por Luiz Alberto Mendes

 

Eu tenho feito a festa nos sebos da cidade, aqui em São Paulo. Vou com pouco dinheiro e sempre saio com várias raridades. Shows empolgantes, emocionantes e inesquecíveis. Filmes que fizeram época, maravilhosos, bem feitos, bem dirigidos e com artistas sensacionais. Os filmes antigos não ficam velhos, são atemporais. Há um particular ai. Fiquei mais de 30 anos preso, O cinema na Penitenciária do Estado funcionou até o Massacre de 1987, onde foram mortos 37 presos e um funcionário. Não era suficiente para mim, mas continua na memória. E depois de 1987, fiquei preso ainda até 2004. Por conta disso, perdi quase todos os filmes bons dessas épocas áurea do cinema.

Ir aos sebos é uma aventura muito apreciada por mim. Ficou feliz lá dentro e depois fico infeliz e torno a ficar feliz de novo, uma variedade de emoções muito fortes. Quando encontro um filme com uma temática realmente interessante, com bons atores (assisti aos melhores), é uma alegria imensa. Sei que vou me deliciar, sei que vai ser bom demais assistir. Mas às vezes encontro coleções inteiras que são caras mesmo (eu sou um duro assumido) em sebos, fico tão triste em não poder levar... Tenho que me retirar do sebo, engolir a frustração, para não acabar comprando sem poder, como já fiz várias vezes. Depois é a maior correria para repor. Mas quando chego em casa me recupero rápido; é só olhar, acariciar, colocar contra o rosto pra sentir que é de verdade, a cada um dos que consegui comprar mais baratos. Demora que eu os assista. Vejo primeiro os vídeos piratas que imagino acabará logo e economizo meus originais. É toda minha fortuna, fiz uma opção; prefiro gastar com meus DVDs e CDs do que com um carro, por exemplo.

Aconteceram fatos nesses últimos anos que modificaram muitas coisas. Os DVDs originais nasceram a preços proibitivos à maioria das pessoas. Foi então que surgiu a idéia das locadoras de vídeo. Euforicamente foram montadas redes e pequenas locadoras pela cidade e pelo Estado afora. Elas prosperaram e reinaram durante curto período. De repente começaram a aparecer os vídeos piratas vendidos a cada esquina. A venda das gravadoras e o aluguel das locadoras dos DVDs caiu. O preço de um DVD original é de aproximadamente R$70,00. O pirata custa R$2,50 e o aluguel nas locadoras por 24 horas era R$5,00. Não havia e nem há como concorrer. A locadoras se uniram, fizeram campanha afirmando que o vídeo pirata estragava o aparelho de DVD. Como os aparelhos eram caros, as pessoas acreditaram e temeram. Com tal atitude mentirosa, as empresas que alugavam vídeo ainda seguraram por algum tempo. Havia também outros métodos das gravadoras e locadoras. Apelavam para a moral, colocando até crianças para censurar os pais e associavam o DVD pirata ao crime, ao trafico de armas e drogas. Como poderia ser assim tão imoral? É só ver a correlação dos preços para entender que a imoralidade era o preço que eles estavam colocando nos originais.  Os aparelhos melhoraram, as cópias piratas ficaram comparáveis aos originais, as condições socioeconômicas do país facilitaram para que muita gente aumentasse o poder aquisitivo. E então veio a gota d'água: as TVs a cabo que alugam filmes, shows e que concomitantemente passam filmes e shows o dia todo. Resultado: as locadoras foram todas à falência. Os donos de locadoras mais espertos, ao perceberam os fatos, foram vendendo. O que estranho é que as gravadoras não foram à falência também: estariam seus produtos tão superfaturados que assimilaram o impacto? Por fim às locadoras mais desinformadas tiveram que vender seu acervo a preço de banana para os sebos. Hoje compro os originais de raridades quase ao preço dos vídeos piratas. Alias, hoje os DVDs originais nos sebos concorrem com os piratas, não é uma reviravolta significativa? Quem não prefere pagar um pouquinho mais caro e ter o original?

Quando estou com uma grana razoável, ai eu vou me divertir nos sebos. E os blu-ray  já estão lotando os sebos. Estou com uma coleção de filmes e shows originais que quem conhece valoriza muito. E muito contente com todos esses acontecimentos, posso ver filmes que até sonhei em ver quando preso. E os melhores assisto várias vezes, sou um aficionado em cinema em plena recuperação do tempo perdido.

                                        **

Luiz Mendes

20/10/2014.  

fechar