Corra Pretinha, corra

por Caio Ferretti
Trip #175

Rosa Aparecida Corrêa, a Pretinha, começou a correr e nunca mais parou

Rosa Aparecida Corrêa, a Pretinha, começou a correr e nunca mais parou. São 30 km todos os dias para ir ao trabalho e economizar no transporte

Impossível não enxergar em Pretinha uma semelhança com Forrest Gump. Talvez pela enorme quantidade de histórias que a falante figura conta sem parar. Mas, certamente, porque depois que ela começou a correr nunca mais parou. Assim como o lendário personagem, ela não queria virar atleta. Na verdade o que fez Pretinha, ou Rosa Aparecida Corrêa, dar as primeiras pernadas, há dez anos, foi a falta de dinheiro para pagar a condução até seu antigo trabalho. Solução: ir a pé. Ela não apenas nunca abandonou o “meio de transporte”, como viu sua vida transformar-se por causa do hábito peculiar.


São mais de 30 km de corrida por rodovias e avenidas de São Paulo até a Fórmula Academia, onde ela trabalha há oito anos como uma espécie de faz-tudo. Ela malha mesmo é na rua, para ir e voltar ao batente. Mas na agitada academia Pretinha continua o exercício, principalmente com o braço – é um sobe-e-desce interminável com a mão para responder aos inúmeros cumprimentos que recebe.

Querida por funcionários e frequentadores, não fica um só minuto sozinha, tem sempre alguém ao lado pra ouvir suas confabulações. Com corpinho de 30, mas já aos 50 anos, é difícil entender de onde vem a energia contagiante que a move. Talvez da vitamina diária, uma estranha mistura de água, vinagre e mel. Ou então do café-da-manhã com arroz, feijão, ovo e banana. Mas o que Pretinha considera a principal fonte de sua energia é outra coisa.

“Quanto mais sexo você faz, mais vigor tem. Eu trabalho o dia inteiro, então quando chego em casa só quero aquilo pra repor as energias. E tem que ser todo dia.” Depois de correr dezenas de quilômetros e passar o dia em uma academia, ela ainda tem pilha para dar canseira no namorado. “Ele fala: ‘Calma, Pretinha. Pelo amor de Deus, hein!?’.”


Pretinha dorme apenas quatro horas por noite – para ela, quanto mais as pessoas dormem mais cansadas ficam. Alguém duvida? Assim, sonha acordada. Grande parte de suas frases começa com “meu sonho é...”. Na lista está encontrar o pai que nunca conheceu, participar de alguns programas de TV, correr a maratona de Nova York e visitar Aparecida – a pé, claro. Com esse ritmo pretende viver por pelo menos mais 30 anos. Correndo, trabalhando e... se reenergizando.

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