"A gourmetização é do tamanho de nosso bolso"

por Nina Lemos
Tpm #162

Sabe uma gênia da comida? Pois essa é a Nina Horta, colunista da Folha de S. Paulo. Batemos um papo com ela sobre as loucuras do momento e ela nos acalmou

O que você acha da obsessão pelo corpo perfeito? É claro que sou uma das primeiras a defender um corpo livre de ditaduras e a criticar o bullying contra as gordas. No meu tempo era pior, acredite. Minha mãe antes de se casar, por ser muito magra, teve que passar 40 dias tomando colheradas de creme de leite para ver se engordava. Isso, claro, só lhe fez mal, e ela emagreceu. Casou-se com enchimentos debaixo da roupa de noiva.

Você já provou brigadeiro de Whey? As manias fitness não me pegam, já não gosto de brigadeiro, com Whey deve ficar bem pior. E nem ligo para essas coisas, quer comer brigadeiro com Whey, coma, ninguém vai morrer por causa disso.

Você concorda que os doces do Brasil estão entre os mais doces do mundo? Uma vez escutei de um CEO que só o Brasil e a Índia padeciam desse mal de doces com excesso de açúcar, pois uma grande companhia há algum tempo fez uma campanha milionária para nos entupir de leite condensado. E foi daí que nos acostumamos com o muito doce. Realmente a doçura exagerada é produto de alguma ação de indústria, pois fazendas muito antigas que conservam suas tradições têm doces de leite sem açúcar e deliciosas compotas sem excessos.

O que você acha da glamorização de comidas simples, como o churro? Acho fácil de entender. Quando o mundo está rico, não se pensa nisso, come-se do bom e do melhor. Quando o lobo bate à porta, quando a crise se aproxima, ou se instala, tudo aquilo que achávamos pobre ou brega passa a ser o que temos de comer. E qual a reação? Glamorizar um simples churro. Quando o comemos com pó de nozes não nos sentimos em crise. É isso, a gourmetização é do tamanho de nosso bolso. Depois da crise o churro volta a ser apenas um churro – com muito orgulho!

Açúcar é do bem ou do mal? Acho que o açúcar, comedidamente, não há de fazer tanto mal, afinal convivemos com ele há tanto tempo!

Créditos

Catarina Bessel

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