por Luiz Alberto Mendes

Animais Sofrem?

Existimos no mundo e isso é glorioso. O animal vive no ambiente, quase em simbiose contínua, uma extensão do meio em que habita. O homem viaja, mesmo que não sai do lugar. O animal se movimenta em busca de abundância de alimento e temperaturas favoráveis. Mas é preciso ir além do comum, além de nos auto julgar “animais superiores”.

É óbvio que os animais sentem. Até as plantas sentem. Embora ainda não nos seja possível determinar o que eles sentem com certeza. Estudos recentes com os primatas nos indicam que eles possuem estruturas refinadas de organização simbólica.

Para mim o que interessa não é o que o animal possa entender, mas até que ponto ele é capaz de sofrer. Como o animal sente a dor. À primeira vista, eles sofrer e muito; e são felizes também. Vivem a alegria e o contentamento de forma exuberante; quem tem cães percebe sempre.

Mas a dor para eles, como para nós, ultrapassa a parte física? O meu cão (Chicão) ultrapassa. É só ver como ele chora, uiva e se entristece no portão de casa, toda vez que saio. Também a alegria explosiva que manifesta quando chego. Não importa quanto tempo tenha demorado, para ele minha chegada é sempre festa, farra; quando era mais novo chegava a se urinar, descontrolado. Eis a questão. Porque é na medida do conhecimento que tivermos sobre a intensidade com que eles vivem suas emoções é que podemos nos sensibilizar para o cuidado que lhes devemos.

Amo meu cão. Eu crio Chicão desde que ele tinha quase um palmo de tamanho. Cheguei a dar mamadeira, dar comida na boca e tudo. Curti, mas curti imensamente a vida de filhote dele. Era amarelinho como a gema de um ovo, todo fofo e macio. E de uma alegria contagiante; passava horas brincando com ele, esquecido do mundo e suas dores. E ele me amava igualmente, vivia atrás de mim. Fui mãe e pai dele; dormia na cama comigo e eu detestava sair de casa para não ouvi-lo sofrer e chorar.

Tinha a parte ruim também. Seu primeiro ano foi de arrasar. Urinava e defecava em qualquer lugar, até em minha cama. Destruiu vários tênis e sapatos meus, meias nem dá para contar. Toalhas, lençóis; um dia fez o maior rombo em uma poltrona de leitura, toda de couro, que eu comprara recente. Até hoje é a cama dele, quando estou em casa. Paguei várias roupas que a vizinha deixava no varal e ele arrancava e picava tudo com aquele dentinhos que pareciam punhais ou navalhas. Era só deixar ele sozinho que o danado fazia miséria.

Hoje pouco estou na casa que morava; assumi novas responsabilidades e pouco o vejo. Onde moro hoje não dá para trazê-lo. Tem outros cães e seria uma temeridade colocá-lo junto; ele é um vira-latas, mas puxou a pitbull e é forte como um pequeno touro. Sinto sua falta, dói em mim sua ausência; chego a sentir remorsos por não estar mais com ele. Vou lá em casa sempre; ontem estive com ele. Esta enorme, agora amarelo-laranja por conta do sol, esta com quase 7 anos de idade, roliço, orelhas enormes, cabeçudo e uma dentição que impõe respeito. Faz o maior escândalo no portão, tive até que colocar chapa de aço. Comigo e para mim ainda é um cachorrinho lindo que quando acaricio ele até geme de prazer. Ainda vive atrás de mim e, de madrugada acordo com ele aninhado em mim.

Provavelmente somos irmãos mais velhos daqueles que diferenciamos como animais, até responsáveis por eles diante de quem nos criou a todos. Em assim sendo, creio que estamos negligenciando vergonhosamente. Porque um cão não é muito diferente de uma vaca, de um porco ou de uma galinha. Sabe, há tempos ando pensando em me tornar vegetariano. Acho que é a única saída para quem pensa como eu.

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Luiz Mendes

10/06/2015.

 

    

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