por Redação

Da Nigéria para o mundo vem a idéia de um cinema sem grandes estúdios, sem grandes verbas e... sem cinemas

Por Ronaldo Lemos* // Foto Fernando Laszlo

Há um cinema novo. Um cinema que não depende de estúdios, nem de muito dinheiro. Um cinema local, capaz de falar de temas locais e ser bem-sucedido economicamente. Feito pelo povo e para o povo. Um cinema que não depende nem mesmo de salas de cinema.

Onde encontrá-lo? Em primeiro lugar na Nigéria. O último atlas do cinema mundial feito pela prestigiosa revista Cahiers du Cinéma inclui a Nigéria entre os maiores produtores de filmes do mundo (mais de 800 por ano). Algo muito curioso para um país que simplesmente não possui salas de cinema. O milagre deve-se ao surgimento de um mercado de filmes feitos para serem vendidos diretamente em DVD. E ainda mais interessante: por camelôs – todos os filmes são vendidos nas ruas, por menos de três dólares.

O resultado: filmes que vendem centenas de milhares de cópias, sustentando uma das indústrias que se tornaram mais promissoras na Nigéria em termos de geração de empregos. O excelente Osuofia em Londres já ganhou inclusive continuação, igualmente bem-sucedida. Os filmes começam a se tornar febre em outros países africanos e um canal de TV por satélite dedicado exclusivamente a eles está a caminho.

Os temas são de fazer torcer o nariz qualquer apreciador de "alta-cultura": tratam de feitiçaria, prostituição, enredos policialescos e comédias de costume. Em outras palavras, tudo ótimo, ao gosto do público para o qual os filmes são destinados. O sucesso e a diversão são garantidos.

O curioso desse modelo é que dentre o seleto grupo de quatro ou cinco países que venceram Hollywood na competição cinematográfica global (como Coréia e Índia), esse é o modelo que faz mais sentido para a realidade dos países em desenvolvimento: filmes locais, de baixo custo, feitos em vídeo, com apelo direto para seu público e que são vendidos por vendedores de rua.

Há sinais de que esse cinema povo está acontecendo também no Brasil. Há notícias que o fenômeno está acontecendo de Manaus a São Carlos. Sem falar no gigante mercado de DVDs musicais populares. Quer comprar DVD de funk carioca ou de forró eletrônico? Fale com o seu camelô mais próximo: eles são produzidos para serem vendidos exclusivamente através dele. Mais do que nunca, somos nós na fita.

*Ronaldo Lemos é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio e um dos fundadores do www.overmundo.com.br

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