por Augusto Olivani
Trip #227

A nativa de Ilhabela mal chegou aos 18 anos e já se mostra pronta para o mundo

Helena Serena não faz jus ao nome.

Impetuosa, explosiva e inconstante, a nativa de Ilhabela mal chegou aos 18 anos e já se mostra pronta para o mundo. 

Foi a primeira da turma a fazer tatuagem, a fumar, a colocar piercing e a transar com um namorado – só não era a primeira da classe porque isso não interessa a quem tem espírito rebelde.

Agora pode dizer também que é a primeira a posar nua. Não que tudo isso seja uma grande questão para Lê, como ela é conhecida por todo mundo em Ilhabela. “O físico para mim não é uma coisa íntima, é natural. Sempre gostei de ficar pelada em casa, moro na praia, nunca tive essa coisa de vergonha.”

Ela não é dessas mulheres de beleza exuberante ou exótica. A pele é levemente morena, os olhos são cor de mel, e a boca carnuda talvez seja o que mais salte aos olhos – há um certo sorriso permanente em sua boca, levemente malicioso (a malícia, muito provavelmente, está nos olhos de quem vê).

Mas sua presença é magnética. Talvez seja a forma como ela encara alguém enquanto presta atenção no que está sendo dito, com a curiosidade de quem quer descobrir o mundo e tem uma porção de sonhos.

Um deles é cantar. Em seu perfil no Facebook há um vídeo de Helena interpretando, no Mirante do Portinho, em Ilhabela, voz e violão, uma composição própria. “Tô vivendo esse sonho, não te peço para participar” é um dos versos, entoados com uma voz suavemente rouca. “Componho para tocar as pessoas com meus pensamentos e minhas histórias. Sou muito antenada em música, amo jazz”, conta ela, que também é fã de Amy Winehouse.

Mesmo quando era menor de idade, o que não faz muito tempo, Lê já integrava o circuito de bares de Ilhabela dando canjas, já que não podia trabalhar na noite. Agora até montou uma banda, chamada Carpet, e ganhou um festival local. O prêmio? Gravar a canção vencedora, sua primeira vez em um estúdio.

"Acho que tem que perder a vergonha, tem que se mostrar, subir no palco e cantar. É bem melhor fazer isso que passar a vida inteira frustrada por nunca ter feito o que tive vontade."

Ao mesmo tempo em que Helena se torna cada vez mais uma mulher fei­ta, que quer mudar para São Paulo em 2014 para focar a veia artística, nela ainda habita a moleca que joga futebol duas vezes por semana, que anda de skate e ama cachoeiras.

Apesar da fidelidade das amigas, Lê passa a maior parte do tempo com os amigos homens – é assim desde sempre. Se ela começou a se sentir desejada por eles quando a adolescência modelou seu corpo? “Sempre teve muito respeito, os olhares não ficaram diferentes, não”, diz, antes de afirmar que também nunca foi muito paparicada em Ilhabela. “Há muitas meninas lindas por lá.”

O ensaio de Helena Serena foi muito natural: aconteceu na casa dela, retratando sua rotina. Começou na cama, como se estivesse despertando – e preguiçosamente se revelando –, e chegou até o telhado. Foi nessa hora que seu vizinho adolescente viu, toda nua, a gata em teto de zinco quente. Na hora, apesar de ter dito que fica assim em casa naturalmente, Lê ficou puta da vida e começou a gritar com o rapazote – como se ele tivesse alguma culpa em ver a vizinha linda, pelada, ali, alçada aos céus. Depois, mais calma e vestida, ela foi pedir desculpas a ele.

“A ilha é muito pequena, rola muita fofoca. Essa revista, ó, vai repercutir!”, diverte-se. “Mas eu já não ligo mais. As pessoas que me conhecem sabem bem que eu gosto desse universo das artes, de tirar foto. Acho que tem que perder a vergonha, tem que se mostrar, subir no palco e cantar. É bem melhor fazer isso que passar a vida inteira frustrada por nunca ter feito o que tive vontade. Eu não vou me arrepender por não ter tentado.”

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