por Paulo Lima
Trip #208

”Não importa se palavras de poder saem de uma letra de Wando ou do mais incrível oráculo”

Fenômenos climáticos inexplicáveis, tsunamis devastadores, enchentes, terremotos e temperaturas nunca antes experimentadas. Europa de pernas para o ar e pires na mão, Estados Unidos tentando a duras penas reconstruir seu sistema econômico/financeiro parcialmente arruinado. Irã fazendo demonstrações com suas varetas de reatores atômicos tinindo de novas, fundamentalistas religiosos tocando o terror no Oriente Médio, chineses batendo recordes de consumo e de lixo, corrupção instalada em todas as instâncias de poder no Brasil e na maioria dos outros países, altíssimos e crescentes índices de mortalidade em consequência de hábitos alimentares estúpidos e excessos dos mais variados, novas e velhas drogas aniquilando comunidades inteiras...

Quem quiser provar a tese de que vivemos um momento obscuro do planeta não terá muita dificuldade para reunir e empilhar argumentos. Diante dessa lista de evidências, o jornalista mineiro Lauro Henriques Júnior resolveu deixar sua estofada e giratória cadeira numa grande corporação e partir para uma viagem de dois anos. Durante esse período, Lauro entrevistou 26 das mais notáveis autoridades em autoconhecimento e espiritualidade. Um grande professor de física quântica, o expoente do espiritismo no Brasil, o responsável pela introdução da ioga no país, uma ex-jornalista que se tornou monja budista, um líder de alta insígnia da igreja católica, um dissidente dessa mesma igreja, um estudioso das terapias psicanalíticas, um mestre em cabala, um dos mais sérios ativistas da ayahuasca no Brasil (o mesmo Alex Polari, que você verá nas nossas Páginas Negras)... Gente que levou a busca que cada um de nós de alguma maneira empreende a profundidades difíceis de alcançar. O que essas 26 pessoas especiais teriam a compartilhar com seus contemporâneos, neste momento complexo em que o mundo e todos nós por consequência estamos metidos?

É simples

A fascinante convergência entre as visões de todos esses sábios de altíssimas patentes, donos das mais distintas biografias, é algo tão instigante quanto animador. Numa simplificação levemente perigosa porém absolutamente defensável, as “palavras de poder” colhidas por Lauro, no livro de sua autoria que leva esse nome, não diferem de maneira significativa daquilo que dois surfistas cariocas enxergaram nos anos 70 quando resolveram mudar suas histórias, do que diz um poeta cego que ganha a vida pelas ruas de São Paulo ou do que concluiu Arthur Veríssimo depois de uma incursão ao mundo das trevas... nem mesmo daquilo que o precocemente falecido rei do brega romântico Wando parecia querer expressar nas infinitas canções que compôs entre uma chuva de calcinhas e uma rajada de sutiãs. Não importa se as palavras de poder saem de uma letra de Wando –como a que inspira o título deste editorial e da nossa entrevista–, ou dos mais incríveis oráculos. No fim, o que interessa de verdade, é de uma simplicidade luminosa.

Paulo Anis Lima, editor

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