por Paulo Lima
Trip #247

”Escolhemos chamar de utopia, como bem poderíamos ter chamado de revolução espiritual. Explico: trata-se de um shift na maneira de pensar.”

Há cerca de dois anos, quando começamos a lançar uma série de edições da Trip antecipando o panorama de frustração generalizada e de desencanto com os rumos do país (e em boa medida do mundo), houve quem questionasse nossa decisão e não faltaram comentários sobre o que seria um tom pessimista demais e, até certo ponto, alarmista.

Possivelmente, agora não faltarão dedos para apontar para algo que deve pendular entre a ingenuidade e uma crença excessiva, e quase infantil, na capacidade de se reinventar da espécie humana. Mas a verdade é que, depois de trazer ao palco todas as cores de uma embicada nacional que, vale frisar, lamentavelmente é suprapartidária e pouco parece ter a ver com este ou aquele grupo de pessoas, partimos para o corner oposto: onde estariam afinal as visões e as experiências que poderiam erguer suficientemente a lente para que pudéssemos voltar a acreditar numa humanidade e num país que façam sentido?

Esta edição da Trip – que hoje extrapola largamente o limite do papel e avança pela TV aberta, pelas redes sociais, pelas ondas do rádio, por eventos presenciais e chega ao exterior (a versão alemã completou cinco anos) – pôs-se a identificar pessoas, projetos e ideias que conseguem sobrevoar a poeira de uma espécie de hecatombe lenta que vem aniquilando economias, matando crianças e adultos em desesperada fuga da violência de seus países e detonando o ar e a água de que precisamos. Quem são e onde estão essas cabeças?

Escolhemos chamar de utopia, como bem poderíamos ter chamado de revolução espiritual. Explico: trata-se de um shift na maneira de pensar. Uma forma minimamente inteligente, simples e equilibrada de lidar com o que precisamos lidar nesta vida.

No final de agosto, durante o primeiro evento de aquecimento para o prêmio Trip Transformadores 2015 (que acontecerá dia 11 de novembro em São Paulo), o Lama Michel Rinpoche disse algo mais ou menos assim: “Se no fundo tendemos a pensar e tomar nossas decisões de forma bastante egoísta (perseguindo e protegendo aquilo que imaginamos ser nossos interesses e que, sonhamos, garantirá a felicidade), que sejamos egoístas competentes então: acredite, nada nos fará sentir melhor do que produzir a alegria e a paz de espírito em uma outra pessoa”. Lama Michel é um dos homenageados do prêmio este ano e o entrevistado da Páginas Negras.

Lendo sua entrevista e conhecendo as outras pessoas e projetos reunidos aqui, talvez você passe a considerar utopia como a única coisa em que realmente vale a pena acreditar.

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