por Jerônimo Rubim
Trip #230

Ela nasceu há 26 anos em Suzano, interior paulista. Mas por lá não ficou muito...

Luciana Pádua nasceu há 26 anos em Suzano, interior paulista. Mas por lá não ficou muito. Já morou na Bahia, na periferia de Buenos Aires e, agora, pode ser encontrada em Paraty, onde vive fazendo massagem na praia. “Um lugar a cada dois anos”, é o seu mantra

Ficar ou ir embora? A decisão só depende do que Luciana Pádua estiver a fim de fazer no dia em que essa dúvida surgir. “Não é o lugar que vai te fazer feliz. Ajuda, mas a felicidade está dentro de ti”, resume. Criar raízes não combina mesmo com esta paulista de 26 anos, que já carregou sua felicidade por muitos lugares. Resolveu “sair do seu mundinho” aos 19, largou a casa dos pais em Suzano e desde então não sossegou mais. Participou de um projeto ecológico que não deu certo em Campos do Jordão, curtiu a vida na Bahia, morou na periferia de Buenos Aires. “Um lugar a cada dois anos” é o que tem de mais parecido com um plano. A mãe chama ela de passarinho. E, segundo a dona Sueli, passarinho a gente tem que soltar.

A proposta só não teve sucesso em São Paulo, onde a estada durou apenas três meses. “É que não consigo ficar longe da terra, do verde, da qualidade de vida...”, diz a bela. Os dois dias que passou na capital para escolher as fotos deste ensaio já foram um suplício. Não é fácil enfrentar o cinza barulhento de uma metrópole para quem morou em sítio quando pequena, tomando leite de vaca recém-tirado e andando de pés descalços. Puxou essa sanha de mato do avô, que fugia da cidade sempre que podia. “Não me vejo longe da natureza.”

Foi talvez por isso que ela e o namorado argentino adotaram a histórica Paraty, no litoral fluminense, como atual residência. Ela queria voltar para o Brasil e os dois saíram da capital argentina mochilando por aí. Gostaram do casario colonial cercado de mata atlântica, reservas ecológicas, praias, ilhas e do cotidiano vagaroso, agitado apenas de vez em quando por festivais e turistas vindos de todos os cantos. É esse movimento que garante o sustento dos dois massoterapeutas, que passam seus dias relaxando pessoas na areia, à beira-mar. Trabalham. Mas nem tanto. “O ser humano não foi feito para trabalhar 8 horas por dia, então eu trabalho menos pra poder praticar esportes, andar até as cachoeiras, aproveitar... Eu nunca trabalharia em um escritório!”, garante. Claro, passarinho não foi feito para viver em gaiola.

 

“Gosto de provar tudo. Não há só uma verdade na vida, há várias. E pode haver uma para cada momento”

 

A escolha da primeira profissão já denunciava a inaptidão para o comodismo: formou-se técnica em turismo, trabalhou com recreação em museu e hotel. Respeitando as próprias regras, resolveu mudar de área e estudar biologia, que cursou por – imagine a coincidência – dois anos. Luciana se considera uma bióloga de alma. “Gosto de provar tudo. Não há só uma verdade na vida, há várias. E pode haver uma para cada momento”, acredita.

Ela solta suas frases com rapidez e segurança, parece orgulhosa de sua inconstância. Há um bocado de energia concentrada em seu corpo de apenas 1,63 metro. Se não está na areia trabalhando, está nas ondas de Ubatuba com sua prancha. Ou praticando tai chi chuan. Ou fazendo trilhas pela mata. Ou circulando de bicicleta por aí. Essas são as escolhas do momento, mas a miríade de atividades que experimentou passa ainda por variedades como handebol, ioga, vôlei e kung fu – estilo yi chuan.

Por isso este ensaio não poderia ter sido feito em melhor lugar. Paraty, entre a serra e o mar, no meio do mato, dentro da água, Luciana enterrando os pés na areia, se sentindo em casa. “Foi lindo! Deu aquela meia hora de vergonha, mas eu tô alucinada... Foi muito puro, uma brincadeira, tudo muito natural”, empolga-se. E o Brasil, é mesmo o seu lugar? “Neste momento, sim.”


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