Além do Fla x Flu

por Alê Youssef
Trip #236

Marina Silva e as pessoas que a cercam são merecedoras de um papel histórico


Marina Silva e as pessoas que a cercam são merecedoras de um papel histórico: o de cravar no cenário político brasileiro uma terceira via constituinte

Escrevo esta coluna debruçado na primeira pesquisa do Datafolha sobre a sucessão presidencial, após a trágica morte de Eduardo Campos. Os números revelaram Marina Silva com chances reais de chegar ao segundo turno e de vencer as eleições de outubro. Obviamente a emoção do momento conta muito nessa fotografia que é a pesquisa, e você, leitor/eleitor, já leu muito a respeito e pode estar em um ambiente político diferente ao ler este texto quando for publicado. 

Entretanto, mesmo com eventuais rumos momentâneos diferentes, deve persistir algo novo no ar. Como sabem, depois de anos de militância e atuação cultural e política, em 2010 me juntei ao projeto de Marina para engrossar a criação de uma alternativa que rompesse a polarização da vida nacional entre PT e PSDB. Quem me acompanha por aqui sabe o quanto acho que essa radicalização entre esses dois lados atrapalha o país e faz com que os políticos aproveitadores de sempre ganhem cada vez mais espaço. 

Concordo com a tese do “peemedebismo” do filósofo e cientista político Marcos Nobre, de que existe um acordo tácito entre esses dois partidos, que mantém a polarização e a expectativa de poder de ambos. Partidos como PMDB, DEM (ex-PFL) e outros nanicos também se beneficiam, colando em um lado ou outro de acordo com a maré, vendendo o peixe da tal governabilidade. 

Passados quatro anos da experiência política intensa e com minha vida tão diferente, agora dedicada aos meus projetos na TV e à política fora de partidos, sinto uma responsabilidade especial como colunista, por ser próximo de Marina Silva e das muitas pessoas que a cercam. Posso atestar que são merecedoras desse papel histórico, de cravar no cenário político brasileiro uma terceira via consistente. Trata-se, antes de qualquer mudança específica, de um projeto que pode apresentar para o Brasil um novo modelo de desenvolvimento comprometido com asustentabilidade e com alicerces baseados no crescimento humano, com investimento em educação integral e projetosde inovação tecnológica e social.

RENOVAÇÃO

Sou otimista. Acho que ganha o Brasil por não fi car refém do Fla x Flu dos últimos anos, em que as diferenças entre os projetos acabam se decantando diante das semelhanças da prática eleitoral. Acredito que ganhem os grandes partidos também, com a força renovada de uma terceira via: os lados opostos podem resgatar suas identidades e sair desse papel puramente pragmático e pouco útil para a política brasileira. 

Com isso, talvez a chama da participação política possa reacender na sociedade – em todos os partidos e matizes da política – para que possamos fazer mais do que apenas reclamar. Em outras palavras, estou certo de que o jovem tucano, petista, socialista, liberal ou da Rede será protagonista dessa renovação e se engajará de um jeito muito mais efetivo, se o preto e branco da política atual se colorir e mostrar as diferenças claras de projetos e ideias para o país. 

O ressurgimento do gosto pela política na nossa sociedade será um dos grandes legados de Eduardo Campos, que desde muito jovem demonstrou tremenda vocação pública. Participar da política é o melhor jeito de demonstrar que não vamos desistir do Brasil. Que sua história nos inspire.

*Alê Youssef, 39, é apresentador do programa Navegador, da Globonews, comentarista do programa Esquenta!, da TV Globo, advogado e produtor. Seu e-mail é alexandreyoussef@gmail.com

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