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Arthur cai pra dentro

por Arthur Veríssimo
Trip #183

Nosso repórter deu uma volta no campo do sub-20 da Xurupita e tentou conversar com Zina

Tosco ou original, lesado ou esperto, gênio ou maluco? A única certeza é que Zina levou o Pânico na TV ao primeiro lugar de audiência. Enviamos nosso repórter excepcional à Xurupita para descobrir por que ele despertou a empatia imediata de milhões de brasileiros

Tudo começou no último Campeonato Paulista. Mais precisamente em um jogo do Corinthians. Uma equipe do programa Pânico na TV captava depoimentos de torcedores que aguardavam ansiosos o primeiro jogo de Ronaldo Fenômeno com o manto sagrado do Timão, em São Paulo. Em meio a essa euforia, um sujeito simples e até então completamente anônimo lançou um bordão que se transformou na coqueluche do ano no Brasil. O mantra reverberou por todas as torcidas e se incrustou no inconsciente coletivo: “Ronaldo, brilha muito no Corinthians”. Seu autor, Marcos da Silva Herédia. O Zina.

O sucesso instantâneo levou a equipe do Pânico a procurar Zina. Alfinete, integrante da trupe, rastreou como um agente do Mossad as entranhas do Jaraguá e localizou no campo de futebol da Xurupita o até então desconhecido sujeito. Invadiu a casa do assistente de pedreiro, apresentou-o a todo o país e em pouco tempo já era Zina quem invadia nossas casas contracenando com Alfinete e Sabrina Sato no Pânico na TV.

Sua primeira grande aparição foi no jogo de ida da final da Copa do Brasil, em que Ronaldo marcou o último gol da vitória do Corinthians por 2 a 0 sobre o Inter. No fim da contenda, o encontro titânico entre o criador do mantra e o craque. Ronaldo declarou: “Zina, você mudou minha vida, pra pior [risadas]. Nunca escutei tanto o meu nome”. Zina esmoreceu, os olhos marejaram.

Quem acompanha a TV aos domingos sabe muito bem da disputa acirrada no horário noturno entre as emissoras. Nessa guerra, o Pânico na TV tem alcançado em alguns instantes o primeiríssimo lugar, e Zina hoje é um dos maiores segredos do sucesso desse exército de Brancaleone. Nunca nos anais da história do entretenimento tupiniquim um personagem saiu do nada para os pináculos da fama tão rapidamente. Para o bem e para o mal, agora os passos de Zina são acompanhados de perto pela imprensa e pelos fãs. Prova disso foi a ampla cobertura dada ao episódio em que ele foi detido e em seguida liberado por supostamente carregar um pino com cocaína, em 28 de outubro. A notícia virou o assunto mais comentado do dia entre os usuários do Twitter no Brasil, com mais de 500 mensagens por minuto.

Separados no nascimento

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Na quebrada de Zina
Paulo Lima, meu big boss na Trip, pediu para fazermos um estudo antropológico, entrevistar, sair na balada, ir ao barbeiro ou simplesmente cair pra dentro da Xurupita e localizar mister Zina. Fomos em frente e marcamos um encontro com Alfinete. Definimos a data do encontro para uma sexta-feira (dez dias antes da detenção de Zina). Alfinete soltou uma frase que me deixou com a pulga atrás da orelha: “Com o Zina não dá para combinar nada, tudo é espontâneo e dependemos sempre do estado de humor dele”.

Durante alguns dias estudei as interjeições, dizeres monossilábicos, cantochões e mantras do livre pensador da Xurupita. Compreendi o significado de suas falas clássicas: “Eu rodo a baiana, tiro o sutiã e dou tetada. Vamu caí pá dentro. Topo, topo, topo. Por que não? Eu num guento. Bebi água. Um salve Pizzaria Por do Sol, um salve tia do caldo, um salve tia da Marmitex, um salve pá o sub-20 da Xurupita”. Eu destilava as sinapses e pensamentos de Mestre Yoda, ops... Zina. Enquanto isso o Brasil continuava a repetir “Ronaldo” por todos os quadrantes.

Na data marcada lá fomos nós para a quebrada da Xurupita atravessando a cidade de São Paulo de um extremo ao outro. A simpatia e o alto-astral do Alfinete dissipavam as dúvidas sobre se encontraríamos ou não Zina em sua casa nova. Na descontração da romaria, Alfinete enumerava várias situações inenarráveis de Zina. “No quadro "Show do intervalo", Sabrina perguntou ao Zina de chofre: ‘Capital da Argentina?’. Ele respondeu 'Bombonerra'. Outra foi: 'Você já fez fio terra?' 'Se é o que estou pensando, já fiz muito’.”

Quando chegamos à quebrada na Xurupita, a criançada que batia uma bola no meio-fio lançou que o Zina estava dormindo. Eram 15h30 de sexta-feira. Tava difícil. De tanto insistir, Alfinete conseguiu que a irmã dele fosse bater com muita insistência na porta da casa recém-doada a Zina pela RedeTV!. Eis que ele surge diante do nosso horizonte cheio de marra e com muito, mas muito sono (Zina tinha o aspecto de quem havia sido picado pela mosca tsé-tsé, transmissora da TRIPanossomíase africana, a doença do sono).

Na base da camaradagem, Alfinete tentava orientar o Zina, que não dava a mínima atenção para nossa equipe. O cara queria dormir. Estava zoado. Depois de muitas negociações conseguimos tirar fotos, e Zina topou dar uma volta até o campo de futebol do sub-20 da Xurupita. Tentava extrair pérolas de nosso cansado pensador. Sua mente anárquica despejava seus torpedos. Num dado momento consegui dar um mata leão no xapuleta, e ele nos concedeu uma reveladora entrevista. Eis nosso diálogo:

 

Zina, você gosta de que tipo de música? Rap, Samba?
Gosto... zzzzzz.

Você joga bola?
Jogava antes... zzzz.

Com quem você mora?
Minha irmã... zzz.

E o seu cabelo, você acha que estão todos te imitando?
Sei lá...

Zina, vamos lá no campo dar uma volta?
Vô não. Não, vamu aqui mesmo. Zzzzzz. [ataque de tosse].

Vamos, é rapidinho.
Num guento, us pumão aqui tá foda...

Zina, deixa disso.
Tem que ser rápido, tô morrenu de sonu... zzzzz.

Fumou muito na balada ontem?
Fumei... zzzz [ele fuma Derby prata].

[No caminho do campo] Qual é o melhor jogador do mundo?
Roonaaldo.

Você imaginava que iria conhecê-lo um dia?
Imaginava sim, eu já encontrei com ele.

Quem vai conquistar o Campeonato Brasileiro?
Palmeras.

Como assim o Palmeiras, Zina?
Vô fazê o quê? É o Palmeras.

Qual é a mulher mais bonita do Brasil?
Aaahh, sei lá, tem várias...

Fala uma, Zina. É a Sabrina?
Não.

É a Aracy de Almeida?
Não. Sei lá, tem várias.

Fala uma.
Sheila Perez.

Depois de misturar Sheila (Carvalho, Mello) com Carla Perez, todas ex-integrantes do grupo É o Tchan, Zina saiu andando e nos deixou. Queria fumar seu cigarrinho e se entregar aos braços de Morfeu. Com a descoberta de Zina, a anarquia democrática do Pânico na TV deu mais um nó na TV brasileira. Sua fórmula é simples: dar espaço e visibilidade ao Brasil que todos querem ver e a minoria esconde. O melhor e o pior. Tudo misturado. Um salve a Emilio, Allan, Bola, Sabrina, Vesgo, Polvilho, Silvio, Carioca, Paniquetes e toda a equipe do Pânico. Um salve ao Zina e a toda a galera da Xurupita.

A Xurupita é aqui

Se hoje a Xurupita é a célebre terra que acolhe Zina, houve um tempo em que tal logradouro era o lar de outro brasileiro midiático. Tão fictícia quanto seu original habitante, a Vila Xurupita era, desde 1950, o lugar onde Zé Carioca morava. Por ali, o ufanista papagaio criado por Walt Disney era o patrono da escola de samba Unidos da Vila Xurupita e o presidente do Vila Xurupita Futebol Clube. Por uma cartunesca volta do destino, a estereotipada vila, no pé do Morro do Papagaio, criada por um americano tornou-se uma quebrada real, próximo ao pico do Jaraguá em São Paulo. É lá onde Zina, nosso loro tingido, passa seus dias – e torce para o, deveras real, Vila Xurupita Futebol Clube. (Bruno Torturra Nogueira)

 

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