por Caroline Mendes

Aos 30 anos, o artista plástico retrata São Paulo como ela é: complexa, misturada e divertida

Ele não tem nem três anos de carreira como artista plástico e já assinou as paredes do escritório do Google em São Paulo, criou um Doodle comemorativo para a cidade, decorou as vitrines da loja de Marc Jacobs e teve outros clientes de peso como HSBC, Vivo e Etna. Desde que abandonou a publicidade para viver de sua arte, Vitor Rolim viu tudo acontecer muito depressa. "Foi meio na brincadeira: eu queria tirar umas férias do trabalho e tinha um dinheiro guardado, então decidi pintar quadros e vender para ver no que ia dar. Quando me dei conta, estava assinando meu trabalho para o Google", conta, sossegado, como quem sempre soube que sua aventura daria certo.

O gosto e o talento para a arte vêm de berço. Vitor cresceu em meio aos desenhos do pai, engenheiro mecânico que fez carreira como projetista industrial e sempre influenciou e incentivou o filho. "Lembro das pranchetas enormes que tinha na casa do meu pai e de copiar os desenhos dos cadernos dele." Mais tarde, na adolescência, ele passou a se envolver com arte e, com o tempo, arriscar pintar seus próprios quadros foi um caminho natural. "Fui tomando gosto pela coisa. Depois que vendi meu primeiro quadro, aos 24 anos, não teve mais volta."

São Paulo e o caos

Os quadros e murais que Vitor pintam são um verdadeiro caos, se observados de longe – como uma página de um dos livros de Onde está Wally?. Mas é só olhar de perto para ver a riqueza de detalhes, de informação e de referências artísticas e mesmo não-artísticas que ele leva para sua obra. "Eu fico imaginando como Albert Einstein pintaria, por exemplo, ou Jimi Hendrix, Steve Jobs, Thomas Edison...

Todos esses caras viveram para organizar o caos e é isso que eu faço." E é assim mesmo que Vitor se classifica: um organizador do caos, um cara que consegue, através de sua arte, colocar ordem na avalanche de informações visuais e sonoras que lava diariamente uma metrópole como São Paulo. "Minha arte tem uma iconografia que já faz parte do inconsciente coletivo dos paulistanos entre 20 e 30 e pouco anos, que são os meus clientes, pessoas que vivem as mesmas coisas que eu na cidade e que, como eu, cresceram assistindo a Cartoon Network, Chaves, Curtindo a vida adoidado... Então, eu dialogo com eles e isso gera empatia."

Nascido no litoral paulista, em Santos, Vitor se mudou para a capital ainda criança e sempre achou os paulistanos um verdadeiro fascínio. "Sou péssimo poeta, mas o primeiro rascunho que fiz das paredes do Google foi um poema em que deixei claro que faria um mural sobre as pessoas que moram em São Paulo, que são o que a cidade tem de melhor."

O mural do Google, por ser um projeto de maior porte, foi exceção: Vitor não trabalha com roteiros. A ideia inicial do que será desenhado fica só na cabeça e, a partir dela, o artista vai criando, puxando um detalhe aqui e outro ali, tudo no improviso. Para ele, a liberdade de criação vem em primeiro lugar. "Eu pinto o que eu quiser, deixo isso sempre muito claro para meus clientes." E tudo sempre em preto e branco. "Minha vida sempre foi muito preto no branco, muito prática, sem enrolação. Minha arte é assim também."

Uma obra só

Apesar de ser um retrato do caos paulistano e da sociedade moderna, a obra de Vitor não é combativa, engajada, como ele próprio define, mas apresenta um todo que faz refletir sobre a realidade iconográfica que vivemos e, acima de tudo, diverte. "Se você juntar todas as minhas obras, vai ver que elas são mais ou menos a mesma coisa, são conectadas entre si, formam um grande mural para inspirar as pessoas. Elas não precisam de artes que digam que o Brasil é um lixo, por exemplo, mas que as façam rir depois de um dia cansativo de trabalho. Essa é a função da minha arte."

Aos 30 anos, além de artista plástico, Vitor Rolim atua como design thinker na empresa gou/Factory e acabou de abrir um escritório para licenciar sua obra para empresas. De saída, escolheu uma marca de produtos escolares que, em setembro, deve colocar à venda mochilas, estojos e cadernos com seus desenhos. "Gosto dessa pluralidade. Um quadro é só um quadro. Eu imagino pro meu futuro uma coisa mais Mauricio de Sousa, mais Walt Disney, ou seja, quero que minha arte chegue para as pessoas de muitas maneiras", ambiciona. E não para por aí: "Ainda quero ter meu próprio desenho animado, fazer uma exposição na Ásia e pintar um quadro no espaço. Por que não?".

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