Diga não ao mito da Mulher Solteira Bem Sucedida

por Nina Lemos

Sabe aquela menina que vive em reuniões, táxis, aviões e depois afoga a mágoa comprando sapatos? Você não precisa ser ela!

Ser solteira no Brasil não é fácil (isso porque ser mulher no Brasil é difícil no geral. Agora, ser mulher sem um homem… imagina!). A gente se sente um lixo. Um estorvo não aceito pela sociedade. São as perguntas nas festas de família e as porradas do nosso superego: “todo mundo namora menos eu”, “todas casaram menos eu”, “sou feia”, “sou fracassada”.

Se a gente está solteira no Brasil (que repito, é machista, é machista, é machista) cai fácil em um clichê: o da Mulher Solteira Bem Sucedida. A Secretária do Futuro, a Mary Tiller Moore, a Carry, de Sex and the City, sempre afogando suas mágoas em sapatos.

Eu já caí nesse clichê.

É como se o mundo te falasse que tudo bem se você é solteira, mas vive uma vida glamourosa e tem dinheiro para comprar umas roupas de grife. Tudo bem se você é solteira, mas não tem tempo para nada e vive dentro de um avião. Tudo bem se você é solteira, mas é a menina da família que deu certo (apesar de muitas vezes estar infeliz e tendo ataques de pânico diários). 

Essa é aceita. Essa até pode estar solteira porque, vejam bem, ela é um sucesso!

Que cilada.

É fácil e doloroso viver dentro desse filme, fingindo ser fodona e chorando depois de ser maltratada no trabalho ou dentro do táxi.

Até que um dia a gente para e pensa, recebe uma luz divina e vê o quanto isso é ridículo. E muda de vida (fiz isso e, no fim até casei, mas isso apenas aconteceu).

Com a crise, muitas das solteiras bem sucedidas estão ficando desempregadas. Ou menos bem sucedidas. E agora?

E agora que é hora de gritar: foda-se!

Que o horror todo sirva para alguma coisa.

Não é fácil. Eu sei.

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Enquanto você não tem marido nem trabalho glamouroso (e muito menos dinheiro) elas estão nas redes sociais o tempo todo postando que amam os seus trabalhos (#ilovemyjob) e mostrando suas rotinas aceleradas (#hojefoiassim). Os apartamentos são muito bem decorados e atendem pelo nome de #home. Claro que estou falando da classe média. Falo do eixo descolado deprimido remediado.

Ser bem sucedida anda cada dia mais difícil. Então, vocês vão achar que sou louca se falar que a gente não precisa ter homem na vida, mas também não precisa ser bem sucedida? Meu Deus, não é óbvio?

E o que é ser bem sucedida? Jura que é ter um dia cheio de reunião (#meetings) e depois afogar a mágoa no shopping porque #eumereço?

Não é. Se você consegue ficar uns dias sem ataque de pânico, rir um pouco apesar do horror, ter amigos, ser legal… eu acho que já está bom, não?

E ter um trabalho de que se goste é completamente diferente de ter que ser bem sucedida. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma coisa é ter prazer. A outra é provar, prestar contas. Eu te pergunto: para quem?

Você não precisa de um homem. E você também não precisa ser a bem sucedida da família. Eu sei que parece óbvio. Mas você sabe que não é.

Aproveite a crise. E, como diz uma música do meu amigo Tatá Aeroplano: “desbunda, meu amor! E olhe o que a vida pode dar. A vida pode ser maior.”

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