No futuro de Paul Mason, vamos parar de trabalhar muito para comprar coisas demais

Conversar com o inglês Paul Mason (foto) é ter acesso a um mundo que ainda não existe, mas está próximo. Máquinas farão o trabalho que hoje é executado por operários, atendentes de telemarketing, motoristas. As pessoas poderão se envolver mais em atividades produtivas, e todos serão “ricos” para ter um smartphone novo ou um carro elétrico.

É nesse cenário, abordado no livro Postcapitalism, que, segundo Mason, o capitalismo não existirá mais. Para o autor e editor de economia da BBC, estamos no caminho de uma revolução que, se bem conduzida, nos levará a uma utopia. Em vez do desemprego generalizado e da crise social e do meio ambiente — o futuro que temem alguns —, Postcapitalism argumenta que iniciativas colaborativas e pequenas cooperativas podem “libertar” todos de um sistema em que trabalhamos muito para comprar coisas demais.

O que será a utopia do pós-capitalismo? Não penso nisso como uma utopia. O objetivo principal é promover abundância — primeiro de informação, depois de tudo que pode ser barateado. Matérias-primas e energia continuarão escassas, mas, como [o economista John Maynard] Keynes, eu argumento que a vida irá mudar e não será mais dirigida pela necessidade.

Quais novos negócios irão prevalecer?A Wikipedia e cooperativas de produtores são os verdadeiros embriões do novo modelo de negócios. Para o capitalismo sobreviver, precisaria encontrar uma solução para o cenário no qual a automação em massa acontece [e os empregos acabam]. Eu não acho que possa.

Haverá mesmo um tempo em que tudo custará quase nada? Sim, exceto matérias-primas e energia. A única maneira de escapar do “custo marginal zero” será comercializar o trabalho humano a um nível mais micro — coisas como venda de sexo, cuidados infantis, assistentes pessoais. Mesmo assim não será algo de grande valor.

Como o pós-capitalismo vai lidar com as mudanças no clima? Se não fosse o desafio do clima, o pós-capitalismo poderia ser um projeto lento. Mas é preciso medidas decisivas para mitigar a mudança climática. Isso significa que os governos devem intervir antes para suprimir as forças de mercado ou reformulá-las para incentivar o consumo de energia sem emissões de carbono.

O que você acha dos pessimistas que veem o futuro como uma crise eterna de desemprego, desigualdade e problemas climáticos? É esse exatamente o futuro se continuarmos indo como estamos. No livro, eu tento projetar uma solução holística baseada em objetivos, não sonhos.

Créditos

Imagem principal: Arquivo Pessoal

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