por Aline Cruz

Da web para o papel, quadrinista carioca em ascensão lança em livro a webcomic Bear

A quadrinista carioca Bianca Pinheiro, que vive em Curitiba, é responsável por alguns dos trabalhos mais interessantes que rolam na internet atualmente. Entre eles está Bear, webcomic que conta a história de Raven, uma garotinha que se perde de seus pais e faz amizade com o urso Dimas – que entra na busca pelos pais da menina, no meio de um mundo onde feiticeiras prevêem o futuro e desenhos ganham vida (e família). Para felicidade dos fãs, em número crescente, a série que é publicada todas as terças deve contar com 10 volumes no total.

Além disso, Bear vai ser lançado pela Editora Nemo no próximo semestre, e Bianca fala pra Tpm, entre outras coisas, sobre como é passar da web para o papel e dá conselhos para quem está entrando no mundo da nona arte.

Qual foi seu primeiro trabalho como quadrinista?
Er... oficialmente? Eu comecei mesmo, pro público, com a Vaca Voadora, que no começo eu publicava com o Alan Amorim e depois passou a ser com a Fefê Torquato. Mas já fiz fanzines pra vender na minha época de estudante universitária [risos]. Acho que de todos os meus trabalhos, Bear é o mais conhecido.

E como foi que surgiu a ideia de Bear?
A ideia de fazer uma webcomic seriada foi do meu marido, na verdade. Ele me disse que assim eu poderia postar uma vez por semana e ter feedback imediato dos leitores (eu estava querendo fazer uma Graphic Novel inteira e estava sofrendo). A ideia era me manter produzindo e deu certo! Agora, a história veio primeiro da ideia: tinha que ser uma jornada para que eu pudesse aumentar e encurtar o quanto eu quisesse. Aí fiz os primeiros esboços da Raven, perguntando se alguém tinha visto os pais dela. O resto veio todo daí. Ah! E tinha que ser um mundo fictício para eu poder criar à vontade. Liberdade! Liberdade!

A história é bem grande! Você cria aos poucos ou já tem tudo na cabeça desde o início?
Tenho a linha geral toda na cabeça. Sei por onde eles vão passar e o que vai acontecer no final. As miudezas (como falas e expressões) eu vou bolando enquanto desenho o storyboard.

Por falar em storyboard, eu sei que todo mundo te faz essa pergunta, mas eu preciso saber: como é o seu processo na hora de criar a página?
Em Bear eu faço só o storyboard. Depois já passo pro computador e faço tudo, do rascunho à página final, no Photoshop. Em outras HQs, primeiro faço um pré-roteiro com tudo o que acontecerá na história. Dali separo por páginas e monto o storyboard. Depois vou para a produção em si (seja no computador ou no papel). Pra Vaca Voadora eu costumo acordar em pânico na quinta de manhã percebendo que é meu dia de postar e fico olhando pro Photoshop até que uma ideia desça “do além”. É sério. Antigamente eu planejava com mais antecedência, mas fui ficando preguiçosa...

 

"Viver só de quadrinhos ainda é um sonho não-alcançado. No momento eu ganho dinheiro sendo ilustradora, mas vivo como quadrinista no meu ser"

 

Que tipo de material você mais gosta de usar?
Bom, o Photoshop é o mais fácil e rápido. Mas gosto muito do papel e do nanquim também. Quero aprender a mexer com tintas também. Vou ver se faço uns cursos pra começar a colorir no papel!

Que tipo de quadrinhos você mais gosta de ler? Algum te inspirou pra fazer Bear?
Eu não sei dizer se tem um tipo de quadrinhos que eu prefira. Costumo ler o que indicam que é bom e aqueles que são de autores que eu confio, como o Liber Paz, o Rafael Coutinho, a Fefê Torquato, Laerte, LM Melite, Lourenço Mutarelli, Alison Bechdel, Emily Carroll, Cyril Pedrosa, Chris Ware, por aí vai. Curiosamente, o que mais me inspira na hora de fazer Bear são desenhos animados e jogos de videogame [risos].

Como foi o contato com a Editora Nemo?
Ah, o diretor da Nemo, Arnaud Vin, me mandou um e-mail perguntando se eu tinha interesse em publicar Bear em livro. Eu já andava pensando nisso porque tinha gente me pedindo, então foi uma união perfeita! A partir daí foi só combinar pormenores. O primeiro volume sai esse ano em data a ser confirmada, ainda.

Como é a sua relação com viver de quadrinhos e trabalhar com outras coisas e fazer quadrinhos? Você já consegue viver só desse trabalho?
Não, viver só de quadrinhos ainda é um sonho não-alcançado [risos]. Eu tenho que conciliar meu tempo fazendo quadrinhos com o meu tempo de fazer ilustrações para sobreviver. Faz parte, imagino. As coisas se fazem aos poucos. No momento eu ganho dinheiro sendo ilustradora, mas vivo como quadrinista no meu ser.

Atualmente você faz que tipo de ilustração além dos quadrinhos?
Ilustrações para materiais didáticos, na maioria. Tenho feito também personagens e ilustrações para algumas revistas. Meu sonho era ilustrar um livro infantil. Seria maravilhoso!

Tomara que consiga, até porque Bear é uma história linda e seus personagens são sempre lindos! Agora, pra finalizar, aquela pergunta básica: qual é a sua dica pra quem está no começo da carreira em HQ?
Olha, técnicas e materiais, cada um desenvolve de acordo com o que gosta mais, não existe fórmula. Agora, o nosso mercado de quadrinhos abraça novos quadrinistas. É preciso desenhar e mostrar para aparecer. Leva tempo mesmo, a coisa vai devagar, mas tem que produzir. Quem não produz não é visto. E quem não é visto não consegue aparecer com seu trabalho, entende? Tem que fazer e mostrar. É a única solução que vejo. Eu comecei com a Vaca Voadora, depois passei a fazer Bear (sem parar a Vaca) e continuo com projetos laterais. A gente tem que fazer, senão não vai a lugar nenhum.

Vai lá: Bear http://bear-pt.tumblr.com. Tumblr da Bianca http://bianca-pinheiro.tumblr.com

(*) Aline Cruz (aka Lila) é jornalista, ilustradora e quadrinista. Seu trabalho pode ser conhecido no site ColorLilas http://colorlilas.com Ela vai colaborar semanalmente com o site da Tpm escrevendo sobre HQ.

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