Menos desafio, mais desabafo

por Lia Bock

Abaixo os duelos e qualquer tipo de combate que crie opositores onde deveria criar aliados

Desafio da maternidade. Desafio sem make. Prova do líder. Por que alimentamos esse espírito de competição? De combate? Onde queremos chegar? Queremos provar que amamos mais os nossos filhos? Ou que nos descabelamos mais do que as outras nas madrugadas insones? Queremos ser mais supermulheres do que as outras supermulheres? Por que?

Lutamos tanto por igualdade para depois duelarmos com quem deveríamos dar as mãos? Alguém aí ainda acha que alguma de nós, mães ou não, não descende da mulher maravilha? Já não basta queremos ser magras e inteligentes? Mães zelosas e profissionais ativas? Amantes fogosas e cozinheiras orgânicas? Agora temos que ser melhor que as outras? É muita berlinda pra pouca imunidade.

Abaixo os desafios, as provocações. Abaixo o pódio do dia a dia. As it-girls, às it-bolsas, as it-festinhas de criança e o velho "eu tenho, você não tem", que cria raízes nas redes sociais.

Pra puta que pariu o reply all exibicionista e as declarações públicas de uma vida saudável. É muito gogó e muito megafone pra pouca ética e sinceridade. Nada contra mães amorosas e fotos fofas de criança (viva o mundo gostoso e carinhoso!); tudo contra ações orquestradas para alimentar nossa insatisfação e tristeza.

O vazio só é ruim quando o vizinho insiste em anunciar que está com a casa cheia.

Mais silêncio. Mais amor. Mais verdade e cartas fechadas que demonstrem a enormidade de nossos sentimentos.

O grito vazio jamais superará o silêncio cheio, preenchido de sinceridade e respeito.

Como bem pontuou Rubem Alves, vivamos mais como quem joga frescobol e menos como quem joga tênis. “Que ninguém ganhe para que os dois ganhem.” Menos adversário, menos derrota e mais “bora, timê!”. Parceria. Amizade. Solidariedade. E quando precisarmos, sim, desabafo (porque ninguém é de ferro).

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