por Redação
Trip #237

Como estamos vendo? Para onde vai a TV? Especialistas discutem os rumos da televisão


Histórias paralelas

Existe o mito de que a televisão estaria perdendo audiência. Na verdade, acho que ela está ganhando cada vez mais – só que agora ela é multiplataforma. A televisão brasileira talvez conte histórias melhor do que qualquer outra, mas estas começam a ser consumidas também nos tablets, celulares e nas televisões inteligentes. Os produtores de conteúdo precisam encarar esse cenário como uma nova janela para o storytelling. A novela, um campeão de audiência, vai continuar novela, mas não só na TV. Encontrar histórias paralelas na internet é um caminho, com material extra que dê a chance de o consumidor interagir mais com o produto. Vivemos o fenômeno do microcasting a partir da popularização das câmeras digitais e dos smartphones que permitem fazer vídeos. As pessoas passam a gravar suas próprias vidas e disponibilizá-las em plataformas como o YouTube. A essência do YouTube é o microcasting. Essa tecnologia deu poder de manifestação às pessoas. É inevitável citar as blogueiras de moda e maquiagem. A brasileira Camila Coelho, por exemplo, é uma vlogger que fala com a massa. Essas meninas viraram celebridades disputadas pelas marcas tanto quanto as personalidades da TV. Tudo isso pra criar um elo de identificação e atingir esse consumidor que hoje é super on-line.


Onipresença

Para a Globo, o futuro da televisão é claro: estar perto das pessoas e ser relevante para elas. As pessoas precisam ter acesso ao conteúdo da Globo onde e como elas quiserem. Precisamos ser acessíveis em todas as telas, em todos os lugares e momentos. Estamos no negócio de entreter, informar e divertir e temos que fazer isso com o máximo de qualidade. Temos que ser relevantes para ser comentados, criticados, admirados, seguidos e curtidos. Essa relevância virá da nossa qualidade de produção, de criatividade, de inovação; do roteiro à atuação, da busca da informação à sua análise. Em todas as áreas de conteúdo da Globo – seja no jornalismo, no esporte, no entretenimento, na comunicação –, estamos focados na busca dessa qualidade. 

 

Geração multiconectada

A TV reinou soberana nos anos 70 e 80. Na década de 90, assistimos ao início de uma revolução. Primeiro, com a chegada da TV paga em 1991, e, em seguida, da internet. No início ambas eram privilégio de poucos, mas foram se popularizando e hoje estão presentes em grande parte do país. Com a adesão a smartphones e tablets, a internet já pode ser acessada de todos os locais, o que tem mudado os hábitos dos brasileiros. O conteúdo televisivo, que influenciava a interação social à mesa de jantar, passou a ser discutido também nas redes sociais. Para essa geração multiconectada, acessar a internet enquanto assiste à televisão é um hábito frequente que vem se intensificando. O estudo “Social TV”, do Ibope Media, mostra que, nas principais metrópoles brasileiras, pelo menos 6 milhões de pessoas realizam as duas atividades simultaneamente – número quase duas vezes maior do que os 8,7 milhões registrados na versão anterior da pesquisa, divulgada em 2012. Novas formas de consumo ganham espaço. Pelo menos 5% da população afirma ter assistido à TV pela internet nos últimos 30 dias. Ver os seus programas preferidos em horários diferentes dos que foram exibidos é uma realidade para 4% da população brasileira. Destes, mais de 70% gravam pelo aparelho de TV por assinatura, enquanto 13% usam o próprio televisor e 12% utilizam o gravador acoplado ao televisor. Quem imaginaria, há 20 anos, esse cenário? Assistir à TV pelo celular era coisa de filme de ficção científica, mas agora esse tipo de recepção está se expandindo na América Latina. No Brasil, 12% dos portadores de celular afirmam ter essa ferramenta e 42% deles efetivamente a utilizam. Simultaneidade e convergência são as palavras-chave nesse novo contexto midiático.


Série própria

As empresas de televisão terão que se adaptar, abraçar novas mídias e arriscar. A TV americana mudou muito nos últimos anos a partir do momento em que a Netflix entrou no mercado com a estratégia de criar sua própria série – House of Cards – e disponibilizar todos os capítulos de uma só vez para o espectador ver quando e como ele quiser. Houve uma demanda maior por conteúdo de qualidade. Acho que vai continuar existindo espaço para todo mundo crescer: TV aberta, por assinatura e internet. 


TV é passado

A TV vai perder o posto central que ocupa na sala e nas famílias. Por que ser refém de uma programação estática quando se pode ter qualquer conteúdo a qualquer momento – e sem intervalos comerciais? Durante a Copa de 2010, uma campanha foi iniciada no Twitter: CALA BOCA GALVÃO. Foi o assunto mais comentado na rede por dez dias, em escala mundial. Até que o próprio Galvão Bueno foi obrigado a comentar – de forma torta, agradecendo o “carinho dos fãs” – a campanha de pessoas que não suportavam mais a sua voz. Foi um dos primeiros episódios em que a “segunda tela” pautou tão claramente a primeira, no Brasil. Pra mim, a TV já está no passado. E, no presente, se eu mandar ela calar a boca, até consigo. 


TV na nuvem

Para onde vai a TV? Melhor entender antes de onde ela veio. A TV nasceu para mostrar a imagem em movimento e ao vivo. A tecnologia não inventou a TV, apenas a viabilizou. O advento das ondas eletromagnéticas para a transmissão ao vivo de cenas móveis instaurou a “instância da imagem ao vivo”, dentro da qual a humanidade caminha até hoje. Não, a internet não revogou a “instância da imagem ao vivo”, apenas deu a ela nova potência. Internet é TV expandida. Nós vemos vídeos na web. Vemos filmes no celular, filmes interativos (ditos games), clipes no relógio de pulso. Fazemos striptease por Skype. Para onde vai a TV, então? Ora, ela vai para a nuvem. Para o ciberespaço, para a parede da cozinha, para o painel do carro novo. Ainda estará por aí por mais um tempo, como bom capítulo que é da revolução iniciada por Gutenberg, e que ainda está tão longe de chegar ao seu epílogo. Para onde quer que você vá, a TV já estará lá. Ou você acredita que existe meditação além da imagem eletrônica?

 

Ponto de encontro

A TV não vai, ela fica. E cresce e se consolida como ponto de encontro da família para ver filmes, novelas e esportes em altíssima definição. E os tablets? E os celulares? Esses vão servir para matar a saudade da TV quando estivermos longe da sala ou quando quisermos ficar sozinhos ou distantes.

 

Conteúdo que migra

A TV segue na sala, no quarto, em locais públicos. E nas lojas de eletroeletrônicos, com a demanda e cada vez mais opções de devices e diferenciais. Soma-se a isso um comportamento sedimentado nas classes mais baixas e regiões não metropolitanas, que dará à TV aberta uma longa vida ainda. Já o conteúdo, esse vai para onde estivermos. Por mais que no passado a indústria da mídia tenha sinalizado certo receio quanto ao conteúdo nos smartphones, é aí que ele seguirá majoritariamente reinando. Computadores, tablets e novas formas de hardwares serão as outras opções de palco para o nosso ator, o conteúdo. E o conteúdo seguirá rompendo a linearidade das grades de programação, embora essa postura passiva de assistir também se mantenha, como um dos momentos de relax do indivíduo bombardeado por dados.

 

De graça

A televisão aberta nunca esteve tão forte, com mais de 98% de penetração nos domicílios brasileiros. Se fosse inventada hoje, seria a coisa mais genial, porque é conteúdo diverso e de graça. As pessoas assistem à TV porque querem saber o que acontece em tempo real. No futuro deve haver um crescimento muito grande do jornalismo, do entretenimento ao vivo e dos eventos ao vivo. Também haverá um crescimento grande da dramaturgia e do mesmo conteúdo empacotado de diferentes formas. Chiquititas, do SBT, por exemplo, é vista várias vezes. A mesma criança vê no ar, porque não quer perder o capítulo, e no dia seguinte assiste de novo na internet. A TV aberta tem força porque sabe produzir conteúdo. É impossível comparar sua qualidade com a do que é feito por um YouTuber. Outra vantagem é ter conteúdo em português. No Brasil são poucos os que conseguem entender um programa em inglês, e a maioria não gosta de legendas. 

 

Colaborativa e conectada

A TV precisa chegar ao século 21 sendo colaborativa, em rede e conectada com as questões de nosso tempo. A Mídia Ninja passou por um processo de aprofundamento de suas pautas e de busca por narrativas mais complexas. É uma reação que nos leva às origens de nosso trabalho, à PÓSTV, nossa webtelevisão criada na rede Fora do Eixo, que transmitiu ao vivo e de forma pioneira a Marcha da Liberdade em São Paulo em 2011. A rede se distribuiu por todo o território nacional, dando visibilidade a temas fora do circuito tradicional. É a baixa resolução e a alta fidelidade, a TV feita na base da gambiarra, desmonetarizada, mas que fala para muita gente. Nossos desafios agora são qualificar a grade de programação e completar o ciclo de 24 horas on-line, com documentários, programas de entrevistas, inserções de rua e outros formatos.

 

Muito bem, obrigado

 

Sempre que me perguntam sobre o futuro da TV parece que a premissa é: a TV está acabando, né? As novas mídias estão fazendo o “sertão virar mar e o mar virar sertão”. Pois respondo: a TV vai muito bem, obrigado. Contar histórias, emocionar pessoas e engajar gerações ainda é papel dos criadores de conteúdo. Ou seja, de quem faz TV. A FOX entende as mudanças de hábitos de consumo e desenvolveu o FOX Play, uma plataforma on-line com o que oferecemos em nossas transmissões televisivas. Damos a opção aos nossos telespectadores de consumir o conteúdo do canal quando, onde e como quiserem. Mas, essencialmente, muda pouco o relacionamento. O consumidor ainda quer se emocionar e se engajar com produtos relevantes e de qualidade – e isso é o que a TV deve continuar fazendo por muito tempo.

 

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