A alienação na votação

por Luiz Alberto Mendes

O eleitor está dizendo que não entendeu nada. Ou pior: que não esta acreditando em mais nada

Comunicação e Votação

 

Percebemos que as capacidades de comunicar, expressar e espalhar estão assimiladas pelos governos, redes de comunicação social, redes de TV, internet e pela mídia em geral. Então porque não dá certo? Porque não conseguem se fazer entender como querem? Porque a mensagem não é recebida integralmente com o sentido que foi emitida? Porque a comunicação fracassa nesse momento?

 

Porque a idéia do voto, por exemplo, esta bem delineada, expressa e difundida. As pessoas nas quais votamos serão nossos congressistas. Em tese, estarão no Congresso (os eleitos) para falar por nós e defender os interesses da nação. Representação é o nome que se dá a esse processo. 

 

Mas a mensagem não funcionou. Tanto que Tiririca é o Deputado Federal mais votado do país, com mais de um milhão trezentos e cinquenta mil votos. Esse povo todo que votou no palhaço não acredita que ele falará por eles e defenderá os interesses da nação. Na maioria creio, seja voto de protesto. Sarcasmo misturado com zombaria. Esse eleitor está dizendo que não entendeu nada. Ou pior: que não esta acreditando em mais nada. Cansado de ser o palhaço eleitor, coloca um palhaço junto aos eleitos. Provavelmente para empatar o jogo. Assim talvez as posições fiquem mais transparentes.

 

Maluf é o terceiro deputado mais votado no Estado. Romário vai para o congresso com votação expressiva. E outros absurdos como o caso dos “ficha suja” que não se define. Parece que ninguém entendeu nada da mensagem expressa nesses votos. Falta de cultura (aqui entra aquela pergunta antiga: porque o povo precisa de cultura?) e educação; alienação; barreiras econômicas; desemprego; etc.

 

Boa parte da população não tem cultura anterior para realizar o processo de entendimento e interpretação correta das idéias atuais. Há algum tempo o Estadão publicou pesquisa demonstrando a quantidade absurda da população que é analfabeta institucional. São considerados alfabetizados, mas não são capazes de interpretar um texto. E o contexto então, partidos políticos, quem é quem (qual o partido mais à direta? Os autodenominados “democratas”), todo o jogo social, econômico e político? Acho que ninguém consegue abranger todo esse universo. Creio que é por isso o escritor Fernando Bonassi afirma que não devemos perder a consciência de nossa alienação.

 

A escola do governo é péssima, oferece ensino da pior qualidade. Os professores continuam ganham muito pouco se levarmos em consideração a importância do trabalho que deveriam executar. O incentivo ao estudo decai a cada dia. Estudar para ganhar dinheiro é pouco. Temos fome de muito mais que isso, como diria os Titãs naquela célebre música. “A gente quer inteiro e não pela metade”. Ganhar dinheiro se pode ganhar de outros modos.

 

O traficante sai da prisão hoje e amanhã já esta de carrão ou motocona na vila para cima e para baixo. O Ratinho arrogou ganhar um milhão de reais por mês e nunca haver lido um livro. São exemplos pontuais, mas fica claro que esta em curso quase uma conspiração contra o esforço por saber.

 

Os incentivos à cultura devem ser mais abrangentes, como mais abrangente deve ser a cultura para todos. Queremos nosso povo mais consciente inclusive para votar e serem donos de seus destinos. Portanto, devemos a eles estrutura escolar e cultural para que sejam capazes de realizar o processo do entendimento e da interpretação.

                                      **

Luiz Mendes

06/10/2010

fechar