2015: o ano do Delírio de Ruína e do medo de virar mendiga

por Nina Lemos

Crescemos na hiperinflação e com medo da moça do FM!. Resultado: temos trauma de pobreza. Agora, na crise, sentamos e choramos: ”vou virar mendiga, vou virar mendiga, vou virar mendiga”

2015: o ano  do Delírio de Ruína e do medo de virar mendigo

 

 

“No delírio de ruína existe a convicção de que se vai perder uma grande quantidade de dinheiro, propriedades, posição social. E que isso vai ter consequências catastróficas.” Enciclopédia Psiquiátrica da Internet.

Esse termo brilhante, “Delírio de ruína”, veio parar na roda graças à Rita Wainer. Achamos aquilo tão bonito que virou também nome de livro da Clara Averbuck. Pois aqui estamos, em 2015, o ano que já pode ser reconhecido internacionalmente como o Ano do Deíirio de Ruína.

O pior: as coisas estão tão feias que achamos que não é delírio nada, é realidade. E o que faz um maluco ser maluco é acreditar no delírio. Então, não sabemos mais se estamos loucos ou só encarando a realidade. Minha analista sempre falou da importância do princípio de realidade, aquele mecanismo que faz com que a gente não entre na Chanel e compre um vestido de 50 mil euros que a gente nunca vai poder pagar.

Achar que vai virar mendiga é principio de realidade ou delírio de ruína?

“É problema de geração", diz a Vivian Whiteman. "A sua mãe tem medo de golpe, a gente tem medo de virar mendiga.”

Claro que temos! Nascemos com medo da mulher do FMI. Acordamos um dia e a poupança de quem tinha algum guardado tinha sido confiscada. A moeda já foi cruzado, cruzeiro, cruzado novo. Lembramos das fiscais do Sarney. Do fantasma da hiperinflação. Dos carrinhos de supermercado super lotados para “estocar alimento”. Passamos nossa infância nesse clima de pós Guerra onde era tudo estocado.

Quando a gente estava na faculdade (falo da de jornalismo, mas acho que com as outras era a mesma coisa) os professores falavam: vocês não vão ter emprego! O mercado! O mercado! O mercado parecia ser tão apavorante quanto o dragão da inflação.

A gente saiu da faculdade e com um tempo aconteceu um milagre. Os jornalistas tinham emprego, a inflação acalmou e a gente ficou meio bem de vida.

Agora… descemos de novo ladeira abaixo. O mercado, o mercado. Voltamos a cantar “os meus amigos todos estão procurando emprego”.

E temos, mais que nunca, medo de virar mendigas. “Mas é muito difícil virar mendiga na Alemanha”, ele fala. “Você não vai virar mendiga aqui”, ele diz quase gritando, enquanto eu, incosolável, repito: "mendiga, mendiga, mendiga. É o fim, é o fim, é o fim."

Desculpe, querido, mas isso é trauma. Minha mãe sempre vai ter medo de golpe.Eu sempre vou ter medo de virar mendiga. Estamos juntos nessas, amigos brasileiros. Mas vai ficar tudo bem. A gente se encontra no abrigo e dança aquela do REM. :-)

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