Carta à Panda que fingiu estar grávida para melhorar de vida

por Rita Lisauskas

Uma panda gigante fingiu estar grávida por dois meses para melhorar de vida

Uma panda gigante fingiu estar grávida por dois meses para melhorar de vida no centro de investigação onde mora, em Chengdu, sudoeste da China. Isso porque as fêmeas que esperam filhotes recebem tratamento de luxo por lá: jaula individual com ar condicionado, tratadores à disposição 24 horas por dia e rações extra de pão, fruta e bambu. “As pandas mais espertas usam isso a seu favor para melhorar a qualidade de vida”, afirmou um especialista do Centro de Investigação de Reprodução do Panda gigante, Wu Kongju, à agência chinesa Xinhua. Ai He, 6 anos, simulou que estava com dificuldades de se locomover e com menos apetite. Ela enganou a todos tão bem que jornalistas chegaram a ser convidados por antecipação para assistirem ao nascimento da cria. Mas foram desconvidados há alguns dias, quando os pesquisadores descobriram que que Ai He não estava grávida coisa nenhuma.

Em primeiro lugar queria dizer que te entendo e não te julgo, Ai He. Se você precisou fingir que estava grávida para ganhar uma jaula pra chamar de sua, tá certa, cada um luta com as armas que tem, inclusive no reino animal. Mas queria alertá-la: a luta é maior, companheira. Precisamos brigar também por melhores condições no pós-parto, gata, quer dizer, panda.

Enquanto estamos grávidas somos paparicadas naturalmente, basta a barriga começar a crescer. Temos lugar reservado no transporte público, vagas especiais em alguns supermercados, marido se desdobrando para deixar a gente confortável, e até uma “mãozinha” da família na rotina da casa. Mas quando o filhote sai de nossas barrigas parece que tudo isso acaba – bem no momento em que precisaríamos de atenção especial.Levantamos várias vezes de madrugada para amamentar e acordamos podres de cansada no dia seguinte. É difícil, porque muitas de nós ainda têm uma casa inteira para cuidar ou têm de voltar ao trabalho deixando o filhote com a babá ou no berçário, já que nosso dinheiro suado é importante para fechar as contas do mês.

Ai He, preciso abrir seus olhos para a realidade: muitas mães que ficam em casa se ocupando da rotina de um bebê ainda ouvem, jocosamente, que “não fazem nada o dia inteiro, SÓ ficam cuidando do filho.”Olha, companheira, dá vontade de tacar um daqueles bambus gigantes (que você adora comer) na cabeça dos palpiteiros. As que voltam ao mercado de trabalho ainda têm de enfrentar uma licença maternidade super curta, chefes (machos e fêmeas) que não entendem que precisamos buscar os filhotes na escola e marcam reunião na hora que temos de sair do escritório ou acham por bem mudar nosso horário de trabalho na véspera, como se não tivéssemos toda uma rotina para organizar.

Por isso, Ai He, saiba: a luta pelos nossos direitos começa, mas não acaba na gravidez. Espero que você consiga ter seus filhotes, porque li que é difícil uma panda engravidar. Comigo foi a mesma coisa, anos de luta. Mas vale a pena, viu?

(*) Rita Lisauskas é jornalista, mãe do Samuel, madrasta do Lucca e do Raphael e mulher do Sérgio. Não necessariamente nessa ordem. Desde 2013 mantém o blog Ser mãe é padecer na internet, que vai estar quinzenalmente no site da Tpm // Fanpage: www.facebook.com/padecernainternet 

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