Celular, o melhor amigo

por Ronaldo Lemos
Trip #213

Ronaldo Lemos: no ranking do uso do celular, fazer ligação fica em quinto lugar

Uma pesquisa na Inglaterra aponta para uma mudança radical no uso do celular. No ranking das funções mais utilizadas, fazer ligações ficou em quinto lugar. Em primeiro está navegar na internet e, em segundo, acessar as redes sociais

Qual é o melhor amigo do homem (ou da mulher)? Uma resposta mais adequada aos tempos atuais seria o celular. Uma pesquisa da operadora 02 na Inglaterra mostrou o que parece ser o prenúncio de uma mudança significativa de hábitos com relação ao uso dos telefones móveis.

Muita gente pensa que a killer application (a funcionalidade considerada “essencial”) do celular é a possibilidade de fazer ligações de voz. No entanto, a pesquisa da 02 mostrou uma mudança radical. Entre os usuários de smartphones, o uso do celular para ligações ficou em quinto lugar no ranking das funcionalidades utilizadas, ocupando menos de 12 minutos de uso diário. Em primeiro lugar ficou a atividade de navegar pela internet, ocupando 28 minutos por dia. Em segundo, o acesso a redes sociais, com 17. Ouvir música ganhou a terceira posição, com 15. E os games ficaram em quarto lugar, com 14 minutos.

Por conta disso, há operadoras considerando uma mudança radical nos planos de assinatura. Hoje eles são estruturados em torno da voz: o usuário paga uma tarifa mensal, garantindo um pacote básico de minutos de ligação. A tendência aponta no sentido de tornar a voz um serviço gratuito (ou a custo muito baixo) e cobrar, por sua vez, pelo uso da rede e volume de dados consumidos (claro que a concretização dessa tendência no Brasil, onde 80% dos aparelhos são pré-pagos, vai ter um ritmo diferente). 

Há até os mais radicais propondo que a palavra telefone seja excluída da expressão “telefone celular”: fazer ligações é apenas uma das múltiplas funcionalidades do aparelho, e vai deixar de ser a mais importante.

Abismo digital 
O fato é que os celulares estão abrindo portas para novas formas de sociabilização. Basta pensar no “abismo” digital que se formou entre jovens e adultos com o uso do aparelho. Nos EUA, quem tem entre 18 e 24 anos envia e recebe em média 3.200 mensagens por mês. O número cai para 1.200 para quem tem entre 25 e 34. E para 750 para quem tem entre 35 e 44.

Esse abismo é visível na prática. Para saber a que geração você pertence basta fazer o teste: você consegue enviar mensagens pelo celular sem olhar para o teclado? A geração mais jovem envia textos com o celular debaixo da mesa, dentro do bolso do casaco ou enquanto conversa com você (ou “presta atenção” na aula).

Faz sentido. Para os jovens o celular virou um canal de comunicação em que há privacidade. Por exemplo, é comum irmãos trocarem mensagens entre si dentro do carro, quando não querem que os pais participem da conversa. É um espaço de existência para os jovens longe da supervisão dos adultos.

Vale lembrar também a nova geração de aplicativos para celular, que promove o encontro casual entre pessoas que estão próximas. Eles criam formas de relacionamento completamente novas na cidade. Basta perguntar para o público gay sobre o impacto de aplicativos como o Grindr na geração de relacionamentos casuais. A tendência é que esse modelo de redes sociais, móvel e baseado no celular, chegue também para públicos mais amplos, independentemente da orientação sexual.

Com isso, a vida na cidade vai sendo cada vez mais mediada pelo celular. Em breve, vai ser preciso criar um plano de desconexão, útil para se lembrar como era a vida sem ele.

*Ronaldo Lemos, 36, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br

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