A vida não é um jogo e Tribos

por Luiz Alberto Mendes

A vida não é um jogo
 
Nós devíamos nos recusar a carregar alguns pesos inúteis que dificultam nossa caminhada pela existência. Preocupamos-nos demasiadamente com futuro; ficamos calculando excessivamente as consequências de nossos atos; e vivemos a cobrar garantias e certezas da vida a todo instante. No terreno humano, precisamos deixar de fazer só por quem pode nos compensar. Isso é negócio e não um relacionamento desinteressado como deveriam ser as relações humanas. Sem interesse de nada que não a pessoa em si. Nos falta a surpresa, o inaugural e principalmente o natural. A espontaneidade deve ser recuperada a todo custo. Perde-la é apartar-se da alegria de viver. Para tanto, faz-se necessário que nos envolvamos com o que esta acontecendo de imediato, que aceitemos o tempo do inesperado e corramos os riscos necessários. A segurança nunca nos ensinou nada, a não ser a nos auto-proteger. Mas é uma falsa ilusão; como nos proteger de doenças congênitas; como evitar pais desequilibrados ou enlouquecidos, por exemplo? Não nascendo? A vida não pode ser somente conservada, assim como a água não pode ficar parada: estraga, apodrece. Ficar esperando passar os dias passarem, como no futebol se segura o empate até o fim do jogo. Não temos cacife para jogar com a vida e quem blefar acaba perdendo. Não só o que tinha, mas também o que era para ter.
                                         **
 
Tribos
 
Tendemos a formar clubes, tribos, coletivos, comunidades de pessoas que pensam e procedem parecido conosco. Dizemos que os iguais se atraem, para justificar. É um alívio estar junto com eles, é quase um ninho. Desenrolamos nossos conhecimentos e eles concordam conosco em tudo. Ficamos prolixos, nos inspiramos e acabamos por dizer até o que ainda nem sabemos que sabíamos. Curtimos longamente o que há em comum, é quase um regozijo. Não precisamos defender nossos pontos de vista e construir argumentações complexas para rebater opiniões discordantes. Na verdade curtir gente que gosta do que a gente gosta, é extremamente prazeroso. Não há discordâncias, a gente descontrai, brinca, sorri e tudo é alegria. Mas isso seria o melhor, o mais desejável para nós? A diversidade, a diferença, o contraditório, o que não conhecemos e já rejeitamos receosos, não nos fariam mais bem? Estar entre os que concordam conosco nos beneficia em que? O que tem a nos oferecer quem pensa como nós e gosta do que gostamos? A reafirmação de nossas opiniões e gostos? Foi só quando fui questionado e colocado contra a parede que pude enxergar e avaliar o lixo de meus valores e repensá-los. Aprendemos muito mais com as discordâncias, elas colocam em questão nossos pontos de vista e nos faz pensar em soluções mais satisfatórias. Quem discorda de nós e os nossos adversários são nossos maiores professores. Promovem o caos em nossa mente para que depois a estrela guia nos oriente, como queria Nietzsche.
                                           **
Luiz Mendes
22/08/2014.

 

fechar