Sensualiza, Brasil

por Kátia Lessa
Trip #193

Fomos até Luzilândia para mostrar todo o charme de Lucas Celebridade, a estrela do Piauí

Nunca é fácil entrevistar uma celebridade. Agenda lotada, dificuldade de encontrar o contato do empresário, falta de tempo, exigências. Dias antes de encarar um encontro com Lucas Brito, um dos mais afamados personagens virtuais do país, resolvi conferir seu Twitter (http://twitter.com/lucasfamapop), e lá estava, em menos de 140 caracteres: "Meu fone pra contato é (86) 8817-8799 (eu mesmo que atendo), meu e-mail é: programalucasbrito@yahoo.com.br". No dia seguinte, outro post: "Programas de televisão, meu contato é (86) 8817-8799. Vamos sensualizar!". Tentei um telefonema, e a ligação ia direto para a caixa postal. Decidi então enviar uma solicitação de entrevista para o tal do endereço eletrônico e 23 min depois:

"Querida Kátia... Tudo bem? Em primeiro lugar quero saber se é um sonho ou é uma realidade esse e-mail. Ao ver dei um surto de choro, de verdade. Estou muito feliz! Eu aceito sim! Eu adoraria muito ser destaque dessa revista que conheci ao visitar o estande na Youpix deste ano, que a produção do evento me levou pra participar. Tenho até um exemplar que tem a Sabrina na capa. Gostaria que me ligasse, por favor, contudo, manteremos o contato por e-mail. Vem pra cá conhecer minha rotina, o Brasil precisa saber! Vai ser um sonho realizado que desde já agradeço por acreditar em mim, Kátia e toda a equipe da revista.

Beijos, 

Lucas Celebridade"

No mesmo fim de semana, embarcamos para Teresina. Luzilândia, o berço de nosso artista, fica a três horas de muita poeira em direção ao norte, quase na fronteira com o Maranhão. Ao meio-dia, o termômetro marcava 37 ºC na sombra. O encontro com o homem que chamou a atenção virtual do país depois de se fotografar em um ensaio sensual e jogar na internet foi marcado no melhor restaurante da cidade. As mesas de plástico têm vista para o rio e o cardápio é variado. De peixada com pirão a churrasco, com ou sem carne de bode. É ali que Lucas faz a cobertura da maioria dos eventos sociais da cidade, quando ataca de Amaury Jr. das classes populares. Batismos, casamentos, aniversários, formaturas... está em todas.

A entrada de Lucas no ambiente, claro, chama a atenção. O menino na mesa ao lado cutuca a mãe e leva a mão ao rosto para cobrir um sorriso envergonhado. Lucas chega na garupa da moto de um de seus melhores amigos. Tênis tipo All Star, bermuda florida, camiseta branca com estampa de plug de tomada e bolsa preta que em nenhum momento sai do ombro. Um pouco assustado, chega na companhia de dois amigos: "Não acredito que vocês vieram mesmo. Eu sabia! Não disse que eles viriam, Monalisa? Tô borbulhando de felicidade", manda depois de um abraço caloroso na repórter.

Monalisa Ribeiro, a loira de minishort jeans e barriga de fora, é a fiel escudeira de Lucas. É ela quem fotografa as peripécias do amigo, incentiva as ideias mais absurdas e filma as imagens protagonizadas pelo colega, que atraem centenas de milhares de espectadores no YouTube. "Essa aqui é a Monalisa, minha assessora", apresenta. Logo atrás, o motorista da moto, Fabrício, um garoto calado e educado que se apresenta de modo discreto e dirige um olhar repressor ao célebre passageiro toda vez que ele se exalta. "Esse aqui é o Fabrício, não liga pra ele não, ele é assim sério, mas ele é muito do bem, muito meu amigo, me apoia desde antes da fama. Ele é da área nobre da cidade, quer ser psiquiatra, mas é meu fã", observa Lucas enquanto avança no almoço da equipe da revista. Fabrício concorda com a cabeça. "E você, Monalisa, quer ser o quê? Psiquiatra também?", pergunto. "Queria estudar inglês, mas aqui em Luzilândia não é bom, não." "Não gostaria de ser famosa igual ao Lucas?", provoco. "Queria ser panicat, mas com esse corpo não dá não, tive filho aos 17 anos."

"Não acredito que vocês vieram mesmo! Não disse, Monalisa? Tô borbulhando de felicidade"

Apesar da personalidade quase oposta, Fabrício é peça fundamental do sucesso de Lucas. É do quarto dele, um dos únicos lugares da cidade com ar-condicionado, que Lucas posta seu trabalho no blog, atende os fãs no Twitter e faz o upload dos vídeos. "Ele fica aqui em casa cinco horas por dia. Não importa se eu estou ou não. Ele entra sem bater e fica lá quanto tempo quiser, eu não ligo, minha mãe não liga, todo mundo aqui gosta, ele anima todo canto."

Três em um colchão

Na casa de Lucas não existe internet. O computador antigo, que fica na sala, nunca funcionou direito. O ambiente, modesto, está passando por reformas com dinheiro arrecadado pelo blogueiro no Twitter e nos trabalhos que faz como apresentador de eventos em cidades vizinhas. É ele quem, desde os 18 anos, sustenta a família toda, que inclui tia, avó, mãe, primos e irmão mais novo. Uma família que jamais questionou sua bissexualidade. "No geral ganho R$ 50, mas meu maior cachê foi R$ 500, para fotografar a festa do dono de uma loja de carros em Teresina", revela.

As paredes ainda estão descascadas, mas na cozinha já ganharam uma mão de cal. Ao lado da sala espaçosa, um quarto com uma cama de casal e uma penteadeira lotada de cacarecos, brinquedos, roupas e sapatos. "Nesse colchão dormem três pessoas. Minha tia e minhas duas primas." No quarto dos fundos, um ambiente que acomoda apenas um armário (onde ele guarda troféus como o que ganhou durante o Carnaval, no concurso Garoto Luzilandês, e outro que recebeu por organizar um grupo de dança árabe, na época da novela O clone), um varal e uma rede, onde descansa o Celebridade, ao voltar das aulas que cursa no último ano de letras da Faculdade de Luzilândia. O curso talvez explique o modo de falar, bastante correto e articulado, além dos momentos em que Lucas Brito, e não o Celebridade, muda o tom do discurso para citar Machado de Assis ou Clarice Lispector, seus autores favoritos.

A voz mais pausada e baixa também surge quando ele relembra o drama familiar. "Fui criado com meus avós, porque minha mãe me teve no Ceará, mas foi morar em uma favela de São Paulo porque não tinha dinheiro para cuidar de mim. Meu pai, eu nunca conheci. Tenho uma foto dele, mas nosso único contato foi um bilhete, no qual ele dizia que estava morto. Hoje minha mãe mora aqui em Luzilândia, mas em outra casa. Em 2008, meu avô saiu de casa, foi morar com a amante, e eu virei o chefe da família, cuido de tudo", desabafa.

Durante o dia, quando não está na faculdade, Lucas apresenta um programa de rádio. Comenta sobre a novela, o cabelo de celebridades, quem casou, quem separou e os bastidores dos eventos da cidade, aquilo que só ele viu. Enquanto caminha em direção ao estúdio, Lucas fala sobre seus ídolos e pessoas que o inspiram: o blogueiro americano Perez Hilton, Paris Hilton, Amaury Jr., a turma do programa Pânico. "Quero quebrar paradigmas, quero ser ridículo, quero ser bizarro, quero chocar o Brasil e o mundo e conquistar muitos Luquetes." Qual o objetivo final dessa busca pelo estrelato? "Quero entrar para um reality show. Ser reconhecido na rua, receber amor do público. Mas agora estou preocupado. Parece que quem é famoso não pode mais participar do Big Brother. Talvez eu tenha que ir para A Fazenda", exclama entre gargalhadas.

"Quero quebrar paradigmas, ser ridículo, ser bizarro, chocar e conquistar muitos Luquetes"

Quando pergunto o que ele não faria pela fama, ele manda: "Só não mato, não roubo e não faço filme pornô. O resto eu topo, até ensaio nu em revista masculina, topo na hora", manda a Macabéa do Piauí, em busca de uma estrela na testa.

Vai lá:
http://www.lucasfamapop.blogspot.com
https://www.youtube.com/user/lucascelebridade
http://twitter.com/lucasfamapop

Agradecimento: www.riopoty.com

fechar