por Ana Luisa Abdalla
Trip #237

Remando sobre uma prancha pelos tortuosos caminhos aquáticos de cidades holandesas

Nenhum tédio zapear pelos canais da Holanda, numa prancha. É o que garante Alessandro Matero, o Amendoim, primeiro brasileiro a se aventurar no SUP11-City Tour, competição de stand-up paddle, que aconteceu no início de setembro, no país. Amendoim liderou a equipe brasileira que participou dos cinco dias da competição: 220 quilômetros remando por 11 cidades cortadas pelos canais – e emolduradas por um visual de tirar o fôlego.

Amendoim sempre gostou de esportes aquáticos, mas foi em uma viagem para o Havaí que descobriu sua maior paixão: o SUP. No final de 2007 começou a se aventurar no esporte; depois de sete anos de muita prática, aceitou o desafio da competição holandesa, com alto grau de dificuldade. “No terceiro dia de prova o corpo quer parar. Dá vontade de ir embora e desistir”, confessa. Não é à toa: são quatro dias com mais de 40 quilômetros de remada. Depois das primeiras 24 horas começam a surgir calos e bolhas nas mãos, que são as que mais sentem a combinação do excesso de força e umidade. “Precisa de muito cuidado com as mãos. Sem elas não tem jeito: você fica fora da prova.”

 

"Precisa de muito cuidado com as mãos [que ganham calos e bolhas já no primeiro dia]. Sem elas, não tem jeito: você fica de fora da prova"

 

Para aguentar cerca de 6 horas diárias em cima da prancha, também é preciso comer muito bem. Os competidores tomavam um café da manhã farto, com pães, ovos, panquecas e frutas. Amendoim completava com vitaminas todos os dias, mas ainda assim perdeu 5 quilos com a competição. “Você exige demais do seu corpo, mais do que ele está acostumado. O consumo de energia é maior do que o que você consegue dar conta.” Com tudo isso em jogo, o atleta acha que o maior desafio da prova não são nem os canais nem a distância, mas conhecer e saber administrar o próprio corpo, estar pronto para se posicionar próximo ao pelotão de pranchas quando necessário, mas saber a hora certa de seguir sozinho. “Eu diria que força é só 60% do que você precisa para essa prova. Os outros 40% são estratégia.”

Apesar de ter muita experiência – em 40 anos de vida, nunca deixou de fazer esporte – o brasileiro sentiu uma pressão por estar na prova pela primeira vez. A grande maioria dos competidores é mais velha e já participou várias vezes. Então, como novato, Amendoim comemorou seu quinto lugar. “Os três primeiros colocados participaram de todas as edições da competição, e o vencedor deste ano, o holandês Bart de Zwart, foi a primeira pessoa a remar por todo o arquipélago havaiano sem usar nenhum suporte, fazendo da própria prancha uma cama para dormir”, diz.

 

"Você exige demais do seu corpo. O consumo de energia é maior do que o que você consegue dar conta"

 

A prova não é nada fácil, mas as paisagens que cercam os canais são de uma beleza ímpar. Além dos famosos moinhos, abraçados por muito verde, e das ruas cheias de bicicletas, os canais margeiam os quintais das casas, com moradores sentados em suas varandas acenando para os atletas. A quantidade de
canais impressiona. “Tem mais canal do que rua”, ri. Isso faz da Holanda o lugar perfeito para sediar a competição, que reúne cerca de 80 atletas de todos os cantos do mundo. Abrigados em veleiros do século 19, os competidores não são separados por nacionalidade, o que faz com que as equipes compartilhem suas casas temporárias com norte-americanos, holandeses, franceses, alemães e até competidores das Ilhas Guadalupe. Para Amendoim, o intercâmbio cultural tornou a estadia ainda mais especial. “Língua não é nenhuma barreira. Não importa o idioma que você fale, alguém vai entender.”

A equipe brasileira composta por Amendoim contava também, competindo na categoria time, com André Bianchi e Rodrigo Loeb, que revezavam os dias de remada e ficaram com o segundo lugar, além de Fabiano Spohr, Adriana Boccia e Luciana Cox. Enquanto Fabiano fez apenas um dia de prova, Adriana e Luciana competiram no solo feminino. Amendoim voltou para o Brasil apaixonado pela prova e diz que vai voltar nos próximos anos. Como ele mesmo brinca, “é pra quem gosta de sofrer”. E ele adora.

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