses. “A gente entendeu que queria estar junto, mas, naquele momento, não estávamos conseguindo. No fim do ano, voltamos”, conta Camila.

Marcelo sempre admirou a personalidade forte da mulher. “Queria alguém que acompanhasse meu ritmo, e o da minha família. Minha mãe é uma mulher superinteligente e superprotetora, meu pai é um ícone da TV; não dá pra ser mulherzinha nesse cenário. Ela chegou falando alto, não é de abaixar a cabeça. E foi assim que me conquistou.”

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A convivência, porém, exigiu adaptações. “Ela tem uma personalidade fodida, baiana, é escorpiana que nem eu... E a gente tem essa pegada forte, então os embates também são muito fortes... Mas não existe relacionamento sem crise. A gente tem é que saber subir e descer as montanhas sem machucar o outro”, comenta.

Sete anos depois do começo do relacionamento, ele sabe que o espaço para a individualidade é essencial, com direito a viagens sozinhos – no caso dele, envolvendo surf ou pesca. Momentos em ambientes separados na casa onde vivem – de frente para o mar, na avenida Niemeyer, perto de São Conrado, no Rio – também fazem parte do acordo.

O espaço para o outro é respeitado também na parte profissional. Como produtor da peça Por isso fui embora, que tem Camila no elenco em cenas quentes com os atores Joaquim Lopes e Flávio Rocha, Marcelo preferiu não acompanhar ensaios. “Como marido, poderia atrapalhar ou inibir. O Joca é meu amigo. Estar com a mulher do teu brother ali, com a mão na bunda... É uma merda, eu sei porque já tive que fazer uma porrada de vezes. Por mais que esteja vivendo o personagem, a tua consciência está ali. Exige técnica, mas é uma coisa muito no limitezinho do penhasco.”

Consciente desse aspecto “profissão perigo” do ofício, Marcelo tem um outro lado. “Ele é muito mais família do que eu. E é um grande pai”, elogia Camila. “É um cara que gosta de ficar em casa, curtindo. Ele me diz: ‘Vai gastar essa energia, vai dançar, vai sair pra ver gente’.” Ao mesmo tempo, é Marcelo quem faz questão de produzir escapadas a dois, sempre que as agendas permitem. “Curtir, beber um pouco, esquecer das horas na praia em Búzios, dizer ‘foda-se, vamos fazer o que a gente está a fim’... Isso reacende tudo”, vibra o ator, com uma pontinha de malícia no sorriso sempre solar.

De manhã cedo, antes de saírem para o ensaio fotográfico em um apartamento em Copacabana, no Rio, Camila perguntou ao marido: “Amor, será que a gente vai passar a impressão de ser um casal fodedor?”. Ele respondeu na lata, sem pestanejar: “Ué? E a gente não é?”.

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Créditos

Imagem principal: Jorge Bispo

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