A copa era nossa

por Lia Hama
Trip #233

Em 1986, uma trupe de artistas do circo voador invadiu Guadalajara e fez a festa da seleção

Em 1986, uma trupe de artistas do circo voador invadiu Guadalajara e fez a festa de jogadores da seleção brasileira

Copa do México, 1986. Num dia de folga da seleção brasileira, os jogadores Casagrande e Alemão vão a um show de Alceu Valença no Circo Voador em Guadalajara. A trupe de artistas cariocas havia levantado lona na cidade mexicana numa missão cultural para acompanhar as partidas do mundial. Suado e com a camiseta amarrada na cabeça, Casagrande pula e dança sem parar junto com o companheiro de folia, Alemão, que depois declara empolgado: “O Circo foi a melhor coisa que aconteceu aqui”. Outros integrantes da equipe de Telê Santana, como Sócrates, Júnior e Careca, também vão ao local. As cenas podem ser vistas no documentário A farra do circo, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, em cartaz nos cinemas.

A seleção brasileira foi eliminada nas quartas de final numa partida traumática contra a França, mas a aventura do Circo Voador é lembrada às gargalhadas. “Foi uma bagunça do começo ao fim”, conta Roberto. Numa viagem patrocinada pelo governo brasileiro e pela Coca-Cola, 240 pessoas participaram da turnê de três semanas em terras mexicanas. “Tinha gente de música, dança, teatro, poesia. Nomes como Alceu Valença, Chacal e Gringo Cardia. Estava previsto um show dos Paralamas do Sucesso na Cidade do México, mas a seleção foi eliminada antes”, afirma Perfeito Fortuna, 64 anos, fundador do Circo e líder da empreitada.

Metade da trupe viajou num avião de carga da Força Aérea Brasileira. “Não tinha nem lugar para sentar. Fomos todos espremidos no meio das bagagens. E aconteceu de tudo lá dentro: de sexo, drogas e rock’n’roll a falta de combustível no meio do caminho”, lembra Roberto. O fumacê ilegal levou o Jornal do Brasil a apelidar o grupo de “esquadrilha da fumaça”. No México, a farra continuou. “Colocaram a gente num ginásio afastado do centro, aonde o público não ia. Então fomos aos estádios. Nós levávamos trio elétrico para as ruas, fazíamos rodas de capoeira, soltávamos balões em protesto contra a energia nuclear. A gente causava”, diz Perfeito.

No meio da turnê, a Coca-Cola retirou o patrocínio. “O que desanimou foi a desorganização tanto das autoridades do Circo como do governo. Ninguém sabia nada, nem mesmo a programação”, justificou uma porta-voz da empresa no filme. “Era tudo muito bagunçado mesmo, éramos um bando de moleques”, concorda Perfeito, dando risada. E conclui: “Eram outros tempos, o futebol era outro. Hoje é um grande negócio internacional, seria impossível repetir a experiência. Olhando para trás, vejo a loucura que foi, mas a gente se divertiu muito”.

Vai lá: A farra do circo em cartaz nos cinemas de São Paulo e do Rio

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