Procuram-se antídotos

por Paulo Lima
Trip #232

Segundo a filosofia do budismo tibetano, há 85 mil venenos da mente neste mundo

Segundo o que ensina a filosofia do budismo tibetano, há nada menos que 85 mil venenos da mente neste mundo. Mesmo não tendo tido os mesmos 2.500 anos para procurar e contar venenos por aí, é possível que muita gente ainda ache pouco. E isso sem considerar os venenos do corpo, que podem, fácil, fácil, somar outros 85 mil, se não mais.

O ar cada vez mais podre que inalamos hoje, por exemplo, tem por si só matado prematuramente 7 milhões de pessoas por ano. São dois Uruguais (ou duas Jamaicas para quem preferir) indo para a cova mais cedo todos os anos por conta de gases tóxicos expelidos por chaminés e canos de descargas de carros e motos.

O que você verá nesta edição, mais do que tudo, é a continuação da nossa permanente busca não só por identificar os venenos, mas por detectar e espalhar antídotos por aí.

Nessa linha, a especial repercussão da edição anterior de Trip e também de Tpm, ambas focadas exclusivamente na discussão do racismo no Brasil, em outra situação poderia ser alvo de comemoração. Afinal, foram dúzias de impactos, que vão desde o Esquenta!, um dos principais programas da TV aberta brasileira, a grandes jornais e centenas de espaços e menções nas chamadas redes sociais, aprofundando e reverberando as reflexões que inspiramos. Ocorre que, desgraçadamente, o que ajudou muito a colocar nossas revistas, sites e programas no centro das luzes foi exatamente o aumento da dose desse veneno chamado preconceito. Mais mortes injustificadas de jovens pobres e negros por aqui, manifestações contra jogadores de futebol na Europa e outras aberrações. O antídoto seria insuficiente diante do grau de toxicidade do veneno?

Continuamos achando que não. 
E vamos persistir tentando desempenhar a tarefa que nos cabe, a de pensar criticamente sobre o mundo em que nos metemos.

E, para isso, passaremos a contar com um enorme inoculador de antídotos a partir de agora. Dia 15 de maio estrearemos o programa de televisão TripTV numa das maiores redes de televisão aberta do Brasil. Com a consciência clara de que a tecnologia, a informação e a mídia, como tudo, aliás, podem ser venenos ou antídotos conforme a maneira que forem usadas, podemos garantir que todos os nossos esforços estarão focados em repetir, no meio de comunicação mais acessado pela população do país, o mesmo trabalho quase obsessivo que completa em agosto 30 anos em rádio (o programa TripFM estreou em 1984), 28 anos em revista impressa e 18 anos na internet.

Por mais que o peso da régua pareça cada vez maior e às vezes, diante da leitura dos jornais, sinalize na direção do insuportável, vamos persistir em tentar erguê-la. Assim, nossa missão, agora também nas noites de quintas e sextas na TV aberta e por todo o Brasil, será reafirmada e fortalecida: Transformar positivamente a sociedade como um grupo capaz de interpretar o comportamento humano com sensibilidade aguçada, mergulhar na diversidade, antecipar movimentos e produzir reflexões e conexões originais, expressando-as de forma emocionante sempre e em todas as plataformas.

Em resumo, procurar e espalhar antídotos.

Paulo Lima, editor

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