Abaixo a indiferença

por Alê Youssef
Trip #192

Ale Youssef defende o voto de opinião e constata que a elite cultural deixou de se interessar por política

Nada como entrar na arena de uma campanha eleitoral para ter um panorama real e sem firulas sobre política, eleições e democracia. Minha campanha para deputado federal está me ensinando muito, e a maior lição tem a ver com um assunto que já abordei diversas vezes aqui na Trip: o voto de opinião.

Vivemos um círculo vicioso que está aniquilando a participação política dos chamados formadores de opinião. Hoje em dia, encontramos no Congresso Nacional cada vez menos representantes dos setores mais reflexivos da sociedade. Grande parte da elite cultural simplesmente parou de participar do processo.

Explico melhor: o vazio ético e o pragmatismo exagerado do PT e do PSDB que tomaram conta da política nos últimos 16 anos criaram uma rejeição tão impressionante que conquistar o voto de opinião para eleger um deputado virou tarefa muito árdua. As pessoas parecem não ter a menor vontade de se envolver na política. Em São Paulo, o empreendedorismo típico do nosso povo e uma sensação de que essa parcela da população pode viver bem por meio do fruto do seu trabalho, independentemente de quem esteja no Congresso Nacional, criaram zonas de conforto praticamente intransponíveis e fizeram muita gente riscar a política da agenda.

Mesmo setores importantes da mídia que costumam denunciar os abusos dos políticos - e outros mais descolados que pregam a busca por outro estilo de vida e ações coletivas e de bem-estar - passam ao largo do processo eleitoral, como se o resultado das eleições não tivesse nada a ver com a própria natureza de seus trabalhos. Preferem adotar posturas imparciais, sem destacar projetos diferentes e alternativos ao atual modelo político falido.

EFEITO CLODOVIL

E quem ganha com esse cenário? O político picareta, que não está nem um pouco preocupado com os formadores de opinião nem com a mídia. Elegem-se às pencas, com seus currais eleitorais, lideranças comunitárias compradas e muita grana de empresas lobistas.

Lembro do espanto com os mais votados nas últimas eleições para o Congresso: Maluf, Frank Aguiar, Clodovil, Russomano etc. Começo a me preocupar de ver o filme se repetir, com Kiko do KLB, Vampeta, Marcelinho Carioca, Tiririca e afins.

Optei por uma campanha sem ferir a lei Cidade Limpa - apesar de a Justiça Eleitoral ter liberado -, sem aceitar dinheiro de lobby nem fazer os esquemas tradicionais de aliciamento das comunidades mais carentes por meio de lideranças comunitárias compradas. Vou seguir firme na convicção de que o grande passo que podemos dar nesta eleição é contrariar os esquemas e fazer valer o voto de opinião, aquele que é dado por quem conhece suas propostas, acredita nas ideias e vai acompanhar e participar do processo ao longo do mandato. Só assim podemos começar a pensar em mudanças estruturais na nossa política. É a opção programática no lugar da ação pragmática.

A boa notícia é que, se der certo, outras boas cabeças vão perceber que é possível fazer algo decente e bacana na política e, nas próximas eleições, muita gente boa pode querer entrar na arena depois de mim.

*ALÊ YOUSSEF, 35, é sócio do Studio SP e do Comitê, um dos fundadores do site Overmundo e candidato a deputado federal pelo PV. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br Seu Twitter é @aleyoussef

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