Antropocêntricos

por Luiz Alberto Mendes

 

Somos antropocêntricos em quase tudo. Não sei se porque quando bebês e na 1ª infância éramos o centro do mundo, o mundo que conhecíamos, o fato é que parece, em algo, permanecemos naquele tempo. Medimos os demais seres no mundo pela sua utilidade para nós, pelo que ele pode nos acrescentar e não pela sua pessoa em si. O valor das pessoas e do resto do mundo “em si” parece difícil para nós alcançarmos ou esta demorado para nós entendermos. Tanto que para nós é tão difícil de entender uma árvore sem frutos comestíveis que logo lembramos de sua sombra; para algo tem que servir! Só o que nos é útil e nos serve, segundo nossa cultura utilitarista, deve ser considerado.

O que não somos nós é completamente outro para nós. Usamos dessa justificativa para nos alimentar, vestir, fazer experiências laboratorais; divertir, domesticar, caçar; fazer remédios, cosméticos e armas com os animais. Já que eles são completamente estranhos, nada têm a ver conosco e, como somos a medida de todas as coisas... Rejeitamos nossa condição animal (mamíferos), ou então somos porcos, mais animais que os outros animais, talvez, como na “Revolução dos Bichos” de George Orwell.

O animal ainda é um mistério para nós. Que eles se expressam, não há dúvidas; gritam, gemem, choram, latem, rosnam, urram; fazem caretas, gestos, posturas que “falam” por eles. Sabemos também que eles sentem e até que alguns possuem um raciocínio primário, mas não sabemos exatamente o que eles pensam ou sentem. Ao que tudo indica, os animais, em sua maioria, não têm passado e nem futuro e vivem somente o momento presente. Pulam, correm, descansam, comem, brincam; brincam; comem, descansam, correm e pulam novamente. Eles não são como nós; não precisam explicar nada para si e nem para os outros. Os animais habitam, vivem e até demarcam o território em que estão colocados. O homem existe, participando, modificando, adaptando e compartilhando sua vida com tudo o que o cerca.

Creio que onde nos identificamos mais com os animais é no sofrimento. Eles são capazes de sofrer a dor física e até a dor moral como nós; há primatas que guardam luto, sepultam e preservam a identidade familiar.  Acho que já por isso é preciso admitir: os animais têm vida “em si”, independente de nós. Qualquer um deles é mais competente que nós para viver em seu habitat natural.

Talvez a maior diferença que vejo entre nós e os bichos, é que pela nossa maior capacidade mental, nos tornamos responsáveis por eles; eles não têm como serem responsáveis por nós. Na selva eles irão, por estarem acorrentados ao instinto, nos devorar. O que é maior deve ser responsável pelo que é menor; como o que é mais com o que é menos e assim por diante; é a história do desenvolvimento da vida.

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Luiz Mendes

22/07/2014.

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