Conduzindo Miss Death

por Luiz Guedes
Trip #180

Levar as pessoas para sua “última morada” exige muita responsabilidade e destemor

 

 

O paulista Edson Fialho se considera um excelente motorista. “Nunca bati o carro e nenhum dos meus passageiros jamais reclamou”, gaba-se. “Nem voltou para reclamar depois”, emenda, seguido de um “graças a Deus” e três batidas com a mão na mesa de madeira. Com a experiência de 20 anos ao volante de carros funerários, ele já ouviu relatos o suficiente para justificar a superstição. “Histórias tem muitas, de morto que acordou no meio do cortejo a motorista que jura ter saído com a viúva depois do enterro”, conta. “Mas boa parte não passa de lenda, comigo mesmo nunca aconteceu nada fora do comum.”

Proprietário de uma funerária em Barueri (Grande São Paulo), Fialho, 53 anos, prefere não alimentar os boatos, mas revela curiosidades do ramo. “É inacreditável como as pessoas se importam com a última viagem de suas vidas. Pode esquecer a clássica Caravan preta e o Santana Quantum. Hoje, todos querem ir para o último passeio em carro de luxo [como a Toyota Hilux da foto], e pagam até 30% mais caro por isso.”

Há clientes que bancam o funeral ainda em vida, com medo de que os familiares economizem. E o automóvel é um dos detalhes mais importantes. “As pessoas chegam aqui dizendo que não querem ir de Kombi. Querem Hilux”, afirma Fialho.

Segundo o profissional, é fundamental ser bom motorista para atuar no setor. “Eu nunca bati, mas já aconteceu com funcionários meus”, revela o dono da funerária. “É uma situação embaraçosa, pois é preciso enviar outro carro e fazer a troca do caixão no meio do trânsito, o que é uma visão horrível tanto para a família que acompanha o cortejo como para quem está na rua de passagem.”

Outro requisito básico é não sentir medo do além-túmulo. “Teve um motorista que fugiu depois do terceiro dia. Não voltou nem para receber o que já tinha trabalhado”, conta. “Essa, aliás, é uma das principais dificuldades para encontrar profissionais. Mesmo entre os experientes, muitos se recusam. Se for de noite, então, esquece. Todo mundo arruma compromisso ou doença como desculpa.”

De histórias fora do comum, Fialho lembra apenas da ocasião em que um familiar reconheceu equivocadamente o corpo na hora de retirar no IML para transportar até o velório. “Chegando lá, a outra parte da família percebeu que não era o falecido. O pobre do motorista teve de voltar correndo ao IML para fazer a troca, pois a família, revoltada, queria partir para a pancadaria.”

 

CLASSIFICADOS

 

 

Rodrigo repassa sua Caravan de 1978 com dor no coração. E afirma ter feito a revitalização do carro e a manutenção preventiva há um mês. A beldade custa R$ 12.000.

 

 

A Caravan bege com interior marrom monocromático já rodou 123.000 km. A venda do automóvel acompanha manual do proprietário e sai por R$ 11.900. Tel.: (51) 3779-2242

 

 

Tiago diz que seu Omega Suprema é especial. “Demorei pra encontrar, fiz questão de um completo de fábrica, com teto solar, câmbio automático e banco de couro.” Vale R$ 20.900. Tel.: (62) 8561-6185

 

 

Herman já rodou 140.000 km com seu Omega no gás e também na gasolina. Agora passa para a frente a caranga para comprar uma filmadora quase do mesmo valor. O preço é R$ 13.000. Tel.: (11) 8788-6119

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