Carrinho camarada

por Luiz Guedes
Trip #205

O ’comunista’ Lada chegou ao Brasil como símbolo de progresso mas caiu no ostracismo

O “comunista” Lada chegou ao Brasil como símbolo de progresso. Mas logo a novidade virou velha: feioso e ultrapassado, o carro caiu no ostracismo

O ano de 1990 nasceu repleto de esperanças para os brasileiros. O sentimento do agora vai, do Pra Frente Brasil, do 90 milhões em ação, do Ame-o ou Deixe-o tão propagado pelos militares finalmente parecia fazer sentido. Na indústria automobilística, a promessa de progresso se traduzia na abertura do mercado aos modelos importados. Seria o fim da era das “carroças”.

Em meio a esse turbilhão de emoções, a russa Lada saiu na frente das outras marcas e foi a primeira a aportar aqui. Restrita até um ano antes ao lado leste do muro de Berlim e aos poucos mercados que mantinham relações com o “mundo comunista”, a marca fez valer seu pioneirismo e atraiu para suas concessionárias milhares de compradores tupiniquins.

Mas o sucesso não duraria muito. A chegada da concorrência com veículos mais avançados tecnologicamente e bem mais confortáveis logo revelaria que os modelos russos não passavam de produtos tão ou mais ultrapassados que os produzidos pela indústria nacional (o Lada Laika, por exemplo, era baseado num projeto desenvolvido pela Fiat na década de 60).

Obsoletos e sem aprimoramentos da matriz, os Lada despencaram nas vendas e no conceito do agora exigente consumidor nacional. Nem mesmo a mecânica robusta, elaborada para enfrentar as rígidas condições do inverno russo, salvou a marca, que encerrou suas atividades aqui em meados de 1997.

“Ao menos o preço era atraente”, destaca o médico Álvaro José Faria de Souza, 29 anos, proprietário de um raro Lada Laika SW, recentemente restaurado com peças importadas da Rússia. Apesar de fã do modelo, ele concorda que até mesmo no visual os russos deixavam a desejar: “Quando você vir o que oferece e o preço, começará a achá-lo lindo”, brincava a publicidade oficial da época. E por que alguém teria um malfadado Lada atualmente? “Alguns são viciados em drogas, outros em jogos. Eu sou viciado em Lada”, afirma Souza.

 

fechar