Caminhos do Oriente

por Juliana Braga

Entre massagens e happy pizzas, Juliana Braga passou 20 dias rodando pelo Camboja e Vietnã


Conhecer o sul da Ásia era um sonho antigo, que realizei no ano passado. Apesar da distância (um dia e meio de viagem) e do alto custo, valeu a pena. Minha primeira parada foi Phnom Penh, capital do Reinado do Camboja. De cara, a impressão foi de caos total. Não se espante se, ao sair do aeroporto, já for abordada por um motorista de tuk-tuk (veículo de duas rodas puxado por um homem a pé). Os táxis até existem no Camboja, mas podem ser contados nos dedos. Andar em qualquer meio de transporte ali é uma experiência antropológica. Há pouquíssimos sinais de trânsito, e os que existem são desrespeitados. A sorte é que ninguém circula a mais de 40 quilômetros por hora.

Aproveite o tuk-tuk para os passeios turísticos, que, na capital cambojana, estão ligados à história do regime Khmer Vermelho, responsável pela morte de cerca de três milhões de pessoas. Para começar, o Museu do Genocídio (Tuol Sleng), uma escola transformada em prisão durante a ditadura de Pol Pot. Para essa visita é preciso ter estômago. É impossível não se emocionar com as salas de aula transformadas em locais de tortura e cubículos, onde ficavam os prisioneiros do regime antes de serem enviados para campos de extermínio. Um deles, o Choeung Ek, fica fora da cidade e tem aparência de parque, mas, logo na entrada, uma escultura feita com os crânios das vitimas dá o tom do passeio.

PARA ACABAR EM PIZZA
Para desanuviar, nada melhor do que emendar o almoço em um restaurante que é uma espécie de escola profissionalizante para jovens – estabelecimentos comuns na Ásia. Experimente Amok (peixe com curry) por um preço justo.

Uma das lojas mais bacanas do país pertence à Associação Rajana, uma ONG que ajuda artesãos a entrarem no mercado. Os preços das bolsas, roupas e coisinhas para casa são mais caros que nos tradicionais mercados de rua, como o Russo e o Central, que vendem de sapatos a insetos comestíveis e onde barganhar é a palavra de ordem. No entanto, as peças irresistíveis não correm risco de serem falsificadas, encontradas aos montes nos mercados.

À noite, há vários bares e restaurantes no Riverside, avenida que beira o rio. É lá que está outra curiosa iguaria cambojana: as Happy Pizza. Tradicionalmente, a maconha era tempero da culinária Khmer, mas com a colonização francesa, ela foi banida do cardápio. Ou quase. Os estabelecimentos especializados na happy pizza oferecem o inocente acompanhamento extra de espinafre, que na verdade é... outro ingrediente.

Se quiser sair para dançar, há apenas o clube Heart of Darkness. A decoração budista não combina com o som techno, mas o lugar ferve de segunda a segunda.

A seis horas da capital fica Siem Reap, a mais turística cidade do Camboja, onde está o famoso conjunto de templos e palácios khmert. Para entrar no parque, alugue uma bicicleta ou tuk-tuk, já que os templos estão espalhados por três mil quilômetros quadrados. Angkor Wat é o mais famoso, mas para mim o ponto alto foi Ta Phrom, com suas árvores centenárias, enroscadas nas ruínas, e um lago verde. Não é de se estranhar que o cenário tenha sido escolhido como locação do filme Tomb Raider (dirigido por Simon West, com Angelina Jolie).

Para relaxar, se delicie com uma massagem khmer. Existe praticamente uma casa especializada em cada esquina do Camboja – a minha preferida é a massagem aromática. Entre os inúmeros restaurantes e bares, o melhor é o bar Angkor What?, que me ganhou pela venda de pequenos baldes de cuba libre e pela seleção musical. E vale dar uma passada na Zone One, boate frequentada pelos locais.
   
MOTOS, MARIONETES E CERVEJA
Estiquei a viagem até Hanói, capital do antigo Vietnã do Norte. A cidade é uma graça, e é fácil se locomover por lá. Difícil é atravessar a rua, devido ao mar de motoqueiros. Mas tenha fé: eles vão desviar de você. O primeiro passeio obrigatório é uma visita ao mausoléu de Ho Chi Minh, responsável pela independência do Vietnã do Norte, entre 1975 e 1979. Uma vez lá dentro, a passagem pelo corpo embalsamado do chamado Uncle Ho é rápida e sem direito a fotos. Mais à frente, fica a casa onde ele supostamente viveu entre 1958 a 1969, ano de sua morte.

No fim da tarde, passeie pela beira do Lago Hoam Kiem. Numa pequena ilha, fica o templo Ngoc Son. Você ainda pode se surpreender com números de música tradicional vietnamita. Em seu entorno, está o Teatro das Marionetes de Água Thang Long, com sessões diárias de espetáculo. Mesmo sem entender os diálogos, a diversão é garantida. Se você procura mais cultura, dê um pulo no Museu Vietnamita de Etimologia. Um pouco afastado da cidade, o moderno prédio traz uma amostra da vida e hábitos das mais de 60 etnias do Vietnã. Nos jardins, réplicas em tamanho natural de casas típicas.

À noite, um programa tradicional é a Bia Hoi Corner, espécie de Baixo Hanói. A esquina está sempre lotada de vietnamitas e turistas, que bebem a tradicional cerveja Bia Hói. Tire dois dias para fazer um passeio até à Baía de Halong, a três horas da cidade. Os pacotes costumam incluir uma noite num barco. Linda despedida de um país especial.

 

fechar