Emmanuelle Saeger

por Felipe Maia
Trip #234

Aos 34 anos, divide sua nudez com o mundo como uma espécie de manifesto

Emmanuelle Saeger nasceu na Bahia, cresceu em São Paulo, tem nome francês, estudou design, trabalhou como publicitária, tornou-se galerista de arte. Aos 34 anos, divide sua nudez com o mundo como uma espécie de manifesto: “Há uma razão política em posar”

Ela conta sorrindo que o nome, Emmanuelle, é coisa de cinema. Vem da icônica (e tórrida) série de longas-metragens dos anos 70 que marcaram toda uma geração que queria liberdade sexual.

Também é entre risos que ela fala dos estereótipos que cercam seus conterrâneos: nascida na Bahia em 1979, Emmanuelle Saeger de Carvalho, a Manu, carrega e conhece o ritmo de lá. “Embora todo mundo fale da baianidade como um jeito mais tranquilo, na hora do vamos ver o batuque é diferente”, diz.

Quando sente falta das raízes, Manu cozinha em casa. Não tem medo de acarajé quente demais nem de vatapá além da conta. “Acho que sou privilegiada por nunca ter malhado e comer tanto.” Também carrega tudo quanto é patuá da terra de todos os santos – ela já passou por terreiros e flertou com o espiritismo. “Já fui de todas as religiões.”

Hoje a moça é cristã, mas não vê problemas com a nudez profana. “Eu nunca tive pudor com meu corpo”, conta ela, lembrando que, por outro lado, o ensaio pode fazer corar sua família. “Sempre fui a favor do nu que não é necessariamente sexual, na busca por algo mais natural.” Com seus olhos acastanhados sob intimidadoras sobrancelhas negras, ela vê uma razão política nas suas curvas desveladas.

Designer de formação, já trabalhou como publicitária – inclusive na área comercial da Trip – e desde 2012 se dedica a lançar novos artistas nacionais. Ela é dona da Hotel Galeria, espaço em São Paulo que, nas suas palavras, hospeda artistas e curadores. É a São Paulo, aliás, que ela credita a vontade de fazer acontecer, embora o gosto pela criação despretensiosa venha mesmo é da terra natal.

“Sempre fui a favor do nu que não é necessariamente sexual, na busca por algo mais natural”

O ensaio para estas páginas nasceu nesse mesmo espírito. As fotos descompromissadas ficariam apenas entre ela e o fotógrafo, o amigo Flavio Teperman. “Eu fiz o ensaio pensando em um segredinho nosso”, confidencia. Mas o resultado é tão bom que a dupla decidiu dividir com o mundo. A seguir, Emmanuelle Saeger, uma menina baiana cheia de encantos, como diz a música de Gil, que fala o que pensa.

Corpo e nudez Eu acho que gosto da minha barriga, que eu não tenho. Eu gostava muito do meu peito, mas eu tenho cicatriz porque tirei um cisto. Minha cicatriz é cicatriz de guerra. Sou sobrevivente de guerra. Tive de operar e operei. Eu nunca tive pudor com meu corpo. Isso foi uma das razões que me fizeram aceitar a publicação do ensaio. Eu sempre fui muito a favor do nu não sexualizado. Talvez essa seja uma razão política para ter topado posar. Já tenho 34 anos, tenho minhas celulites, minhas coisas, nunca malhei na vida. Mas não tenho problema, principalmente porque o fotógrafo é meu amigo há 12 anos. É uma coisa muito natural. Não tive vergonha.

Tabu? Minha família vai odiar o ensaio, mas, se eu acredito que tenho de estar nua pra mostrar que isso não necessariamente é vulgar ou sexual, eu vou ficar nua. Se eu tenho que ficar nua para mostrar que uma mulher depois dos 30 ainda está ok, bonita e gostosa…Tem que fazer. 

“Acho que corre no sangue a baianidade. Ser baiano não sai de dentro de você nunca”

Bahia Morei lá até os 8 anos, aí vim morar em São Paulo. Acho que corre no sangue a baianidade. Vem do cabelo pixaim até o jeito de ser. Toca qualquer música e saio dançando. Ser baiano não sai de dentro de você nunca. Mesmo que eu tivesse nascido lá e morado aqui a vida inteira.

Arte Tenho uma galeria. Caí na arte de paraquedas. Achava aquilo distante, elitizado, careta, muito diferente de mim. Meu contato com a arte foi depois de 12 anos trabalhando com publicidade. Aí fui estudando, estudando, mas também com esse lado informal de conversar com as pessoas. Comecei a questionar essa coisa da representação, aí vim com esse conceito da não representação, da hospedagem. Me atrai no mundo da arte quando o processo criativo não é pensado para o mercado. Isso é muito distante da alma de artista, essa alma despreocupada.

Manifestações Não sou ativista. Mas também não faço politicagem, no sentido de fazer algo que vá agradar o outro. Faço o que é certo, luto pelo que acredito. Eu estava em Salvador quando teve a grande manifestação que lotou a Faria Lima [em São Paulo, no dia 17 de junho do ano passado]. Lá foi “queremos pagar menos pelo busão”. Fui pra rua. É difícil pôr a cara pra bater, é difícil ser perseguido. Mas manifestar sua verdade vai inspirar outras pessoas, tocar outras pessoas. Isso é importante.

 

Créditos

Agradecimentos Roberto Pessoa/ Ricardo Melegatti/ StudioARQBR/ Fawsia Borralho/ Tubi Schiavetti/ Loungerie/ Tadeu Melegatti

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