por Luiz Filipe Tavares

Lenda da disco music e fundador do Chic fala sobre internet e luta contra o câncer

Aos 58 anos de idade, Nile Rodgers foi por muito tempo um verdadeiro Midas da produção de pop e disco music nos Estados Unidos. De sua mesa de som emergiram clássicos do calibre de We Are Family (Sister Sledge), diana (Diana Ross), Koo Koo (Debbie Harry), Let's Dance (David Bowie), Original Sin (INXS), Like a Virgin (Madonna), Notorious (Duran Duran), Inside Story (Grace Jones), Cosmic Thing (B52's), Your Filthy Little Mouth (David Lee Roth) e todos os clássicos eternos do Chic, aquela do hit massivo Le Freak e de tanto sucesso comercial na era de ouro da disco americana. 

Em sua carreira ele abraçou projetos teatrais, de composição e de produção, até enfrentar a maior pedreira de sua vida no segundo semestre de 2010, quando foi diagnosticado com câncer. Após o choque, ele reuniu suas forças e começou a enfrentar o agressivo tratamento, mantendo atualizado o blog Walkin' On Planet C para falar da doença e da luta pela vida em tempo real, diretamente para seus fãs. Aficcionado por novas tecnologias, ele está sempre online no Twitter e no Facebook, mantendo contato com uma legião de admiradores e fãs incondicionais, que assim ficam próximos do dia a dia do ídolo. 

Em entrevista concedida à Trip, Nile aproveitou a sua segunda vinda ao Brasil, - a primeira em 1978, e esta para um show fechado -, e falou sobre internet, tecnologia, música brasileira e sua longa batalha e caminhada pelo Planeta C.

"Esse contato direto com os fãs é fantástico. Todo o lugar que eu vou sei que vou encontrar os meus amigos e é ótimo poder contar com todas essas pessoas em um nível pessoal. É quase como uma família. Eu sempre fui fã de novas tecnologias. Mesmo na música, sempre tentei incorporar o melhor dos dois mundos, mesclando digital e analógico. E isso vale também para as redes sociais. O problema com as tecnologias é que elas não têm fim. Como no caso da música. Passamos anos e anos tentando deixar o equipamento digital com um som próximo do som verdadeiro do analógico. Quando finalmente conseguimos, todo mundo começa a ouvir MP3 e música de fone. As soluções nunca alcançam os problemas" 

"Mas o interesse em fazer o blog mesmo não veio de um interesse em redes sociais. Quando eu comecei meu tratamento, resolvi escever sobre isso especialmente porque não havia muitos homens com vontade de falar sobre sua luta, especialmente no meu caso, onde o câncer atacou na linha abaixo da cintura. Isso me motivou a falar sobre o assunto. O que me inspira todo o dia é que eu sempre posso ouvir as histórias que as pessoas me contam sobre o câncer. Sejam boas ou ruins. Eu fico em contato próximo com pessoas que dividem meu sofrimento e que mesmo assim estão dispostas a dar todo o apoio do mundo. É muito gratificante."

"Gosto de música moderna, como eu disse, mas me considero um cara à moda antiga"

De volta aos palcos depois do começo do tratamento, sentindo-se bem e pronto para as turnês, Nile voltou à ativa assim que foi liberado pelos médicos. Mesmo sendo cria de uma geração analógica, ele comenta o novo cenário influenciado pela disco music respeitando o processo criativo dos produtores de música eletrônica, enquanto tantos de seus contemporâneos seguem pela estrada inversa, rejeitando a revolução tecnológica dos estúdios de gravação.

"Eu sempre gosto de ver a música evoluindo. Considero a música que eu faço uma forma especial de R&B, baseada na necessidade de ótimos músicos para ser executada. Eu acho incrível como na música moderna as pessoas não precisam de uma banda para produzir. Eles usam samples e sintetizadores e assim imitam todas as partes necessárias para suas criações. Então uma grande parte dos artistas que eu ouço hoje são bandas formadas por no máximo duas pessoas. Isso é admirável. Para mim, seria impossível produzir uma faixa ou um disco só com duas pessoas."

Quando o assunto é música moderna do Brasil, a lenda da black music se esquiva e comenta dos grandes clássicos da nossa MPB, revelando uma admiração pelo nosso digníssimo ex-ministro da Cultura e ícone eterno de nossa cultura de raízes mais profundas, Gilberto Gil.

"Gosto de música moderna, como eu disse, mas me considero um cara à moda antiga muitas vezes. Eu adoro a música brasileira dos anos 60, por exemplo, com Tom Jobim e Caetano Veloso, que é uma pessoa com quem eu tive o enorme prazer de trabalhar. Há pouquíssimo tempo atrás eu toquei com o Gilberto Gil em um evento nas Nações Unidas, que foi um privilégio por sinal. Aliás, ele ainda está ótimo, bonito, tocando muito. Esse show que a gente fez foi inacreditável."

Para os fãs que infelizmente não conseguiram assistir ao show deste mito da música pop, ele promete voltar ao Brasil assim que possível. E quem quiser travar um contato virtual com o super produtor, não é difícil conseguir respostas gentis através de seu Twitter @nilerodgers e do seu site www.nilerodgers.com.

 

 

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