No teto do mundo

por Luiz Filipe Tavares

Alpinista brasileiro que conquistou Everest fala sobre biografia e superação dos limites

O alpinista Rodrigo Ranieri é um exemplo do montanhismo no Brasil. Neste ano, ele tornou-se o primeiro brasileiro a escalar duas vezes a mesma face do monte Everest, maior montanha do planeta. E quando você pensa que ele já chegou, literalmente, ao topo de sua carreira, ele resolve ampliar seus limites e saltar de parapente do alto dos maiores picos nevados do mundo. No processo, Ranieri sentou com o jornalista Diogo Schelp para uma série de entrevistas que tornaram-se o livro No Teto do Mundo, lançado pela editora LeYa.

Em sua biografia, Rodrigo conta com detalhes as quatro expedições que fez ao Everest, entre êxitos e fracassos, falando da superação constante dos desafios e da perda de seu velho companheiro de escalada, Vitor Negrete, um dos episódios mais duros de sua carreira. Com um currículo recheado de expedições, ele hoje é o diretor da única empresa brasileira especializada em montanhismo em condições extremas, realizando cursos e palestras para alpinistas iniciantes e empresários em geral, interessados no discurso de soluções de problema de Ranieri.

"Meu primeiro contato com montanhas foi no Pico das Agulhas Negras, no Parque Nacional de Itatiaia, em uma viagem com uns amigos de faculdade. Foi em setembro de 88. A primeira vez a gente nunca esquece", ele ri, contando do amor à primeira vista que sentiu quando enfrentou uma escalada pela primeira vez. "Logo depois disso eu já montei um grupo de viagens, fundei um grupo de escalada na Unicamp e logo depois que me formei eu decidi transformar essa paixão em profissão."    

Ao poucos, Rodrigo foi ampliando seus horizontes no esporte. Logo ele abriu uma rota nova de escalada na Pedra do Baú (em São Bento de Sapucaí, no estado de São Paulo), encarando uma subida por uma longa parede vertical, tendo de passar dias e noites pendurado enquanto enfrentava a subida.  "Até batizamos a subida de 'borra cueca'. Só de olhar para a pedra já dá aquele aperto", ele conta em uma sonora risada. "Foi uma subida muito difícil, com a rocha desmanchando, trechos de inclinação negativa, vários momentos sem retorno...  Foi uma subida bem difícil."

No caminho do topo

Antes de se convencer à começar a subida mais complicada do mundo rumo ao cume do Everest, Rodrigo treinou por anos até vencer a face sul do Aconcágua, pico mais alto do Hemisfério Sul e também o mais alto fora do continente asiático. Com quase sete mil metros de altitude, a Sentinela de Pedra argentina foi a escola que possibilitou ao brasileiro partir para conquistar o sonho de todo o alpinista.  

Mas nem toda a preparação é suficiente quando as condições estão ruins em subidas como essa. Em 2005, Rodrigo chegou a menos de 50 metros do cume e teve de cancelar a subida e se dirigir para a base da montanha. Na ocasião, a Deusa Mãe do Mundo, como os nativos Tibetanos chamam a montanha, não deu trégua em meio a uma forte tempestade e frustrou os planos da equipe do brasileiro de chegar onde poucos alpinistas conseguiram. "Quando eu fui para o Aconcágua pela primeira vez, já estava nascendo o sonho do Everest. Eu primeiro precisava fazer alguma coisa legal, grande, que me projetasse para conseguir patrocínio e que me desse certeza da parte técnica e da parte física necessária para uma escalada como essa", ele explica. "E foi a face sul do Aconcágua que possibilitou essa subida. Foi um degrau muito importante para a minha carreira. O tempo de preparação depende muito da sua bagagem. Hoje se alguém me convidar para ir para o Everest semana que vem eu posso ir. Mas uma pessoa que nunca foi pra lá, eu penso que são necessários pelo menos três anos de preparação direto."

"O tempo todo você tem que ficar se avaliando: seja a integridade física, saber quanto você tem de energia, até as condições climáticas para a subida e para a descida. Você tem que saber o tempo que você está gastando para subir e fazer projeções do tempo que você vai levar para descer. É preciso analisar a qualidade das passagens e as dificuldades e qualidades das proteções. Tudo isso é parte da estratégia da subida. Com o alpinismo, é preciso aprender a andar olhando para trás, só assim para sempre ter a garantia da segurança"

Depois da subida, o vôo

A descida, segundo o próprio Rodrigo, é sempre muito mais complicada do que a subida. Os perigos da inclinação se tornam muito maiores, ainda mais depois do cansaço de dias e dias encarando as encostas morro acima. Com isso, nada mais natural para um alpinista do que o desejo de descer voando depois de conquistar o topo de uma grande montanha. Há alguns anos, o parapente tornou-se uma nova nova paixão na vida de Ranieri, que resolveu incorporar o vôo à sua estratégia de descida quando o tempo assim permite.

"Na primeira vez que eu fui escalar o Mont Blanc, entre a França e a Itália, o céu estava recheado de parapentes, com muita gente voando. Ali eu prometi para mim mesmo que um dia eu ia fazer isso. 16 anos depois, já em 2009, eu voltei pra escalar o Mont Blanc pela terceira vez e resolvi subir com um parapente na mochila e desci voando. Foi um sonho antigo que eu consegui realizar", ele conta sem conseguir esconder a empolgação, como se revivesse o momento mais uma vez em seus pensamentos. "Agora, com o montanhismo somado ao parapente, posso fazer escaladas difíceis e descer voando. Nem sempre é possível, mas se o clima permitir, é muito mais rápido e muitas vezes é até mais seguro."

No vídeo abaixo você vê imagens das escaladas de Rodrigo Ranieri na mais alta montanha da Terra.

Livro: No teto do mundo
Autores: Rodrigo Ranieri com Diogo Schelp
270 Páginas
Preço: Entre R$27 e R$35
Editora: LeYa
www.leya.com.br

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