A arte independente de Rita Wainer

por Redação

Aos vinte e poucos anos, Rita Wainer se tornou queridinha do mercado de moda — mas não era aquilo que queria. Desde 2013, ela vive de vender sua arte na internet

Rita Wainer já foi considerada um dos principais novos nomes da moda brasileira.

Depois de largar essa carreira promissora como estilista há algum tempo, a paulistana de 38 anos está comemorando uma data importante: em janeiro de 2013, Rita montou um negócio virtual para vender seu trabalho com artista plástica pela internet, sem atravessadores. E é o que tem feito desde então: nesses três anos, foram mil obras vendidas. “Os mil gols do Pelé”, ela brinca.

No apartamento amplo de pé direito alto em que mora com a cachorra Gal no sururu de Copacabana, Rita chegou onde queria e tornou-se uma artista independente.

“Participar do mundo das galerias não me interessa. Não levo a sério o status da arte. Não ligo para este mercado. A única coisa que eu sei fazer é desenhar. Desenho todos os dias, desde sempre. Pego isso que faço desde criança e coloco em suportes que posso vender. Vivo do meu prazer”, Rita comenta.

Não é a primeira vez que Rita vende seus desenhos por conta própria: já no começo dos anos 2000, em São Paulo, ela estampava ilustrações em camisetas. Para divulgar o trabalho, mandava mala direita pelos Correios para todo mundo que conhecia — e não conhecia. Até que um dia, em 2003, recebeu uma resposta de um produtor do evento de moda Casa dos Criadores, convidando-a para desfilar sua marca. Que marca?

“A marca era só o nome da minha gata: Theodora. Respondi sim, comprei um monte de tecidos e fui para o apartamento de uma costureira. Enquanto subi para conversar, roubaram o meu carro com tudo dentro. Eu tinha 15 dias para aprontar a coleção e nenhuma grana para investir”, lembra.

A solução veio rápido: “Cheguei em casa, virei as camisetas que eu tinha pelo avesso e estampei frases. Na minha cabeça, as pessoas ficariam presas nas frases e não prestariam atenção no resto. No dia do desfile, vesti as modelos com camiseta e calcinha, tecidos enrolados, e mandei que andassem bem depressa na passarela”, Rita conta. “No dia seguinte, saiu no jornal: a camiseteira Rita Wainer... Falei: obrigada, eu agora tenho uma profissão.”

A carreira não planejada de estilista logo decolou. Rita abriu loja na galeria Ouro Fino, no Jardim Paulista, depois em Higienópolis, foi contratada pela marca Ellus Second Floor e passou a figurar nos mais importantes eventos de moda do país: a São Paulo Fashion Week, pela Ellus, e a Fashion Rio, com a Theodora.

“Quando eu vi, havia se passado dez anos”, diz Rita. “Eu gostava do desenho, mas eu não era da modelagem, tinha preguiça do processo. Não queria mais ter funcionários. Não fazia sentindo aquilo.” Foi então que ela fechou as lojas e pediu demissão da Ellus. “Estava bem, ganhava dinheiro, tinha minha loja, um emprego, mas e aí? Comecei a pensar em como eu ia desenrolar dali para frente”, ela lembra.

““Um dia um tio me falou uma frase e acreditei. Ele me perguntou: ‘Quantas vidas cabem dentro de uma vida?’”.”
Rita Wainer

“Num primeiro momento, não me assumi como artista”, conta. “Meu pensamento era viver só do que eu podia fazer com as minhas mãos. Foi uma fase de transição. Pegava todos os trabalhos que aparecia, de pintar murais em paredes a convites de festas.”

No meio dos “trabalhos que aparecia”, Rita fez dois filmes: Boa sorte, de Carol Jabor, em que seus desenhos viraram animação, e Muitos homens num só, de Mini Kerti, onde atuou como dublê da personagem de Alice Braga, que desenhava.

Os filmes a trouxeram para o Rio de Janeiro, cidade em que a família dela teve um papel marcante: filha da artista Pinky Wainer, Rita é neta de Danuza Leão e Samuel Wainer, o casal 20 dos anos dourados do Rio, e sobrinha de Nara Leão, a musa da Bossa Nova. A volta ao Rio era como a volta da princesa de um clã. Só que não, segundo Rita: “Nasci em São Paulo. Nunca fiz parte disto. Continuo não fazendo. A decisão pelo Rio foi uma aposta com um amigo. A gente resolveu que se mudaria só com o que coubesse num pendrive. Na verdade, eu roubei: trouxe a minha cachorra”.

A mudança para o Rio coincidiu com o último passo na mudança de vida de Rita. Após enfrentar um sério problema de coluna, que a paralisou pelos primeiros dois meses na cidade, ela tomou a decisão: não viveria mais só do que pudesse fazer com as mãos. Viveria, sim, só dos seus desenhos, sem sair de casa. Foi então que arrumou um sócio e criou um modelo de negócio bem estruturado na Internet.

A partir de então, não abre exceções. Desenha em tempo integral. “Meu negócio é tipo Casas Bahia. Divide de 12 vezes, paga com cartão, por Paypal. Quer comprar uma coisa minha? Você vai conseguir. É um jeito diferente de pensar o negócio. É eliminar o atravessador. É trabalhar independente. É pertencer ao meu tempo”, Rita afirma. E completa: “Quero emocionar as pessoas. Quero que o meu desenho esteja em todos os lugares, quero o meu desenho nas ruas”.

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