por Ricardo Calil
Tpm #124

A atriz se prepara para assumir o papel de protagonista na nova novela das 9

A temperatura de Nanda Costa só aumenta. Depois de encarar cenas de nudez e masturbação no longa Febre do Rato, a atriz se aquece para viver a protagonista da próxima novela das 9

Nanda Costa ainda não era Nanda Costa. Era Fernanda Costa Campos Cotote, Fernanda ou Fê para os amigos. Tinha 15 anos e estava no fundo do poço. Alguns meses antes, ela havia saído de Paraty (RJ) para fazer o colegial e estudar interpretação em São Paulo. Só que a tia com quem ela foi morar – a madrinha com quem sempre foi grudada – morreu pouco depois em um acidente de carro. Para não desistir do sonho de ser atriz, Fernanda convenceu a mãe a deixá-la morar em um pensionato de freiras. Mas em seguida quebrou a perna – e se viu sozinha, de luto e engessada.

Foi aí que uma amiga de colégio, no dia em que sua mãe havia chamado uma cartomante, convidou Fê para ir à casa dela. A amiga perguntou se iria ser médica e ouviu: “Te vejo como uma doutora muito bem-sucedida”. Então, a tímida Fernanda se animou em saber: “Vou conseguir ser atriz?”. A mulher não teve piedade: “Eu te vejo com um pano de prato no ombro, lavando louça”. Fernanda desmoronou de vez. “Sei que parece besteira, mas aquilo bateu forte em mim. Ela jogou uma sombra nos meus planos. Comecei a questionar o que estava fazendo ali, se estava lutando por algo que não fazia sentido.”

Foram necessários apenas quatro anos para Fernanda provar que a cartomante era uma trambiqueira. Quando fazia um curso na Escola de Atores Wolf Maya, o diretor global ficou impressionado com sua força dramática e a convidou para um teste da novela Cobras & lagartos. Aos 19 anos, ela adotou o nome artístico Nanda Costa – “foi como se eu criasse minha personagem de atriz, para proteger a timidez da Fernanda” – e iniciou uma trajetória profissional que só pode ser classificada como meteórica.

O último frevo em Recife

Seis anos depois, seu currículo conta com outras duas novelas (Viver a vida e Cordel encantado), um especial (Por toda minha vida), em que fez uma elogiadíssima encarnação da cantora Dolores Duran, e atuações consagradoras nos filmes Sonhos roubados (prêmio de melhor atriz nos festivais do Rio e de Biarritz) e Febre do rato (melhor atriz em Paulínia). Agora, aos 25 anos, ela encara a responsa de protagonizar Salve Jorge, novela das 9 de Gloria Perez, que estreia na Globo no fim de outubro, substituindo Juliana Paes, que foi convocada para Gabriela. A cartomante precisaria de muita imaginação para ler um destino desses. “No final das contas, ela me deu um empurrão para correr atrás do meu sonho. Eu tenho uma coisa: nunca duvide de mim, porque vou lá e provo que você está errado.”

Outro que duvidou de Nanda – ou fingiu muito bem duvidar – foi Claudio Assis, o desbocado diretor pernambucano de Amarelo manga e Baixio das bestas. Pouco antes de começar a rodar Febre do rato, em que Nanda vive a estudante Eneida, o cineasta ficou incomodado com o assédio nas ruas de Recife à atriz, que na época fazia a Soraia de Viver a vida. As pessoas paravam Nanda para tirar fotos, pedir autógrafos. E Claudio esbravejava: “Tá tudo errado! Sua personagem tem atitude, não dá para ficar pagando de bonitinha”. Um dia antes do início das filmagens, Nanda decidiu cortar o cabelo curtinho, contra a vontade de Claudio e a orientação do roteiro – que previa uma Eneida “com cabelos longos e volumosos”. “Você não queria atitude?”, ela perguntou ao diretor. “Então toma!”

Era só o começo. Ao longo das filmagens, Nanda encarou um coquetel sexual que incluiu um ménage à trois com um homem e uma mulher, uma cena de masturbação não prevista no roteiro e outra em que urina diante de Irandhir Santos – que vive o poeta Zizo, apaixonado por Eneida. “Tecnicamente, essa foi a mais difícil, porque tive que fazer xixi quatro vezes, equilibrada em uma canoa. Precisei tomar muito chá-verde! Quando cortava, eu tinha que segurar e esperar a tomada seguinte. Apareço rindo no filme porque não acreditava que ia sair aquele megaxixi no último take”, conta. “Mas não tive vergonha ou pudor para fazer nenhuma cena. Se eu vestir a roupa do personagem, não tenho nenhum problema para tirá-la depois.”

“Sempre acreditei na Nanda. Ela não hesitou em nenhum momento. Além de uma puta atriz, a Nanda é um tesão de mulher”, Claudio Assis

Aliás, mais do que as cenas de sexo, a grande ousadia de Nanda foi expor seu corpo sem a preocupação de disfarçar imperfeições – algo que pouquíssimas atrizes de sua geração topariam. Mais uma vez, Claudio Assis recorreu ao método da dúvida. Antes de uma cena em que Irandhir ficaria nu em cima de um carro de som, rodeado de figurantes igualmente pelados, o diretor disse: “Você que é atrizinha de novela pode ficar de calcinha e sutiã”. Nanda respondeu tirando toda a roupa e subindo no carro. E aí Claudio baixou a guarda. “Ele veio me dizer: ‘Olha, tem uma celulitezinha, uma barriguinha aparecendo... A gente pode disfarçar na iluminação, no enquadramento. Porque já tive problemas com outras atrizes...’. Eu disse: ‘Vai em frente, cara. Esse é um corpo real. Não dá para vender uma coisa que não existe. Depois os paparazzo vão tirar uma foto minha na praia e dizer que o corpo do filme não é o meu’.”

Claudio Assis conta que a atuação de Nanda rendeu comparações com um mito do cinema. “Aqui no Brasil e no exterior, algumas pessoas vieram me dizer que a Nanda lembrava muito a [atriz francesa] Maria Schneider em O último tango em Paris. Eu acho que o trabalho dela está nesse nível de grandeza mesmo”, afirma, antes de revelar que suas dúvidas sobre Nanda eram pura encenação. “Gosto de provocar meus atores, mas sempre acreditei na Nanda. Ela não hesitou em nenhum momento. E, para mim, o corpo dela não tem imperfeição nenhuma. Além de uma puta atriz, a Nanda é um tesão de mulher.”

Visceral e despudorada

O corpo de Nanda será outro em Salve Jorge, e o cabelo também. Na entrevista à Tpm, ela apareceu sarada e com aplicações de Mega Hair. Para viver a protagonista Morena, garota de uma comunidade pobre do Rio de Janeiro que é vítima do tráfico de pessoas e vira garota de programa na Turquia, ela começou a fazer aulas de funk e samba e contratou um personal trainer para uma rotina de duas horas diárias de treinos. “Não foi um pedido da Globo. Eu gosto de ter o corpo que cada personagem exige. A Morena é uma guerreira, ela pedia um corpo mais definido”, afirma Nanda, que está no meio do processo de trocar gordura por músculos. “Não dá para negar que também existe prazer em vestir uma calça que fica justinha nos lugares certos.”

Para Gloria Perez, a atriz foi uma escolha fácil para viver Morena. “Faz tempo que presto atenção nela, que tenho vontade de trabalhar com ela. A Nanda é uma atriz visceral, argila que se pode moldar a tudo o que um papel exija dela. Isso me instiga como escritora: o despudor que ela tem, a fome de enfrentar desafios.”

Nanda garante que não está assustada com o desafio de ser protagonista de uma novela das 9 da Globo. “Para mim, o compromisso com um papel pequeno ou grande é o mesmo, muda apenas o volume de trabalho. Se eu ficar pensando que sou a protagonista, eu piro. É preciso ter foco para dar conta de cada cena.” Mas ela ainda não sabe como vai reagir à exposição – de sua vida pessoal que virá com a projeção profissional – e que colocará em xeque a delicada separação que ela criou entre Nanda, a atriz sem pudores, e Fernanda, a garota reservada de Paraty.

A mãe, Patrícia Costa, tinha apenas 17 anos quando teve Fernanda. O pai sumiu de sua vida quando ela ainda era um bebê. Na infância, a menina se revezava entre os balcões da Casa Costa, tradicional loja de artigos variados de sua avó Maria Inês, em Paraty, e os jogos de futebol com os meninos, as rodas de violão, os passeios de caiaque. Mas nada a deixava mais realizada do que fazer animação em festas de amigos e montar peças de teatro no andar de cima da lanchonete da mãe – primeiros e precoces passos para realizar o desejo de se tornar atriz. “É o que ela sempre sonhou. Eu e minha mãe tínhamos muito medo de que a Fernanda se decepcionasse se as coisas não dessem certo. Mas ela sempre foi muito determinada”, diz Patrícia.

Foi essa determinação que levou Fernanda a morar em um pensionato de freiras para continuar estudando interpretação em São Paulo e a dividir uma casa no Rio de Janeiro com outras cinco pessoas – incluindo a atriz curitibana Fabiula Nascimento, a Olenka de Avenida Brasil – quando foi convidada para sua primeira novela. “Ela é o tipo de amiga que pagava meu médico quando eu estava sem grana. E, agora que a fase está melhor para as duas, ela continua sendo exatamente a mesma pessoa, com zero de deslumbramento”, afirma Fabiula, que chama Nanda de filha e é chamada por ela de “mama”.

Sem amarras

Fabiula faz parte de um pequeno grupo de amigos que conhece Fernanda na intimidade, que sabe que a garota libriana gosta de receber em seu apartamento no Jardim Oceânico (começo da Barra, zona oeste do Rio), de cozinhar e tomar cachaça (sua tia-avó produz a famosa Maria Izabel em Paraty), de ouvir os vinis de Cartola e Adoniran na vitrola, de tocar alguma coisa no violão e derramar seus pensamentos e emoções em um diário.

“Se eu tiver vontade de provar algo que não faça mal a ninguém, não tenho amarras”

Com o resto do mundo, ela prefere a discrição. “Quando um ator se expõe muito, a magia se perde, porque as pessoas falam mais sobre o que ele anda fazendo em sua vida do que sobre o personagem que ele está interpretando”, afirma. “Várias vezes jornalistas me perguntaram em eventos que roupa estava vestindo. Eu puxo a etiqueta e digo: ‘Não sei. Quer ver?’. O pessoal fica até constrangido. Não curto essa coisa da celebridade. Mas sei que minha vida vai mudar daqui a um mês e tenho que estar pronta para isso.”

Tanto que Fernanda prefere não responder quando perguntada se está namorando. As últimas notícias sobre uma relação da atriz são de 2010, um namoro com o amigo de infância Gabriel Lopes, que já terminou. Questionada sobre o que busca numa relação, ela diz que quer intimidade, estabilidade, sexo com amor – antes de soltar a clássica dica “estou feliz neste momento”.

Mas a atriz não tem receio de defender a liberdade sexual de muitas das suas personagens. “Já experimentei bastante coisa para saber do que gosto, do que não gosto. Experimentei sexo por sexo, claro, mas também uma coisa bem mais complexa, que é fazer sexo com uma pessoa que você ama e que não corresponde. Hoje estou mais serena e menos insegura. Mas, se eu tiver vontade de provar algo que não faça mal a ninguém, não tenho amarras”, ela garante – e, nesse momento, fica claro que Nanda e Fernanda são a mesma mulher.

Créditos

Imagem principal: Marcelo Gomes

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