Além de Macanudo

por Cirilo Dias

Em passagem relâmpago por São Paulo (SP), o quadrinista argentino Liniers conversou com a Trip sobre Macanudo, Asterix e coelhos

Publicadas diariamente no jornal argentino La Nación, as tirinhas do quadrinista Liniers ganharam popularidade especialmente pela mistura de humor, poesia e crítica social associadas a personagens que vão do meigo ao insólito, como por exemplo, seu auto-retrato em forma de coelho.

Quem lê as tirinhas autobiográficas do quadrinista argentino, não imagina que o meigo avatar do autor tem um lado de humor negro: “sempre desenhei coelhos, porque acho engraçado. Mas me inspirei também naquele episódio do Monty Python e o Cálice Sagrado onde vários coelhos arrancam a cabeça das pessoas [risos]. Eles podem ser bastante malvados, veja o coelho do Donnie Darko, por exemplo”, diz o autor, que esteve em São Paulo (SP) para lançar seu primeiro livro em português: Macanudo, pela editora Zarabatana Books.

O argentino, que escolheu os quadrinhos como forma de expressão por unir duas paixões suas, desenho e literatura, se surpreende com a popularidade de suas tirinhas, que já foram publicadas em quatro países, “acho incrível meus desenhos serem publicados em outros países. Eu sempre admirei o trabalho da Maitena, que é universal e todo mundo ama, e sempre achei que minhas coisas eram muito estranhas para serem traduzidas. Fico muito contente quando recebo e-mails de leitores da França, Austrália, Canadá, Brasil...”, explica o autor, que durante a sua curta visita ao Brasil, trocou algumas idéias com a Trip.

"Sempre desenhei coelhos porque acho engraçado. Mas me inspirei também naquele episódio do Monty Python e o Cálice Sagrado onde vários coelhos arrancam a cabeça das pessoas"

O que você lia quando criança?
A minha geração cresceu lendo Mafalda e Quino. Eu gostava de ler bastante Mark Twain e outros clássicos como Asterix. Eu me identifico bastante com o Obelix, principalmente quando ele fica apaixonado [risos]. E eu amo El Eternauta [criado por Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López], uma história de ficção científica bastante popular aqui na Argentina. Parece que a Zarabatana vai lançar aqui no Brasil...

Você tem suas ilustrações publicadas em várias publicações argentinas, como La Nación, NO!, . Não te dá um certo medo de perder a liberdade de criação?
Não importa em qual publicação eu desenho, foram eles que se interessaram pelo meu trabalho. Seja uma capa de disco, um pôster, um jornal, tenho a sorte deles olharem o meu trabalho e falarem “nossa, que legal!”. Cruzo os meus dedos e torço para que continue sempre assim. Me sentiria muito mal se alguém me mandasse fazer algo.

Você já fez capas de discos de Andréas Calamaro e Kevin Johansen. Tem algum artista que você gostaria muito de fazer a capa de um disco? Ou então refazer a capa de algum disco clássico?
Nunca me atreveria a fazer outra capa para um disco que eu acho clássico. Nunca mexeria em qualquer capa de um disco do Bob Dylan. Mas gostaria muito de desenhar alguma coisa para o Paulinho Moska, já encontrei pessoalmente com ele algumas vezes, acho um cara bem legal e um grande artista.

Você também fez algumas exposições como artista plástico né?
Sim, pintar uma tela é algo como a hora do intervalo da escola. Quando trabalho com ilustrações tenho que ser bastante racional, quando pinto sou bastante intuitivo.

Você também publicou um livro chamado Warhol para principiantes (em parceria com Santiago Rial Ungaro) . Por que esse nome?
É uma biografia ilustrada por mim, usando várias fotografias como referência. É apenas uma biografia básica. Dois meses atrás eu encontrei o Lou Reed e dei o livro pra ele, e ele gostou bastante.

Você pretende desenhar algo sobre o Brasil?
Tudo o que está perto de mim ou ao meu lado fui colocando no papel, então é bem provável que saia alguma coisa em breve.

E como surgem as idéias para as ilustrações?
Apenas faço o melhor que posso, algo que eu realmente gostaria de ler, nem sempre funciona.

Além dos coelhos, por que pingüins?
Porque gosto muito do Chaplin e acho que ele parece muito com um pingüim. E é muito fácil fazer um pingüim parecer engraçado, muito diferente de você tentar fazer uma zebra parecer engraçada [risos]. Para um cartunista é bastante útil.

E o que mais te impressionou aqui em São Paulo?
Quando nós estávamos pousando durante o dia, uma coisa que me impressionou foi essa cidade que nunca termina, cheia de prédios. Logo pensei, “Meu Deus, como isso é impressionante”. E estou bastante ansioso para ver como é essa cidade de noite, visto da janela do avião.

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