por Ariane Abdallah
Tpm #113

A trajetória da garota que foi parar na TV e agora é uma das loiras mais famosas do Brasil

Pensa que já sabe tudo sobre Angélica? Então se prepare para mudar de ideia. Do programa do Chacrinha à mães de família, a trajetória da garota que foi parar na TV para superar o trauma de ver o pai levar um tiro. Agora, uma das loiras mais famosas do Brasil faz um balanço dos seus últimos anos e dispara: "Os homens que me desculpem, mas as mulheres administram muito melhor"

Quando a primeira edição da Tpm chegou às bancas, em 2001, Angélica tinha 27 anos. Ela lançava o terceiro – e último – disco da carreira e deixava o posto de apresentadora infantil na Globo para assumir o Video Show. Já não passava despercebida quando cruzava com o apresentador Luciano Huck nos corredores da emissora, porém não podia imaginar que teria filhos com ele. Tampouco que tatuaria, no pulso direito, as iniciais de Joaquim e Benício (6 e 3 anos, respectivamente), que desejaria engravidar mais uma vez, em 2012, e que teria sete empregados dentro de casa. Ainda tinha como marcas registradas a pinta marrom na coxa esquerda e o hit “Vou de táxi”. E já não planejava o futuro.

Dez anos depois, junto com o aniversário da Tpm, Angélica celebra o giro que deu sua vida. “Mudou tudo”, constata, aos 37. Agora, comanda o Estrelas, programa de entrevistas exibido aos sábados, e o quadro diário “Video Game”, no Video Show, ambos na Globo. Casou com o apresentador mais pop da televisão e descobriu como gosta de rotina e dos fins de semana livres (“porque quando cantava sempre tinha os shows”). Deixa claro que hoje a terapia tem mais valor do que a academia e que a família está na frente do trabalho. “Uma das melhores coisas da maturidade é aprender a priorizar”, solta.

O marido, Luciano Huck, aprova suas escolhas. “A Angélica é o melhor presente que a vida me deu. E, com ela, nossos filhos. Ela teria tudo para ser uma mulher fora do trilho: começou a trabalhar e a fazer sucesso ainda criança. Mas ela é a mulher mais normal que já encontrei. É segura, inteligente, divertida, talentosa e linda. Ama sua profissão, mas não se deslumbra com nada que não seja palpável, verdadeiro”, declara.

Tpm. Como dividem os papéis em casa?
Angélica. O Luciano gosta de administrar as coisas. Eu nunca fui dona de casa, sempre fui paparicada. Mas, aos poucos, ele começou a passar a bola. Por mais que goste de coordenar, ele é homem, não tem a sintonia fina. As pequenas coisas começaram a irritá-lo. Porque é chato, né? É reunião na escola, é a cozinheira que dá problema... Agora, eu coordeno mais a casa. Tem uma hora que é preciso fazer as coisas porque não tem quem faça por você. Nesses últimos dez anos, comecei a ter a vida mais na minha mão.

Você engravidou do Luciano em cinco meses de namoro. Foi planejado?
Não. Mas a vontade de ter um filho estava subentendida. De cara percebemos que tínhamos valores parecidos, apesar de termos vindo de origens diferentes. Eu sempre trabalhei para ajudar em casa e o Luciano fez faculdade, foi trabalhar mais velho, é de uma família de intelectuais. Mesmo que a gente nunca tenha falado “vamos ter um filho”, logo começamos a comprar testes de farmácia. Dava negativo, e os dois ficavam tristinhos [risos].

“Ela teria tudo para ser uma mulher fora do trilho: começou a trabalhar e a fazer sucesso ainda criança. Mas ela é a mulher mais normal que já encontrei. Ama sua profissão, mas não se deslumbra com nada que não seja palpável” Luciano Huck

Nascida em Santo André e criada em São Bernardo, na Grande São Paulo, Angélica foi uma criança desejada: a mãe, dona Angelina, passou oito anos tentando engravidar depois do nascimento da primogênita, Márcia. Até a caçula nascer, ela perdeu dois bebês.

Foi dona Angelina a responsável pelo rumo da vida da filha. Isso porque, quando Angélica tinha 4 anos, a casa da família foi invadida por assaltantes, que deram um tiro na mão e outro nas costas de seu pai. Ele sobreviveu, mas Angélica ficou traumatizada. “Ela não saía de casa, tinha medo de tudo”, lembra a mãe. A única maneira de a menina se distrair era assistindo aos programas do Chacrinha. A matriarca, então, teve uma ideia: levar a filha para participar do concurso que iria escolher “a garota mais bonita do Brasil”. Angélica não só venceu como relaxou diante das câmeras. A partir dali, engatou um comercial no outro e a mãe passou a ir aos testes com a filha – deixando de acompanhar o marido no micro-ônibus escolar que conduzia (antes do acidente, ele era engenheiro metalúrgico). “Não me arrependo de ter sido superprotetora”, solta. Sua dedicação ficava ainda mais evidente no cuidado do cabelo da filha. “Só eu podia lavar e pentear o cabelo dela. Fazia um creme com abacate, mel, mamão... até gema de ovo passei”, conta.

Mulher normal

Angélica seguiu a adolescência trabalhando, passou por Manchete e SBT e, dos 16 aos 23 anos, namorou o jornalista Cesar Filho, com quem rompeu o noivado. Em seguida, viveu um tumultuado relacionamento de três anos com o ator Maurício Mattar. Nessa época, caiu na balada sem ligar para seus empresários, que pediam para ela não se expor tanto. Aos 29 anos, quando se aproximou de Luciano Huck no set de Um show de verão (dirigido por Moacyr Góes), sossegou.

Na fase solteira, Angélica se reunia uma vez por semana com sua turma de oito amigas para sessões de karaoke em sua casa, jantares e boates. Hoje, os encontros são quinzenais. Entre as amigas estão Deborah Montenegro, sua produtora há 13 anos, a atriz Juliana Silveira e a agente de artistas Mariana Nogueira – as duas últimas foram angeliquetes do programa Casa da Angélica, no SBT. As três destacam o senso de humor como característica marcante de Angélica, assim como usam os adjetivos “mãezona”, “participativa” e “presente” para descrevê-la. 

“Quando comecei, existia o artista, que era famoso e por isso saía na revista. Hoje tem gente que é famoso porque sai na revista. Posso parecer uma velha ranzinza, mas isso é revoltante. Hoje qualquer pessoa é apresentadora de TV”

Juliana chama a atenção para a habilidade da apresentadora em lidar com os sentimentos alheios: “Ela é sensível e generosa para entender e esperar o tempo do outro. Não cobra, não joga na cara. Brinco que é a amiga mais evoluída”, diz.

A atriz Carolina Dieckmann é uma das poucas “celebridades” que Angélica chama de amiga. Elas se conhecem desde 1996, ano em que a apresentadora entrou para a Globo. Mas se aproximaram de fato em 2010, quando os filhos caçulas caíram na mesma turma de uma escola bilíngue do Rio. Benício e José viraram melhores amigos. “A Angélica é de verdade. Ela amadureceu, está cada vez mais bonita e vejo nos olhos dela que continua com a mesma essência. É uma pessoa reta, não é escorregadia. É divertida, vê o lado bom da vida. Me identifico com essa alegria. E é difícil encontrar gente com essa transparência no nosso meio”, pondera Carolina. 

Tpm. Você é famosa desde criança. Como vê a “indústria de celebridades”?
Angélica. Quando comecei, existia o artista, que era famoso e por isso saía na revista. Hoje, as pessoas são famosas porque saem na revista. Posso parecer uma velha ranzinza, mas isso é revoltante. Hoje qualquer pessoa é apresentadora de TV. Perde a seriedade. A pessoa faz um reality show e vira apresentadora. Se sustenta como profissional? Não. Acaba? Sim. Mas a mídia abre espaço para essas ilusões, e acho um erro esse mercado de celebridade que inverteu tudo. Ao mesmo tempo, essas pessoas têm espaço para ganhar dinheiro, sustentar suas famílias. Enfim, é uma faca de dois gumes.

Ainda tem entusiasmo para dar entrevistas e sair na capa de uma revista?
Para dar entrevista não me entusiasmo... [risos]. Porque já falo muito de mim, inclusive na análise. Agora, sair na capa acho bacana. Porque todo artista é um pouco exibido. A gente gosta de ser admirado, querido, amado. O artista quer ser aprovado, o que é uma cilada às vezes, porque não é sempre que isso acontece.

A maioria das suas amigas não é famosa. Existe uma distância entre as realidades de vocês?
Não! As pessoas pensam que a vida da gente é glamour. Isso é muito bonito em revista, mas o gostoso mesmo é o dia a dia. Isso sim é vida. Acham que você está, num domingo à noite, tomando champanhe numa banheira de espuma, e você está esquentando a pizza para o seu filho porque a cozinheira faltou. Ontem, meu cachorro não estava bem. Enquanto ligávamos para o veterinário, o Luciano falava com a cozinheira e o Joaquim gritava para eu fazer o dever de casa com ele. Quando acaba, a gente olha um para o outro e desmaia. No fim, as questões de todo mundo são iguais, em maior ou menor proporção.

“As mulheres vão ao limite, mas de vez em quando pifam. Não fomos programadas para isso. É um modelo que está deixando o homem muito tranquilo. Em algum momento, vamos ter que frear e voltar um pouco ao modelo antigo”

No cotidiano dos Huck, quem leva as crianças à escola é o pai. Enquanto isso, a mãe treina pilates, corrida, resolve pendências da casa, faz massagem ou vai à análise. Costuma ir para a Globo só depois do almoço. Quando dá tempo, busca os meninos. Depois, faz o dever com eles, brinca, e quando dormem consegue jantar com o marido. Os dois fazem questão de se reunir à noite “senão, não conversamos nunca”, explica.

No prato de Angélica nunca tem carne vermelha nem frango – desde os 15 anos, quando foi cortar um bife e o sangue esguichou, tirou as opções do cardápio. Também cortou chocolate na gestação de Benício e não voltou a comer. Além de se esforçar para ter uma alimentação saudável, conta que a TV a transformou numa pessoa vaidosa. “Se minha profissão não fosse essa, não teria tantos cuidados. Sou um pouco desleixada, fico sem fazer a unha”, admite ela, que não sai sem óculos escuros e batom. Dia desses, seu cabeleireiro encontrou o primeiro fio de cabelo branco de sua vida.

Tem medo de envelhecer?
De envelhecer não. De adoecer sim. Procuro estar saudável e acho que vou envelhecer bem. Falar que a beleza vem de dentro para fora parece piegas, mas é verdade. A cabeça tem que estar boa.

Como se imagina daqui a dez anos?
Com cabelos brancos a mais [risos]. Quero estar feliz como hoje, com saúde para exercer meu trabalho. Mas não sei de que forma porque nunca tive nenhum projeto do tipo “daqui a dez anos quero apresentar um programa na madrugada”. Mas quero fazer o que sei, que é televisão. Quero evoluir nisso. A TV muda a cada minuto, e a gente tem que mudar junto.

A mulher hoje se desdobra em funções, como trabalho, maternidade etc. Como acredita que essa realidade vai estar daqui a dez anos?
Os homens que me desculpem, mas as mulheres administram tudo muito melhor. Elas têm uma visão aberta pra conseguir resolver tudo: o emocional, o racional, o trabalho. E ainda têm que estar com o botox em dia para o marido. As mulheres vão ao limite, mas de vez em quando pifam. Não fomos programadas para isso. É um modelo que está deixando o homem muito tranquilo. Em algum momento, vamos ter que frear e voltar um pouco ao modelo antigo. Não que a mulher vá parar de trabalhar, mas as tarefas vão ter que ser mais divididas. Porque a mulher está buscando a perfeição. E não dá para ser perfeita.

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